18 de Julho: Korn, Fear Factory, Behemoth, Moonspell, Danko Jones, Dark Funeral, Heaven Shall Burn, Merauder, Ne Obliviscaris, Skindred, No Turning Back, Dawn of the Maya, Carnifex, Monuments, Borderlands, Strung Out, Der Weg einer Freiheit, In Mute
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O terceiro e último dia de festival começou ao som dos portugueses Borderlands e como a SFTD Radio não podia faltar, reforçámos no pequeno almoço e bem cedo entrámos no recinto de festival. Rapidamente constatámos que a noite fora longa para a maioria dos festivaleiros. A nossa, por exemplo, durou até às seis da manhã pelo que compreendemos a fraca aderência nas primeiras horas de concertos. De qualquer forma, às 14h assistimos na primeira pessoa a um dos marcos na carreira dos jovens lisboetas. O seu metalcore denota claras referências do séc XXI, principalmente ao nível das guitarras com técnicas de tapping matemáticas, algo que demonstraram em grande nível. O que não têm em experiência têm em talento. Os pormenores mais hardcore fizeram-se sentir em breakdowns sólidos, ao género de uns Parkway Drive, para agrado das poucas dezenas de fãs que marcaram presença sob a torreira do sol. A língua que predominou foi o português, uma atitude a ser valorizada. O apoio nestes momentos é essencial e por vezes é o maior dos empurrões.
O cancelamento da Tour dos Providence, que passaria no dia anterior pelo RCA Club em Lisboa, ditou o único intervalo entre concertos que tivemos em três dias. Assim sendo, não passámos do Chaos Stage e assistimos ao concerto do nome mais difícil de pronunciar de todo o cartaz. Der Weg Einer Freiheit, vieram da Alemanha para nos brindar com um Black Metal denso que tanto assombrou com momentos mais doom e cavernosos como fez abanar o espírito com tormentosas vagas destrutivas. O calor abrasador deu demasiada cor a um concerto que se queria frio.
O palco principal foi estreado, neste terceiro dia, pelos ingleses Monuments, agora com Chris Barretto. O vocalista com visual semelhante ao ex-benfiquista Witsel ficou conhecido em tempos pela sua passagem pelos Periphery, uma referência do Djent e que cancelaram a actuação nesta edição do Resurrection Fest. Com bem mais gente a constante interação deu bastantes frutos. Não durou muito a conseguirem centenas aos saltos de forma contínua, queimando calorias a par de uma sessão de crossfit. Também bastante intensa fora a prestação dos Carnifex que, com o seu deathcore apocalíptico e demolidor, conquistaram o público jovem mais extremo. Pegaram na violência sonora do Brutal Death Metal e do Grindcore, dois géneros que em larga medida contribuíram para o que consideramos extremo hoje em dia, e adicionaram breakdowns que deram magnitude às suas músicas.
Pelo meio, no Chaos Stage já se faziam sentir os efeitos de um dia dedicado às cores mais sombrias do espectro metaleiro, do Black ao Gothic assim como o mais escuro Death Metal. No entanto duas foram as excepções à regra : primeiro os valencianos In Mute que, ainda sem grande visibilidade, deram tudo com a sua vocalista, bem metaleira, a espelhar a vontade de romper no metal espanhol. As comparações com Arch Enemy justificam-se para lá de tendências machistas sendo claramente invocados nas suas composições. Um Melodic Death Metal pouco rebuscado e inserido de foram perfeita num dia que poderia não lhes ser favorável. Depois com os Syberia a quebra de ritmo foi levada ao exagero. No mesmo registo de post-rock instrumental, a par do que tínhamos visto com os Jardin de la Croix e Toundra. Paisagens sonoras de grande beleza mas completamente fora de contexto.
Rumando ao Rituals comprovámos o estatuto dos Dawn of the Maya em Espanha. Lançados de Pamplona ao ritmo dos seus touros e jogando relativamente em casa, tiveram pela frente a primeira grande enchente da tenda. Não seria de admirar ver um dia reconhecidas influências nos nossos More Than a Thousand (com quem já partilharam palco). Os coros melódicos que volta e meia intervalaram os temas criaram paisagens bastante semelhantes às que estamos habituados nos concertos dos nossos ícones do metalcore. Mais tarde a procura verificada para a sessão de autógrafos sublinhou o seu mediatismo.
Bem mais "verdadeiro", com o seu som cru, força na mensagem e sem desperdício de energias em criar música overproduce, os No Turning Back tiveram mais uma vez em grande. A entrega dos holandeses não é uma novidade e é, até mesmo, o seu cartão de visita nos dias que correm. A banda de hardcore estrangeira mais portuguesa que há memória busca os mesmos trunfos que os For The Glory a nível nacional: o hardcore como meio de expressão e de difusão de ideias; o carácter interventivo e discursivo; a sinergia criada ao vivo; o puro DIY que cria lendas do underground hà décadas. Com um público rendido só poderia ser melhor se tivesse piscina..
Uma das grandes surpresas desta edição foi proporcionada por um wildcard : Skindred. Chamados a actuar no palco principal, os britânicos do País de Gales não cederam à pressão deixada pelos nomes sonantes que por ali iam passado. Longe de terem marcado a história do Nu Metal, são hoje em dia uma banda para memórias rebuscadas e de pouco interesse aparente. O reggae não é por norma um género muito acarinhado pelo público metaleiro e o do hardcore tem mais afinidade com o Hip-Hop ou com o Dub Step/ Drum'n'bass. No entanto, Benji Webbe com todo o seu carisma em palco, conseguiu captar a atenção de todos. O dancehall misturado com uns tantos riffs tornou-se contagiante. Um momento de pura descontração, sem pretensiosismos e de pura humildade. As t-shirts no ar deixaram bem claro os níveis de satisfação. O vocalista candidatou-se não só ao Oscar de Melhor showman, como de performer e mestre de cerimónias!
Em pleno contraste com o concerto dos Skindred, os Ne Obliviscaris deixaram a música falar por si, como se espera dos australianos. O choque entre os clean vocals, do também violoncelista Tim Charles, com os guturais incisivos de Xenoyr assemelham-se ao romantismo de "A Bela e o Monstro". As linhas rítmicas bastante harmoniosas foram, volta e meia, corrompidas por detalhes de Death (e por vezes espirituais ao nível do Black Metal) . Donos de um sentido de musicalidade bastante apurada, não cederam à falta do baixista (houve um desvio de bagagem no aeroporto), e conseguiram criar uma aura de sentimentos à flor da pele. Desde God is an Astronaut, com o seu post-rock, que não tínhamos assistido a um concerto com tamanha eficácia na arte de alcançar momentos de introspecção no público. A música dos Australianos, ao vivo, tornou-se algo pessoal e singular. Todos ouvimos, mas cada um à sua maneira, como na obra de Platão: projectando as sombras ou alcançando o iluminado conhecimento. Os Ne Obliviscaris vão, seguramente, proporcionar um dos melhores momentos do Vagos Open Air 2015 e o seu potencial pode vir a roçar os níveis de pura magia que os Opeth pecaram em alcançar no ano passado. Dizem que a beleza está nos olhos de quem vê. Eu digo que está nos ouvidos de quem escuta, convicto que os nossos metaleiros saberão tirar proveito de cada momento deste tipo de metal, bem dramático, progressivo e cheio de camadas distintas.
Heaven shall burn
No ano passado cruzámo-nos com os Caliban na tenda Rituals. Assistimos de perto aos seus famosos circle pits e às movimentações frenéticas da multidão. Este ano assistimos a um final de tarde, no palco principal, ao som dos "irmãos" Heaven Shall Burn, que irão marcar presença no Vagos Open Air passados já 15 anos.
A dimensão destes rapazes é maior que os conterrâneos já referidos e o mito tornou-se proporcional. Se havia uma banda realmente explosiva no último dia de festival, era esta.
Os alemães são um ícone maior desse híbrido a que chamamos de Metalcore, muito próximo do Deathcore , foram em vários aspectos mais consistentes que os Suicide Silence que tínhamos assistido no primeiro dia.
"Counterweight" foi o primeiro chamamento e de resultados claros e evidentes com vários milhares frente ao palco.
Veto, o último álbum da banda, não fora a bandeira da sua actuação mas não faltaram "Land of the Upright One" e "Like Gods Among Mortals" que foi a escolha para encerrar um concerto que fez as delícias dos mais hiperactivos.
Pelo meio relembraram os suecos Edge of Sanity com uma cover de "Black Tears" mas fora "Endzeit" o tema mais aplaudido com direito a um Wall of Death que entra para a história como o primeiro gravado em 360º (disponível num YouTube perto de si).
Falando de história... O que os Caliban não conseguiram em 2014, os Heaven Shall Burn excederam e de forma incrível tornando-se detentores do record de maior Circle Pit de um festival que conta já com 10 edições. A roda da adrenalina (com epicentro na zona dedicada aos técnicos de som) só precisava do tartan para poder ser considerada olímpica. Quando fizerem a mala para Vagos lembrem-se de trazes uns bons ténis de corrida. Vão precisar.
Innfelizmente não pudemos usufruir a 100% o concerto porque na tenda Rituals também se encontrava um nome forte, que tinha passado no dia anterior por Lisboa (RCA CLUB). Os Merauder podem não ter ficado para a história ao mesmo patamar que Biohazard ou Cro-Mags mas ainda são um nome que faz vibrar quem fora directamente influenciado por toda a cena NYHC ou Crossover. Os norte-americanos são fruto do seu tempo, quando a linha entre o hardcore e o metal estava mais estreita do que nunca e sem levar a gritaria ao exagero desnecessário. Dureza. Foi assim que foi sendo descrito o concerto em que Jorge Rosado não deu tréguas de microfone na mão, saltitando entre o palco e a plateia. No moshpit leu-se entrelinhas "reservado à velha guarda". "Master Killer" e "Time Ends" fizeram-nos voltar 20 anos até 1995. De longe, um dos melhores concertos que o público mais dado ao hardcore possa ter assistido na 10ª edição do Resurrection Fest.
MOONSPELL
Depois do concerto frenético dos alemães, a fasquia não estaria baixa para nenhuma banda. Coube aos nossos conterrâneos Moonspell a difícil tarefa de com o seu tom gótico mais dramático conquistarem um público ainda com a ticardia gerada pelo circle pit. Se momentos antes tinham estado próximos dos fãs numa atitude mais relaxada, ao entrarem em palco tudo isso mudou. São mais de vinte anos a levar tudo muito seriamente e o profissionalismo torna-se evidente. Ser a maior banda de metal nacional traz encargos e gera expectativas às quais por norma não falham.
Em quase todos os concertos que vimos ao longo dos três dias, a maioria cedeu a formatos seguros (com setlists amplamente reconhecíveis), mas este não fora o caso.
Em Alhandra, na última passagem por Portugal, o quinteto apresentou a fundo Extinct (tendo estreado um tema inclusive) mas não pecou no encaixe com temas chave de uma discografia como "Finisterra", "Awake", Vampiria" ou "Everything Invaded".
Pelo meio a passagem por Moscovo deve ter tido a sua cota de aventura mas com tanto público português pela frente esperávamos um concerto que deixasse os espanhóis de queixo caído. Optaram antes por dar seguimento a uma tour que se foca no novo álbum, com Fernando Ribeiro a encantar com os seus vocais limpos e Ricardo Amorim a demonstrar a forma como influenciou a sonoridade da mais recente obra discográfica da banda.
"Breathe (Until We Are No More)" rompeu a introdução com o teclado à la Iron Maiden de finais dos anos 80 (Seventh Son of a Seventh Son).
Com o "portunhol" assumido, que tanto nos foi safando ao longo destes dias, o carismático vocalista puxou pelo público que aos poucos foi-se rendendo. Aqui entre nós, foi graças os portugueses nas primeiras filas que o feedback lá foi melhorando.
Seguiu-se o mais recente single, "Extinct" e o peso de "Night Eternal" mas foi com "Opium", do já clássico Irreligious, que tiveram direito a reações mais entusiasmantes. Citou-se Fernando Pessoa, em alto e bom som, ficando espelhada a surpresa na cara de muitos espanhóis e franceses no palco Chaos. A língua de Camões esteve bem presente com "Em Nome do Medo" que é já obrigatória no seu repertório. Só faltou o Rui Sidónio.
"Last of Us" e a menos provável "Medusalem" foram os restantes temas que deliciaram os fãs mais aguerridos, premiando-os com mais uma oportunidade de ver ao vivo este novo capítulo dos Moonspell (são ainda raras). A outra face da moeda, a de quem ainda não tinha entrado em contacto com esta realidade mais ligeira e catchy, ditou um certo desinteresse.
Um concerto cheio de contrastes entre a multidão, passando ao lado de muitos e vivido ao máximo por outros tantos.
Wolfheart fora relembrado como sendo um marco na sua carreira e uma referência pelo mundo. "Alma Mater" virou costas ao mundo e conquistou o pico de todo o concerto. Previsivelmente, "Full Moon Madness", o clássico em tom de seita, fechou uma actuação curta e com alguns problemas técnicos.
No fim ficou um sabor agridoce. Em Portugal teríamos um critério menos apertado mas ali esperaríamos algo com mais peso ou que se identificasse melhor com o contexto de festival. "Ataegina" tinha tudo para ser um dos melhores momentos do dia, mas agora não passa do plano da especulação.
Danko Jones
Sabemos que estamos perante um músico que realmente gosta daquilo que faz quando este, passados tantos anos a saltar de palco em palco, sabe enumerar de cor o cartaz do festival onde está a tocar. Aparentemente é fã de tudo o que mexa.
E então as memórias do Optimus Alive 2012 vieram à cabeça: já dessa vez tinha lançado essa cartada! Cheio de truques... Só poderíamos falar do Sr. Danko Jones, cujo o nome baptiza todo o power trio que faz do rock espetáculo o seu ganha pão.
Sempre muito comunicativo, não cedeu um centímetro na missão de captar para si todas as atenções. Um furacão de palco que funciona sempre. Os sorrisos foram por conta da casa e nem os ResuKids ficaram imunes dando cor ao certame mais divertido do dia.
Dark Funeral
Numa linha bem distante, em todos os aspectos possíveis e imagináveis, os Dark Funeral, como a maior banda de Black Metal desta edição fizeram arrefecer a temperatura com a sua postura mórbida e distante. O exacto oposto do que momentos antes nos entreteve no palco principal.
Sem contarem com a parafernália pirotécnica que os Watain trouxeram no ano anterior e evitando o sol brilhante que arrasou os Der Weg Einer Freiheit horas antes, os suecos não pouparam nas blasfémias, nos espigões nem nas pinturas faciais que fazem deles uma banda visualmente forte. De resto, nunca foram uma banda propriamente unânime dentro do Black metal, sendo uma das críticas recorrentes a falta de originalidade (e os homens já nem arriscam ir para o estúdio há algum tempo).
Sem grande competição de uns históricos Mayhem ou de uns pioneiros Venom, o concerto até fora extremamente positivo pelo exotismo que revelou no meio daquele cartaz.
Strung Out
O punk rock suave dos Strung Out na tenda fazia sentido no enquadramento do que a programação tinha em destaque para o palco Rituals com Satanic Surfers como nome maior. Ambos distantes das sonoridades que a SFTD Radio costuma lidar. Do pouco que assistimos antes de marcarmos lugar do outro lado do recinto podemos apenas constatar que à mesma hora em dias anteriores, a tenda estava longe do vazio algo constrangedor que verificámos. Nós apenas seguimos a romaria.
Korn
Passadas quase 10 horas desde o momento em que entrámos no recinto, finalmente estava na hora do terceiro e último Headliner do palco principal em 2015.
Desde 2008 (Pavilhão Atlântico) que não nos cruzávamos com a banda de Jonathan Davis e a verdade é que já tínhamos algumas saudades.
Pelo meio houve toda uma fase crítica, que muitos desculpabilizaram como dinâmica criativa e, de igual forma, outros chamaram de tiro ao lado...
Numa fase em que se antecipa um futuro álbum com mais do passado distante que do recente, nada como relembrar o peso que em 1994 lhes reconheceu o rótulo pioneiro de Nu Metal. Assim sendo, esta tour foi dedicada ao primeiro e homónimo álbum , Korn, que introduziu toda uma geração Y à sonoridade que premiou nomes como Deftones, Slipknot e System of a Down.
O género em si é hoje um livro de memórias. Quem sobreviveu foi porque conseguiu, de alguma forma, envelhecer e adaptar-se aos tempos, como a banda de Chino Moreno, mas esses são os casos raros.
A pergunta à partida era simples: será uma banda de Nu-Metal, com o estatuto dos Korn, ainda capaz de preencher as expectativas que se guardam para um cabeça de cartaz?
Escolher um álbum e tocá-lo na íntegra pode ser visto como algo de positivo para os fãs, que desta forma tem oportunidade de assistirem ao vivo temas mais raros. Por outro lado, também pode ser interpretado como saudosismo e facilitismo. Uma coisa é certa, poder fazer tamanha jogada é algo exclusivo a quem tenha um trunfo capaz.
No Rock in Rio Lisboa os Metallica tocaram Black Album na íntegra mas numa ordem regressiva, terminando a sequência com o single chave "Enter Sandman". Os Korn não.
"Are You Ready?"... Foi assim que se dirigiram pela primeira vez ao público e num ápice este deu de si. "Blind" é, ainda hoje, a arma mais letal da discografia dos norte-americanos e rapidamente tal se comprovou. O tiro de partida foi também o pico de todo o concerto. Um trunfo demasiado importante para ser jogado na primeira ronda, ainda por cima, quando toda a gente sabe em antemão o que terá pela frente, eliminando o efeito surpresa.
20 anos depois, não é unânime que o álbum Korn seja um álbum obrigatório. Não é amplamente reconhecido, nem foi daqui que saírem os singles de maior sucesso. Até mesmo ao nível "energético" não é sucedâneo às setlists best of que nos habituaram nas 6 ou 7 passagens por Portugal.
"Ball Tongue", "Clown" e "Faget" foram alguns dos melhores momentos, mas longe de captarem o interesse da multidão como outrora alcançaram com "Right Now", "Y'all Wanna Single" ou "A.D.I.D.A.S.". A actuação teve um pouco mais de brilho com "Shoots and Ladders", com JD de gaita de foles debaixo do braço na conhecida introdução para a lengalenga que faz as delícias dos fãs.
De notar que a forma em palco, principalmente do famoso frontman, não foi tão deficitária como se temeu. O esforço físico que por vezes ignoramos nos nossos rockstars tem, por vezes, facturas elevadas mas desta vez não aparentou ser o caso e muito contribuiu para amenizar um concerto longe das melhores memórias ( SBSR 2004?).
Uma cara obrigatória do imaginário Korn é a do guitarrista Brian "Head" Welch, que está de volta para agrado geral, juntando-se a "Munky", compondo a dupla clássica. É certo que tal notícia data de 2013, mas esta fora a primeira oportunidade que tivemos de ver de perto este retorno tão desejado. Não ficámos desiludidos: se aos 25 tinham estilo, aos 45 têm classe.
Quem à partida teria a maior probabilidade de brilhar a nível musical era Fieldy. As linhas de Baixo são determinantes na sonoridade criada neste álbum em concreto e a técnica que usa é visualmente forte: a mesma que projectou o estatuto de Flea, por exemplo, mas com um peso gravitação superior graças à escolha de afinação. Não falhou.
O encore final, uma raridade como já referimos, foi o que mais proveitos trouxe. Três temas apenas chegaram para reactivar o interesse de grande parte da plateia que se sentiram ressarcidos depois de quase uma hora de pura formalidade. "Falling Away From Me", um dos temas fortes do rock de fim de milénio, à primeira nota fez surtir mais efeitos que meio litro de Monster Energy. Os coros voltaram a não ser exclusivos dos fãs mais aguerridos e "Here to Stay" trouxe um pouco mais de peso antes da cereja no topo do bolo: a obrigatória "Freak on the Leash".
Korn, o álbum, foi aplaudido pela crítica na altura e criou todo um género posteriormente. É um registo histórico no mundo da música pesada (sem ele talvez Roots nunca visse a luz do dia, muito menos Soulfly, entre diversos exemplos), dando início a um período que teve tanto de intenso como de controverso. Impossível de se repetir. Por isso, é mais do que legítimo celebrá-lo desta forma. O verdadeiro fã saiu com o brilho nos olhos, os que em determinada altura rumaram por caminhos distintos aos da banda não deixaram de sentir a nostalgia. Os Korn que assistimos no Resurrection Fest, com uma setlist mais forte, tinham tudo para saírem em ombros desta arena da música pesada.
De lamentar foi a atitude da segurança frente ao palco que, ao contrário da conduta de mérito que demonstraram ao longo dos 3 dias, optaram por uma postura violenta e instigadora de conflito. Algo completamente desnecessário, mesmo perante a grande quantidade de mergulhadores que tentavam a sorte no crowdsurf. O combate aos excessos raramente é produtivo com o respostas descontextualizadas e desproporcionais.
Behemoth
Estando já visto o headliner, o público começou a ganhar noção da recta final.
O show épico que Nergal e companhia proporcionaram em Vagos deixou-nos com as expectativas altas. O último álbum fez ressurgir a banda como uma força incrível. O público mantém o queixo caído e a Nuclear Blast tem razões para esfregar as mãos.
A dimensão da banda, quer sonora como na forma como preenchem o palco, é perfeita.
Em Viveiro, pouco menos de um ano depois, reencontrámo-nos com os Behemoth no encerramento do palco Chaos. A forma fora diferenciada mas contextualizada: um nível de eficácia invejável e uma qualidade técnica de puro talento. A leitura que fizeram do público, como vocalista/guitarrista mais solto, dinâmico e bastante teatral - encorporando a personna de forma ultra-realista - ditou o que pode vir a ser considerado o melhor concerto de 2015 no Resurrection Fest.
Abriram com "Blow Your Trumpets Gabriel", um tema fortíssimo na sua composição e que agarrou o público às primeiras "badaladas" do pedal da bateria. "Ora Pro Nobis Lucifer" de seguida fez crer que tínhamos pela frente mais uma apresentação de The Satanist mas tal não se verificou até ao último tema.
O resto pode ser descrito como uma pequena viagem pela discografia dos polacos que, melhor do que ninguém, conseguiram adaptar o seu outrora Black Metal ao mais criativo Death Metal tornando naquilo que chamamos de Blackened. Uma ode à música pesada.
"O Father O Satan O Sun" fechou o Palco Chaos de forma anti-clerical, e catedraticamente obscura. Nergal e companhia provaram ser o fruto proibido. Ele, o verdadeiro Anti-Christ Superstar que não precisou de morrer para ressuscitar. Nós? Nós ficámos repletos de demónios... Pecar assim, é fácil.
Fear Factory
Deixar Fear Factory para o fim foi uma decisão iluminada da organização. O ritmo industrial catalisou os milhares de resistentes que fizeram daquele espaço uma rave.
Sem precisarem de um Big Beat ao estilo Prodigy, a banda de Dino Cazares e Burton Bell foi recebida de braços abertos por uma multidão que parece vibrar mais do que nunca com a luta homem vs máquina que estes rapazes nos propõem faz anos.
Por esta altura já todos estamos a par da data marcada em Lisboa no próximo mês de novembro e o que a Songs for the Deaf Radio pode já adiantar é que eles estão numa forma incrível.
Se por cá iremos relembrar Demanufacture, outro álbum com já duas décadas em cima, lá tivemos oportunidade de viajar pela futurista, e quase robótica, carreira desta fábrica de medos.
Começando com "Shock" e "Edgecrusher" adiaram qualquer tipo de descanso. O sprint final já tinha a linha da meta visível no horizonte.
"Smasher/Devourer" deu continuidade ao tiro de partida com o álbum Obsolete, mas é com "Powershifter" que voltámos a ser metralhados.
Aproveitaram para apresentar dois novos temas, "Protomech" e "SoulHacker", deixando-nos a salivar. Vem lá coisa boa...
Um pouco de Mechanize, Digimortal e Soul of a New Machine mas deixando claro que a recta final pertencia à já referido Demanufacture. "Replica" ainda contagia e "Zero Signal" fez levantar a última nuvem de pó frente ao palco principal. Uma despedida em grande.
Conclusão
Os Everlongs homenagearam de forma curta e ineficaz os Foo Fighters e os Blaze Out nao fascinaram com os seus medleys confusos de Metallica e Iron Maiden. Mesmo assim custou arredar pé... Para a história fica mais uma edição cheia de memórias fortes, de grandes momentos musicais e artísticos.
O primeiro dia não teve um headliner incontestável, nem Refused nem Black Label Society o foram, o que nos leva a crer que tanto Anthrax como Mastodon deveriam ter sido as escolhas para preencher esta vaga. Dois nomes maiores que quem sabe não foram simplesmente adiados...
Ao fim de 10 edições, o Resurrection Fest está mais próximo do Hellfest francês do que do seu próprio ponto de partida. O crescimento é visível e a factura é paga nos momentos em que se tem de optar entre palcos, algo que sempre souberam evitar.
A novidade da Zona Pandemonium, uma espécie de zona Vip paga, não merece ser repetida. Não ofereceu regalias suficientes que justificassem a procura do público. Por outro lado, as apresentações de Moto Trial deram uma dinâmica que merece ser repetida e multiplicada para outras vertentes.
Este ano desapareceram os famosos "bocadillos" (sandes de tudo e mais alguma coisa) das vendas ambulantes fixadas fora de recinto, no entanto continuam a saber fugir às grandes cadeias de fast-food dando a conhecer novos sabores. Por cá temos as bifanas, os hambúrgueres e os cachorros... Viva a diversidade de escolhas!
Desta vez o microclima da zona recebeu-nos de forma abrasante e em pleno contraste com o dilúvio da edição anterior o que nos permitiu ficar a conhecer um pouco mais Viveiro - é de facto uma região lindíssima e digna dos melhores elogios.
Ainda agora chegamos de viagem, e as saudades já apertam.
O Resurrection Fest 2015, que nos recebeu da melhor forma, continua no rumo certo para se tornar uma espécie de Meca da música pesada.
Pelo número de portugueses que a Songs for the Deaf Radio foi-se cruzando, não restam dúvidas: quem já tinha ido ficou fidelizado, quem se estreou já não quer outra coisa.
Da nossa parte o countdown já começou. Até para o ano Resurrection!!
Fotos: Nuno Santos (Todas as fotos aqui: Dia 1 | Dia 2 | Dia 3 )
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Texto: Tiago QueirósFotos: Nuno Santos (Todas as fotos aqui: Dia 1 | Dia 2 | Dia 3 )