Os fiéis cedo se reuniram frente ao altar e, após uma extensa espera, puderam celebrar a litúrgica prestação de black metal dos polacos Batushka na sua curta passagem por Lisboa.
Não faltou incenso mas faltou reportório para saciar uma casa cheia, rendida a um álbum de estreia que é uma mais valia a um género afirmado por muitos como estagnado e com falta de exemplos criativos.
Os contornos (pouco) ortodoxos da banda, que já tinha marcado presença em Vagos neste Verão, são não só visuais como praticados na sua musicalidade e com o RCA Club perto de esgotado podemos afirmar que esta é uma formula que desperta bastante interesse para além do tradicional público dado ao mais frio e sombrio espectro metaleiro.
Ao contrário da sua última passagem pelo nosso país, este suposto super-grupo, que presa o seu anonimato, não madrugou mas também não deixou de relembrar aos repetentes a extensão do intervalo entre bandas.
Quase uma hora depois da saída de palco da banda de abertura, os Batushka ressarciram o público com uma produção e uma decoração de palco como há pouca memória na já mítica sala lisboeta.
Sem surpresa o concerto foi um desfile de Litourgya na íntegra. O álbum, que em 2015 os afirmou como uma banda a ter em conta, parece estar a envelhecer como o vinho do porto. Certo que ainda em tenra idade, não deixa de nos fazer crer, em retrospectiva, que o timing de lançamento não lhes fora totalmente benéfico perante os compatriotas MGLA a ofuscaram a excelência deste registo discográfico com a sua presença constante nas listagens de melhores do ano. Falando obviamente de toda a amplitude dos "consumidores" de música pesada.
O tom atmosférico, por vezes "doom-esco", adicionado ao coro clerical em eslavo ortodoxo (um pormenor rebuscadamente delicioso) conjuga bem com o típico tremolo picking que, no meio de explosivos blast beats, não falham em criar uma dictomia entre uma certa ansiedade no ouvinte e uma total imersão nas paredes de som.
Ao vivo a experiência tornou-se empírica: do já citado cheiro a incenso à forte componente visual, quer do vestuário da banda (encapuçados e de cara tapada com vestes que se assemelham aos do imaginário das igrejas ortoxas) passando por toda uma decoração que as vossas avós diriam ser de uma seita sinistra. E fumo. Muito fumo. Pormenores que trouxeram textura à experiência ao vivo de um álbum só por si bem lapidado e produzido como anti-tese do lo-fi dos pioneiros Noruegueses.
Sem surpresa o concerto foi um desfile de Litourgya na íntegra. O álbum, que em 2015 os afirmou como uma banda a ter em conta, parece estar a envelhecer como o vinho do porto. Certo que ainda em tenra idade, não deixa de nos fazer crer, em retrospectiva, que o timing de lançamento não lhes fora totalmente benéfico perante os compatriotas MGLA a ofuscaram a excelência deste registo discográfico com a sua presença constante nas listagens de melhores do ano. Falando obviamente de toda a amplitude dos "consumidores" de música pesada.
O tom atmosférico, por vezes "doom-esco", adicionado ao coro clerical em eslavo ortodoxo (um pormenor rebuscadamente delicioso) conjuga bem com o típico tremolo picking que, no meio de explosivos blast beats, não falham em criar uma dictomia entre uma certa ansiedade no ouvinte e uma total imersão nas paredes de som.
Ao vivo a experiência tornou-se empírica: do já citado cheiro a incenso à forte componente visual, quer do vestuário da banda (encapuçados e de cara tapada com vestes que se assemelham aos do imaginário das igrejas ortoxas) passando por toda uma decoração que as vossas avós diriam ser de uma seita sinistra. E fumo. Muito fumo. Pormenores que trouxeram textura à experiência ao vivo de um álbum só por si bem lapidado e produzido como anti-tese do lo-fi dos pioneiros Noruegueses.
Sem necessidade em haver uma referência evidentemente blasfémica, vingou apenas uma teatralidade levada com seriedade e longe do modelo de entretenimento humorístico de uns Ghost, frequentemente relembrados quando o nome Batushka vem à baila. As semelhanças ficaram-se pela despersonificação dos músicos e pelos adereços.
A banda poderá não ter agradado o metaleiro mais intransigente com o seu black metal mas pela plateia comprovou-se que é mais uma ponte criada para um género teimoso em querer se guardar para ele próprio e adverso a nomes que o mediatizam sejam eles o de uns Dimmu Borgir, Cradle of Filth ou até mesmo de uns Deafheaven com o seu cocktail misturado a shoegaze.
Não menosprezando a atitude algo punk (por vezes nihilista), que torna o black metal tão infame e musicalmente antagónico à construção convencional de temas, a pouca flexibilidade em sair dos moldes da primeira vaga e a rigidez em não sair dos parâmetros do exigente juri dos "trve" parece ter descredibilizado não só as abordagens mais acessíveis (grande parte delas com elementos sinfónicos) como tem vindo igualmente a descredibilizar as carreiras dos ícones históricos, muitos actualmente irrelevantes no que toca a fazer música nova. Esta realidade tem vindo a distanciar e desinteressar o grande público metaleiro perante este sub-género em prol de outros que nos anos 90 estariam longe de conseguir alcançar o estatuto que bandas como Mayhem, Darkthrone, Emperor e Immortal (entre outros) ajudaram a edificar.
Desta vez fugiu-se à norma e a curiosidade que moveu o público presente, numa noite de segunda-feira, surgiu então em grande parte de ouvintes de musica extrema mas de outras "praias". Algo cujo o mérito deve ser referido. Os Batushka são uma banda transversal, graças a alguma sensibilidade melódica, e à data demonstram que o seu ponto forte é exactamente esse. No entanto, para a memória futura fica um fim de semana marcado pelo contraste de um extenso concerto de Primordial no mesmo palco (com mais de duas horas de duração, cuja report podes ler AQUI) e uma sessão imersiva abruptamente interrompida ao fim de menos de uma hora.
A banda poderá não ter agradado o metaleiro mais intransigente com o seu black metal mas pela plateia comprovou-se que é mais uma ponte criada para um género teimoso em querer se guardar para ele próprio e adverso a nomes que o mediatizam sejam eles o de uns Dimmu Borgir, Cradle of Filth ou até mesmo de uns Deafheaven com o seu cocktail misturado a shoegaze.
Não menosprezando a atitude algo punk (por vezes nihilista), que torna o black metal tão infame e musicalmente antagónico à construção convencional de temas, a pouca flexibilidade em sair dos moldes da primeira vaga e a rigidez em não sair dos parâmetros do exigente juri dos "trve" parece ter descredibilizado não só as abordagens mais acessíveis (grande parte delas com elementos sinfónicos) como tem vindo igualmente a descredibilizar as carreiras dos ícones históricos, muitos actualmente irrelevantes no que toca a fazer música nova. Esta realidade tem vindo a distanciar e desinteressar o grande público metaleiro perante este sub-género em prol de outros que nos anos 90 estariam longe de conseguir alcançar o estatuto que bandas como Mayhem, Darkthrone, Emperor e Immortal (entre outros) ajudaram a edificar.
Desta vez fugiu-se à norma e a curiosidade que moveu o público presente, numa noite de segunda-feira, surgiu então em grande parte de ouvintes de musica extrema mas de outras "praias". Algo cujo o mérito deve ser referido. Os Batushka são uma banda transversal, graças a alguma sensibilidade melódica, e à data demonstram que o seu ponto forte é exactamente esse. No entanto, para a memória futura fica um fim de semana marcado pelo contraste de um extenso concerto de Primordial no mesmo palco (com mais de duas horas de duração, cuja report podes ler AQUI) e uma sessão imersiva abruptamente interrompida ao fim de menos de uma hora.
Infelizmente a fórmula dos Batushka não aparenta ter espaço para grandes cartas na manga que nos possam surpreender no hipotético segundo álbum. A diferenciação que demonstraram com Liturgya será igualmente uma cruz a carregar e com pouco espaço de manobra para criar algo com o mesmo impacto.
Todavia, necessitam de preencher um pouco mais a setlist para que possamos desfrutar, um dia que voltem, das 8 cordas de uma guitarra frenética, do tom clerical de um vocalista exímio e intimidante e, especialmente, vibrarmos com a bateria que nem mesmo escondida no fundo do palco pecou em lançar vagas de som apocalípticas.
Em grande nível estiveram os nossos portugueses Gaerea que provaram em palco o porquê de serem um dos projectos mais interessantes da actualidade no metal nacional, tendo a sua prestação sido menos linear que a do headliner e sendo, igualmente aptos na arte de criarem riffs perfurantemente orelhudos.
Unsettling Whispers é um álbum que merece juntar-se às vossas coleçōes e ao vivo é um concerto que merece a vossa total atenção pois a sua densidade e complexidade não serão necessariamente de encaixe imediato mas o esforço é facilmente recompensado. As secções mid-tempo alcançaram excelentes resultados ao vivo tendo nos feito mergulhar numa piscina de negrume espesso.
Por outro lado os fast-tempo foram arrebatadoramente caóticos, na sua medida muito peculiar que, sem reinventar a roda, demonstraram ambição e capacidade em se distinguir do resto do catálogo. A banda em palco demonstrou-se irrepreensível e visivelmente confortável com o seu trabalho.
A música fez o resto. O grande número de pessoas que pontualmente às 20h:30 já se encontravam frente ao palco foi ressarcido da forma que certamente desejaram.
Texto: Tiago Queirós
Fotos: Nuno Santos (todas as fotos AQUI)
Unsettling Whispers é um álbum que merece juntar-se às vossas coleçōes e ao vivo é um concerto que merece a vossa total atenção pois a sua densidade e complexidade não serão necessariamente de encaixe imediato mas o esforço é facilmente recompensado. As secções mid-tempo alcançaram excelentes resultados ao vivo tendo nos feito mergulhar numa piscina de negrume espesso.
Por outro lado os fast-tempo foram arrebatadoramente caóticos, na sua medida muito peculiar que, sem reinventar a roda, demonstraram ambição e capacidade em se distinguir do resto do catálogo. A banda em palco demonstrou-se irrepreensível e visivelmente confortável com o seu trabalho.
A música fez o resto. O grande número de pessoas que pontualmente às 20h:30 já se encontravam frente ao palco foi ressarcido da forma que certamente desejaram.
Texto: Tiago Queirós
Fotos: Nuno Santos (todas as fotos AQUI)
Agradecimentos: Amazing Events