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15/07/2018

[Report] Stone Sour em noite de luxo no Coliseu dos Recreios

Em 2004 o mesmo festival que hoje acolhe nomes como Bruno Mars e The Killers acolheu um dos momentos mais insanos que muitos de nós guardamos na memória.
É certo que nas passagens anteriores já tinha sido selvático mas aquele por do sol ao som de Slipknot no parque da Bela Vista, com a nuvem de pó que pairou no ar sem cessar, será um capítulo para sempre guardado na história da música pesada em Portugal.


Mestres em criar injecções de adrenalina e sempre com uma atitude in your face tão dura como o som que praticavam, os Slipknot eram por essa altura a banda que mais fazia vibrar os metaleiros que não fecharam totalmente a porta ao infame Nu-Metal.

Quatorze anos depois Corey Taylor, a voz demolidora da banda de Iowa apresentou-se num Coliseu dos Recreios de calcinha branca e blazer, com um sorriso de orelha a orelha e com uma simpatia inegável e contagiante.


O regresso dos Stone Sour a Portugal tardou e no entretanto muito mudou quer no aumento do factor "catchiness" dos singles face aos primeiros dois álbuns quer no público que hoje segue a banda.
No entanto, o que para uns poderá ser um divórcio, para outros é uma porta aberta ao mundo da música pesada e no Coliseu provaram ser actualmente a melhor delas todas.
Stone Sour ao fim de seis álbuns deixaram de ser a "outra banda" e nós comprovámos isso mesmo, na passada quarta-feira, com uma setlist cantada do início ao fim por um público entregue desde o primeiro momento.

Em 2007, no saudoso Parque Tejo em pleno Super Bock Super Rock, Come What(ever) May era apresentado de forma tão crua que assistir a Joe Satriani a seguir (que tinha ficado com o slot anterior a Metallica) se tornou algo de muito complicado...
Onze anos passados, a grande diferença para esse dia passa pela forma como os seus fãs aderiram mais ao som polido, e de vocais limpos, do que ao som rasgado e de vocais fortes que servia de co-relação com a banda dos "9 palhaços".
Esse capítulo de limbo está já fechado há algum tempo mas o teste português tardou em acontecer. No entanto a nota é positiva. Notoriamente positiva.

De facto, os Stone Sour sabem perfeitamente o que compor para fazer vibrar plateias maioritariamente compostas por adolescentes e jovens adultos que não são necessariamente consumidores ávidos dos sub géneros musicais mais extremos ou que estão a dar os primeiros passos nesse sentido.
Todavia, a fórmula é igualmente apta a cativar muito metaleiro. Easy listening? Sim, e por vezes é exactamente isso que se quer.


Pontualmente às 21h se deu início ao concerto, sem banda de abertura, e logo ao som de "Whiplash Pants" do mais recente trabalho discográfico do quarteto, "Hydrograd" lançado no ano passado.
Pensávamos nós que depois de Manson, Ozzy e Kiss lá iríamos ver um típico palco despido mas estávamos redondamente enganados. A pirotecnia esteve bem presente a dificultar o trabalho dos nossos colegas fotógrafos e a somar impacto aos primeiros riffs da noite.
"Absolute Zero" foi o primeiro teste às vozes do público, pouco dado à timidez e "Knievel Has Landed" provou o porque de a Loudwire ter premiado este 6º álbum o melhor do ano na categoria de Hardrock.


Entusiasmado com a reacção do público, o vocalista verbalizou o seu agrado por estar de volta a terras lusas e lançando o foco a para Johny Chow (baixista) que introduziu um ritmo ao estilo reaggae num sing along impressionante em "Say You'll Want Me", único tema saído de Audio Secrecy, o álbum mais negligenciado da noite.


Seguiu-se uma rampa de entrada para aqueles eu foram se desligando da banda ao longo dos anos: "30/30-150", um dos temas mais pesados que já compuseram fez partir pescoços e fez mexer muita gente. 

Já "Bother" pode simplesmente ser descrita como arrepiante... A música que, como Taylor afirmou e bem, deu a conhecer a banda a muitos de nós (nos tempos em que havia disto nas rádios FM) foi cantada em uníssono e sem os restantes músicos em palco.

Momentos antes "Nutshell", clássico dos americanos Alice In Chains (que integram o cartaz do NOS Alive 2018) fez relembrar o talento do falecido Layne Stanley e comprovar (como se necessário) que o registo "sofrido" do vocalista em palco cai-lhe que nem ginjas.

Passagens pelo homônimo álbum de 2002 foram também feitas de "Cold Reader" e a nomeada para Grammy "Get Inside" aumentaram a temperatura no recinto e a actividade sísmica local com o público a demonstrar o seu agrado com o já clássico, mas não menos impressionante, marchar até fazer vibrar os alicerces das Portas de Santo Antão.

A euforia na plateia espelhou-se na banda, visivelmente satisfeita pelo desenrolar do espetáculo e pelo barulhento feedback que receberam a par e passo. Apenas Josh Rand se manteve focado e fora de euforias. Esse papel ficou a cargo de a quem se esperava tamanha responsabilidade.

"Roses are Red Violent Blue (This Song is Dumb and So Am I)" foi dedicada ao espírito do rock'n'roll presente naqueles fãs e "Do Me a Favour" serviu de bandeira da Part II de House of Gold and Bones.

O tal câmbio de reacções notou-se especialmente com a sequência Made of Scars e Reborn, aparentemente temas menos entusiásticos para muito do público presente.


Nada de relevante do balancete final pois o Xeque Mate foi feito logo após com "Song#3" a elevar-se como o momento da noite.
Junto ao backstage, a imagem do filho de Corey Taylor a viver cada canção com uma paixão visível enchia-nos o coração mas quando este foi chamado ao palco a surpresa tomou conta, com o "miúdo" a agarrar aquele momento com unhas e dentes e provar que o talento é-lhe genético e a garra em palco também.

"Through the Glass" aproveitou que janela dos sentimentos tinha ficado meio fechada e maximizou todo aquela sequência.
Cantada em coro, a que é à data a música mais conhecida da banda, não faltou e o agrado foi audível das galerias à plateia.
 

Antes de partir para encore os Stone Sour brindaram-nos com a cover "Love Gun", presente no EP Meanwhile in Burbank, numa clara referência ao concerto que assistiu (e nós também) no dia anterior no Legends of Rock.
Uma raridade ao vivo a premiar o público português.


À noite, por curta que tenha sido já nem precisava de muito mais.
"RU486" e "Fabuless" fecharam uma noite que bateu todas as expectativas.



Texto: Tiago Queirós
Fotos: Joana Marçal Carriço (todas as fotos aqui)
Agradecimentos: Sons em Trânsito 

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