Começou, na Casa das Artes nos Arcos de Valdevez, a digressão nacional dos Moonspell, 'Faz dia em Portugal'.
Após o lançamento do álbum '1755' com datas em Lisboa (ver report) e Porto, a tour rumou a Espanha com o nome "Cuando La Tierra Tiembla" a 3 de Novembro em Santiago de Compostela, seguindo depois para Bilbao, Valencia, Barcelona, Zaragoza e finalizou este 1º segmento, em Madrid.
Com a primeira parte assegurada pelos Bizarra Locomotiva, esta Tour Ibérica, que passou ainda por Aveiro e Castelo Branco, tinha como um dos seus objectivos 'descentralizar a cultura e fazer chegar a nossa música a todos os portugueses', como disse Fernando Ribeiro.
Contudo a escolha de uma 5ª feira num lugar destes, criou expectativas e dúvidas. O Alto Minho ainda tem muitas carências e uma delas é a falta de transportes públicos para facilitar o acesso aos locais de espetáculo, no Distrito de Viana do Castelo.
Assim mesmo, a Casa esgotou a lotação e o público mostrou-se fiel ao cantarolar as letras das músicas, de ambas as bandas.
Os Bizarra Locomotiva regressaram aos Arcos e mais uma vez deram um concerto que nos deixaram sedentos por mais. Tocaram temas como Mortuário que dá nome ao seu mais recente trabalho e Homem- Máquina e Cavalo Alado, mesmo perdendo o microfone de vez em quando no meio do público, explodiram e levaram-no ao rubro!
Sendo os Bizarra cabeça de cartaz, como assistimos em Março de 2015 aquando o lançamento do 'Mortuário' ou a fazer a 1ª parte de uma banda, na minha opinião, não 'cabem' numa sala tão pequena e com características mais intimistas, como cadeiras até ao palco. Estes e o público que os acompanha, necessitam de espaço para exteriorizar a avalanche de sentimentos e dançar, cantando em coro as letras dos temas, por isso mais uma vez fica aquela sensação que 'soube a pouco' pois a excitação durante e depois do concerto era elevadíssima.
Depois da sua curta performance e deixando-nos em êxtase, os Bizarra saem de palco agradecendo a presença do público e uns minutos depois de ouvir a orquestração de Em Nome do Medo, na nova versão de Jon Phipps, adivinhava-se um show com um ambiente teatral.
Eis que entra Fernando Ribeiro com a sua Crowface a saudar-nos com o tema 1755, provocando a plateia com o seu bico negro.
É também um regresso da banda à Casa das Artes, a última vez foi com a Sombra Acoustic Tour em Novembro de 2010, mas ao contrário do que se esperava, o '1755' coube perfeitamente nesta sala. É um concerto cheio de cenografia e palavras para se ouvirem e a meu ver, foi o ambiente com a proximidade perfeita, para que se sorvesse cada momento do espetáculo.
A sala bem composta recebeu os Moonspell ainda adrenalizados, com fortes aplausos e depois..silêncio.
O público bebeu cada palavra cantada por Fernando Ribeiro que nos embalou na estória horrenda e sofrida do nosso povo aquando o momento terrível, do terremoto de 1755, tema após tema.
Segundo o comunicado de imprensa 'são apresentados dez temas que na carreira da banda encontram ecos longínquos em discos como “Under the Moonspell” ou “Alpha Noir” mas que apresentam, sobretudo, uns Moonspell como nunca os ouviram a cantar um Portugal e uma Lisboa que não é solarenga, nem turística, nem luminosa.
1755 é o novo disco dos Moonspell, cantado em português, acerca do grande terramoto de Lisboa. Uma reflexão poética, musical e filosófica da banda sobre o evento de 1 de Novembro de 1755 em Lisboa e as suas repercussões no mundo civilizado. O novo disco será tocado na íntegra nesta tour, sendo que o alinhamento para estes concertos inclui também temas obscuros da carreira dos Moonspell.
Musicalmente, 1755 é um disco de raiz Metal, com riffs vibrantes, orquestrações épicas e vozes e letras que testemunham a agonia daquele dia. A banda preocupou-se também em recriar a época, existindo uma fusão com elementos percussivos e melódicos que remete para os fins do século e para a atmosfera que se vivia na capital Portuguesa na altura.'
Na plateia haviam várias gerações e nacionalidades, inclusive espanhóis, que não tiveram oportunidade de os ver por lá.
Os mais velhos hão-de lembrar-se das críticas que a banda sofreu ao longo dos anos , por só querer cantar em inglês. As entrevistas que se fizeram, em vários canais dos média, em que quase se 'exigia' um trabalho em Português da banda e esta, sempre foi adiando para 'um dia' mas ressalvando que no metal, o inglês é a sua língua de eleição.
Nunca foi prometido pelos Moonspell oficialmente, mas aguardou-se por este trabalho muito tempo e como sempre, surpreendem-nos pela qualidade e, mais uma vez, com fortes mensagens politico-sociais implícitas como nos habituaram,ao longo de mais de 20 anos de carreira e 12 álbuns editados. Não esperávamos menos!
É de facto um trabalho de excelência que encherá as medidas dos fãs mais conservadores, é um álbum onde a palavra em português prima e a nossa História é cénicamente relembrada e representada numa performance de horror e beleza, do renascimento das cinzas de um povo desgraçado.
Mais nacional não poderia ser e mesmo a falar da tragédia, o '1755' traz um revigorante ambiente musical que nos eleva a alma e faz acreditar que o que é nacional, é bom.
O concerto, tendo momentos altos e baixos, foi confortável para quem o quis ver sentado e Fernando concordou com essa postura, dizendo que faria o mesmo, mas houve quem não conseguisse manter-se imóvel e sempre que o show explodia em forte, surgiam os headbangs característicos da tribo metal que assistia.
Foi interessante ver que, em tão curto espaço de tempo após o lançamento deste trabalho, os fãs já sabiam de cor as letras e acompanhavam o vocalista, que não teve de pedir muitas vezes pelas vozes da plateia, em coro e em uníssono, nos refrões.
Notou-se uma diminuição drástica no uso de figurinos e cenários, pois a sala não permitiria a produção dos shows anteriores, contudo Fernando aproveitou para conversar com o público que estava embevecido mesmo à sua frente e tocando-lhes sorrindo, colmatou a falta da brilhante produção que acompanha este evento.
‘In Tremor Dei’, mesmo sem Paulo Bragança, foi entoado na sala como uma oração cantada tal como se ouve numa igreja, o tom real do ritual era tremendo, até devido à maior religiosidade existente no interior norte, sabendo o público como proferir estes ditos na perfeição...
Foi impressionante como este tema ressoou na sala, como se quiséssemos todos exorcizar demónios, ao mesmo tempo.
Seguiram-se 'Deserto' e 'Abanão' que conectou a sala, a pedido de Fernando, numa só voz e repetiam-se os coros e refrões tão alto que parecia que Arcos de Valdevez iria abrir ali ao meio.
Estrondoso!
Estrondoso!
'Evento' e '1 de Novembro' encontram a plateia em exaltação e Ricardo Amorim arrasa-nos o peito com os seus solos melodiosos e profundos e a plateia rendeu-se, em espanto.
Em 'Ruínas' a sala compreende a desgraça do evento de 1755 e deixa-se embalar pela música mas intensificam-se os headbangs dos Lobos com 'Todos os Santos'.
Não deixando, no entanto, de nos abençoar com a cruz de laser e o público fez a sua reverência em horns up.
A apresentação do álbum finaliza o 1º acto com um cover de Os Paralamas do Sucesso, Lanterna dos Afogados, deixando-nos todos consternados e em reflexão.
Para quem não sabia deste intervalo, foram uns longos 10 minutos de espera mas chamando-os efusivamente e em pé esperámos o regresso da banda, desta feita, com uma rapsódia de temas de álbuns anteriores entre 1995 e 2015 , que foram recebidos com um público em total euforia logo no 1º acorde, de ‘Everything Invaded’, seguido de ‘Night Eternal’, ‘Extinct’, ‘Em Nome do Medo’, o grande hino ‘Alma Mater’ 'Vampíria' e ‘Fullmoon Madness’ que permitiram à Alcateia uma, muito agradável, viagem musical.
Para quem não sabia deste intervalo, foram uns longos 10 minutos de espera mas chamando-os efusivamente e em pé esperámos o regresso da banda, desta feita, com uma rapsódia de temas de álbuns anteriores entre 1995 e 2015 , que foram recebidos com um público em total euforia logo no 1º acorde, de ‘Everything Invaded’, seguido de ‘Night Eternal’, ‘Extinct’, ‘Em Nome do Medo’, o grande hino ‘Alma Mater’ 'Vampíria' e ‘Fullmoon Madness’ que permitiram à Alcateia uma, muito agradável, viagem musical.
O público ao rubro, foi pedindo temas como Finisterra mas a banda anuncia o final do show e foi inegavelmente, um dos melhores eventos que assistimos aqui nesta sala e a satisfação do público era notória.
Numa região que aposta cada vez mais no rock, estas duas bandas, com ligações familiares no Minho já se sentem em casa. Pois como manda a boa hospitalidade da região, Fernando, já nos agradecimentos explicou que foi recebido pelo pai em Viana do Castelo, com umas belas malgas de tinto verde para afinar a voz para este espetáculo e não poderia ter corrido melhor. Aplaudimos em forte concordância minhota a atitude do pai, presente na plateia.
Aconselhamos a quem ainda não teve oportunidade de assistir a este evento, que o faça, pois não sairá dele insatisfeito e sim, revigorado e com uma sensação de esperança, que o rock português está bem e recomenda-se!
Texto: Stanana
Vídeos (abaixo) partilhados originalmente por César Amorim