Na passada sexta-feira, 6 de Fevereiro, o RCA Club foi o local escolhido para a
passagem por Lisboa, da Splinters Over
Iberia Tour, protagonizada pela super banda britânica Vallenfyre, acompanhada pelos catalães FOSCOR, em mais um evento promovido pela Prime Artists.
Entorpecidos pelo frio de uma das noites mais
geladas deste Inverno, surpreendemo-nos com a assistência numerosa que,
corajosamente, quis estar presente na estreia de Vallenfyre em Portugal, num evento que se revelaria, também ele,
surpreendente.
Quando às 21h, pontuais, os FOSCOR iniciaram a sua atuação, com Whirl of Dread, percebemos que se
tratava de um concerto com características únicas. A banda catalã, formada em
1997, apresentou temas do seu último álbum, Those
Horrors Wither, intercalando temas dos dois álbuns anteriores, demonstrando,
de forma admirável, o estado de maturação de uma sonoridade invulgar, que
mantém o público refém e o transporta a seu bel-prazer, através das variações
rítmicas e das alternâncias entre o registo gutural e limpo da voz de J.F. Fiar.
Terminado o primeiro tema e depois de ter
cumprimentado o público, Fiar informou que o guitarrista e compositor da banda,
Falke, estava a ser substituído por Chiri López, dos Humash. Ouvimos, então, temas do novo álbum, enquanto a
assistência, ainda pouco numerosa, foi aumentando aos poucos. Destacamos Senescencia, em catalão, talvez inesperada para um público que nos
pareceu surpreendido, mas também convencido pela combinação, brilhante, de momentos
de andamento rápido e plenos de distorção, com outros, mais lentos, acompanhados
de voz limpa.
Quanto aos temas pertencentes aos dois álbuns
anteriores, com ritmo mais rápido e sonoridade mais pesada, permitiram conhecer
fases diferentes do percurso da banda, o que contribuiu para manter o interesse
ao longo de toda a atuação. Ao chegar à faixa-título do novo álbum, Those Horrors Wither, já o estilo da
banda se entranhara no ouvido e, por fim, terminada a apresentação do single Graceful Pandora (último tema da setlist), o público permaneceu por instantes, diante do palco, à espera de
algo mais que não aconteceu.
Inovadores, FOSCOR apresentaram a escuridão (“foscor”, em catalão) típica do dark metal mas inserida num ambiente
único, quase emotivo, inebriante e capaz de desligar as mentes mais agitadas. É
dark metal, sim, mas de Barcelona.
Vallenfyre cumpriram a
pontualidade britânica e subiram ao
palco numa sala já aquecida e bem composta por um público numeroso que os
aguardava ansiosamente. Para a primeira atuação em Portugal, escolheram uma setlist que juntou temas do primeiro
álbum, The Fragile King (2011) e do segundo álbum, Splinters (2014), para além da
faixa-título do EP Desecration (2011).
Começando com Scabs, do álbum mais recente, esta super-banda, composta por
elementos de outras bandas bem conhecidas (Paradise
Lost, My Dying Bride, Extinction of Mankind, Doom,
entre outras) conseguiu rapidamente conquistar a assistência, que se
mostrou completamente rendida logo no final de Odious Bliss, também do novo álbum. O entusiasmo dos aplausos foi,
ao longo de toda a atuação, a resposta ao incentivo constante do vocalista Greg Mackintosh (guitarrista de Paradise Lost) e ao som poderoso do death metal devastador com que encheram
o RCA Club que, aliás, vem sendo, cada vez mais, uma sala de referência
para eventos deste género.
Em Cathedrals
of Dread e A Thousand Martyrs (A
Fragile King, 2011,) Greg Mackintosh
demonstrou que o seu talento como vocalista não fica a perder para os seus
dotes de guitarrista. Avisou logo que até podia ficar sem voz, mas que seria
por uma boa causa, e foi com esta motivação que soltou uns guturais
surpreendentes, capazes de fazer tremer a sala.
Esperávamos ansiosamente por Bereft (Splinters, 2014), tema que se diferencia neste novo álbum, por
apresentar uma sonoridade funeral doom que interrompe, admiravelmente, o ritmo
imposto pelos restantes temas. Não
nos desiludiu a sua apresentação ao vivo,
durante a qual estremecemos ao som dos
riffs arrastados e carregados de peso, numa composição mais longa que as
restantes, e na qual a melodia assume um lugar de destaque. Resultou de forma
brilhante a influência das bandas de doom
a que pertencem alguns dos elementos (Paradise
Lost, My Dying Bride) e que, decerto, está presente neste tema.
Em seguida, Instinct
Slaughter, curta e sem tréguas, acordou-nos do torpor em
que nos deixou Bereft e foi assim, subjugados
pela intensidade da atuação, que continuámos a assistir ao concerto, que também
primou pela comunicação descontraída entre a banda e o público. Greg Mackintosh fez questão de manter o
diálogo com a assistência entre cada tema, questionando-o sobre o concerto,
fazendo comentários vários e, também, maldizendo o tempo frio e chuvoso que lhe
tinha cabido em sorte na sua passagem por Lisboa. E a propósito do mau tempo,
dedicou-lhe The Grim Irony, cujo som
devastador assentou na perfeição.
Destacamos, por fim, a faixa-título Splinters, que surgiu com a força que
esperávamos, e que terminou com um solo impressionante do guitarrista Hamish Glencross (ex- My Dying Bride). Splinters fechou, assim, o concerto com chave de ouro, como se o
seu nome explicasse a estrutura deste álbum, composto por temas que surgem como
fragmentos do pensamento, aparentemente desligados entre si, mas com elementos
comuns, ao nível do lirismo e da sonoridade.
Despedindo-se visivelmente satisfeito e
repetindo I have to go to Porto
today!, Greg Mackintosh terminou o concerto, dando por encerrada a passagem por Lisboa da Splinters Over Iberia Tour, que prosseguiu rumo ao Hard Club, na Invicta, a sua última
paragem.
Texto: Sónia Sanches
Fotos: António Gaspar (todas as fotos no nosso facebook, aqui)
Agradecimento: Prime Artists.