Na passada sexta-feira 13 teve lugar no RCA Club em Alvalade um memorável evento de invocação ao bom rock nacional: os Low Torque lançavam nesta noite o seu 2º álbum de originais (oferecido em cada um dos bilhetes) e convidaram um notável leque de bandas para abrilhantar a noite.
Perto das 22h30, e ainda com a sala a compor-se, pudemos adivinhar já algumas silhuetas em palco, estava na hora dos Stonerust mostrarem o que valem numa pequena mas satisfatória actuação onde mostraram temas do novo EP "Nothing Left Inside" , do qual nos apresentaram as malhas "Mother Beast" e a (cantada em português) "Sujo".
Um rock bem poderoso alimentado por combustível metálico em muitos momentos, saídos da guitarra de Gabriel Ramos com a.solidez rítmica de Martin Gaspar (baixo) e Gi (na bateria). Por cima desta "ferrugenta" textura a voz não menos rugosa Bruno Vale completa a coerência da sonoridade muito própria da banda. Aposta certeira.
Logo de seguida tive a surpresa da noite, uma vez que era única banda que ainda não tinha assistido ao vivo: os Moe's Implosion apresentaram um rock explosivo e com toques psicadélico, mas de sonoridade bem mais pesada.
A voz acrescentava um tom esquizofrénico à mistura, tudo alinhavado na perfeição originado momentos brilhantes numa actuação muito bem conseguida.
Um RCA Club já bem composto deu as boas vindas aos Jackie D. que apresentaram o seu álbum de estreia "Symphonies From The City". Apesar de uma ou outra dessincronização própria de quem está a apresentar novas músicas, a garra e a frontalidade como que nos apresentaram os temas encarnaram na perfeição o espírito rock, com bons riffs e uma forte presença do carismático vocalista Rui Correia, num registo bem diferente do que apresentava nos Grankapo.
Eis então que é chegada a hora do prato principal, o motivo desta celebração rock: a apresentação do novo trabalho dos Low Torque, "Croatoan". Antes de estar aqui a falar da fortíssima prestação, ou do alinhamento escolhido, alternando temas dos dois álbuns, quero realçar o crescimento da banda. Muitas vezes nos cruzámos com os Low Torque, em eventos maiores, como no Rock no Sado, mas também em casas mais pequenas e com menos público. Poderá ser um cliché, mas estes rapazes sempre deram o seu máximo, estivessem 20 ou 200 pessoas a assistir, mostrando uma humildade e profissionalismo assinalável. Sabendo que não tinham uma grande quantidade de fãs inicialmente, conseguiram ganhá-los em cada actuação e com isso merecem todo o nosso respeito.
Havia no entanto ainda alguma incerteza inicial quanto à adesão em massa a este evento, que felizmente foi completamente desfeita assim que a banda começou a tocar. A casa estava muito bem preenchida e foi já com uma bem quente recepção que iniciaram o concerto.
Os novos temas resultam na perfeição ao vivo, e com isso temos que voltar a elogiar a banda que os tocou como se há muito fizessem parte do seu alinhamento, demonstrando que o trabalho de casa estava muito bem feito. A voz de Marco Resende era o fio condutor para o poderoso rock destilado pela guitarra (sim, era só uma, apesar de não o parecer) de André Teixeira, que com riff atrás de riff, puxou pelo headbang do metálico mais empedernido que estivesse na sala. A secção rítmica, com Miguel Rita (baixo) e o baterista Arlindo Cardoso, alicerçava todo o som de forma a que tudo funcionasse como uma máquina de precisão de uma indústria pesada. No global tivemos um rock pesado que caía para o metal em certos momentos (nas partes mais groove e pesadonas), alternado com um Southern Rock com muita poeira na venta, alimentado mais uma vez nos incansáveis riffs, licks e solos de André.
Sendo uma noite especial, foram anunciados alguns convidados especiais, como Gonçalo Kotowicz (vocalista dos The Quartet of Whoa!) para cantar "Vampires". Também o omnipresente guitarrista do RAMP/Sacred Sin/Anti-Clockwise/Secret Lie), Tó Pica, foi chamado para atacar a guitarra em "Hating Haters", assumindo o lugar do André, e ainda o vocalista dos Ashes, David Pais, em "Headstone".
Como referimos inicialmente os temas novos foram sendo intercalados com os anteriores, conferindo uma boa dinâmica à prestação, e que melhoram drasticamente a sua (anteriormente) curta setlist. Malhas como "Sasquatch", "Rougarou", "Croatoan", "Bell Witch" ou "Wendigo" tem um grande poder, e apesar de bem distintas têm uma enorme coerência entre elas, fazendo desto novo disco uma rodela obrigatória de ser ouvida.
Após quase hora e meia de concerto, a banda, visívelmente emocionada, agradeceu ao público a presença na que terá sido uma das melhores noites da sua ainda curta carreira. Felicidades malta, e obrigado pela referência nos agradecimentos (tanto no concerto como no booklet do CD) à SFTD Radio.
Texto/Vídeos: Nuno Santos
Fotos: Joana M. Carriço (todas as fotos aqui)
Videos do concerto: