No passado sábado a SFTD Radio voltou a Cascais, como quem diz Stairway Club, para testemunhar a apresentação do novo álbum dos Blame Zeus que vieram do Porto para nos presentear com a sua música, com a sua simpatia e acompanhados de outros belos exemplos do que se faz pela música portuguesa.
Apesar do atraso registado no tiro de partida, os Sunya souberam o que fazer como banda de abertura: com a sua postura positiva e animada, tentaram sucessivamente quebrar aquele inevitável constrangimento do público em se aproximar do palco e deixar que a banda sonora tome conta do resto.
Os resultados foram surgindo graças a temas com uma sensibilidade rock radiofónico, como no caso de "Picture of You", ou mais metálicos como "Sombras", o único registo em português na carreira da banda de Kaddy (vocalista).
A enérgica actuação desta mestre de cerimónias, que transpira simpatia e fome de palco, espelhou bem como muito contribui a favor da instrumentalização a cargo da banda: personifica-a e dá identidade ao que são os Sunya.
A sua actuação acabou em tom de dueto com Pedro Pina a juntar-se à banda em "Psycho".
Seguiram-se os Deserto com o seu rock 100% em português, bem carregado nas sílabas e fonemas, sem soar a Mão Morta, num ambiente Stoner mas sem ser desmesurado.
Pouco a pouco, lá foram cativando com a prosa que poderia encaixar em algum projecto de Manuel Cruz. Sendo a música em si um veículo de transporte da mensagem, esta não deixou de se fazer ouvir reclamando por vezes todas as nossas atenções.
Riffs díspares como o de "Num Só Dia", de combustão rápida num motor a dois tempos, ou "Filhos do Deserto" com o seu slow tempo pantanoso, serviram os fãs do headbanging.
O choque térmico entre actuações foi algum e talvez por isso a árida actuação destes rapazes possa não ter sido maximizada como noutras paragens. Seja como for a boa disposição prevaleceu e todos brindamos à amizade e camaradagem entre bandas. Não há melhor contexto do que esse para promover o trabalho das bandas nacionais.
Por fim, os Blame Zeus subiram ao palco perante uma plateia que de forma evidente teria vindo de diversos cantos do país para estar presente nesta que seria uma data especial para este quinteto da cidade invicta.
O ambiente sereno e amigável, onde à partida se verificavam os diversos elos de amizade que as bandas teriam entre os presentes, não se demonstrou suficiente na hora de acalmar o nervosismo de Sandra Oliveira que assumiu a pressão ao longo dos primeiros temas.
No entanto é importante reparar a incrível capacidade de manter a projecção e tom de voz de forma profissional sem nunca por em causa o resto da banda, que esteve sempre à altura do desafio.
A figura tensa foi-se perdendo e minutos depois a vocalista já investia sobre o espaço guardado ao público. Se o palco não lhe fora terreno seguro nesta noite, o calor da plateia deu-lhe ânimo mais que suficiente.
Passaram quase três anos após Identity ter visto a luz do dia e se o álbum de estreia nos possa ter chamado à atenção, este Theory of Perception prime pela demonstração de um trabalho mais maduro, pensado e executado.
A carga emotiva e a melancolia absorvente que os Blame Zeus alcançaram no difícil teste de um segundo álbum é prova de superação clara.
Desde uma rítmica "Slaughter House" ao single em, uma espécie de power ballad, "The Moth", cujo o solo de guitarra fora talvez o mais marcante da noite, a banda demonstrou grande versatilidade no leque de musicas que guarda em carteira.
"More or Less" fez-nos sentir num confessionário. Um desabafo, uma lamúria, um momento bastante pessoal cuja aura intimista que o Stairway tem em si ainda inflacionou mais.
Mas esse não fora o momento de maior entrega. "Rose" reclamou esse momento como sendo seu.
Foram também feitas algumas passagens pelo primeiro álbum, com destaque para a poderosa "The Apprentice" que foi servida já na despedida onde não falharam pedidos de forma a sabotar a setlist que o conjunto teria imaginado à priori. Em tom de brincadeira chegaram a ser pedidas mais músicas do que aquelas que compuseram nestes anos de carreira.
O ambiente familiar que esta sala na linha proporciona é sempre uma mais valia no que toca a convívio mas para aos Blame Zeus esperamos palcos maiores onde possam apresentar este "Theory of Perception".
Por muito apaixonados que sejamos pelo nosso underground não podemos ser egoístas: temos música que merece ser partilhada com o resto do mundo.
Fotos: Joana M. Carriço