Wattie voltou a subir à sela, tomou as rédeas e dominou o palco que o tentou derrubar de vez. Pouco antes, os Adicts tinham montado um autêntico festival carnavalesco naquela que foi uma das melhores estreias no nosso país. Mais de 30 anos de atraso? Estão mais do que perdoados! A Songs for the Deaf Radio esteve mais uma vez presente para vos contar tudo de uma noite onde se comprovou a máxima: Punk's Not Dead!
Foi numa quarta-feira tropical, com os termómetros a dispararem valores a cima dos 30º, que a República da Música voltou a servir de ponto de encontro de punks e simpatizantes para uma noite que prometia logo à partida. Com um cartaz bem alinhado, a Hell Xis presenteou-nos com dois históricos da cena Punk Rock mundial e o público compareceu em peso.
Ainda com o sol bem alto, já marcava presença nas ruas de Alvalade a multidão que viria a preencher a incontornável sala da cena alternativa lisboeta. A sua irreverência estilística continua a ser um trademark de todo um movimento social de não-alinhados que tanto atrai os mais versáteis e open-minded como repelia os mais conservadores velhos de espírito. Não passam de todo despercebidos, nem nunca fora esse o objectivo. Sempre renunciaram a aderirem ao conformismo generalizado da sociedade e sempre o espelharam na sua cena musical, que apesar de estar longe dos tempos áureos continua a proporcionar bons momentos.
Coube aos portugueses Atentado receber os mais pontuais com a sua sonoridade Crust-Punk que vez tremer tudo e todos com tamanha distorção. Muito dados a influências de outros clássicos do género, os pormenores d-beat demonstraram um pouco de Discharge e Anti-Cimex e os guturais roçaram o grindcore de tão fortes. Não teriam certamente destoado na noite em que Napalm Death antecipou o malogrado concerto dos The Exploited. Os fãs das vertentes mais extremas do punk, como por exemplo Extreme Noise Terror, ficaram certamente satisfeitos com o "curto e grosso" que este concerto bin-ladesco se demonstrou. Comprovou-se mais uma vez que com Atentado, o género em Portugal não se resume aos Simbiose. "Antagonist" é de facto um álbum a juntar às colecções mais demolidoras, destrutivas e esmagadoras. Uma tareia em busca do K.O.. Chamem Floyd Mayweather. Nem mesmo o famoso lutador estará apto para este confronto. Os presentes não teriam certamente dúvidas na altura de meter as fichas nos portugueses.
E se a sala estava composta, pouco demorou a encher, levando a crer que os Annus Horribilis do underground estão enterrados. Quer na República da Música como no RCA Club e Paradise Garage ( entre outros ) verificámos ao longo deste ano uma melhoria significativa na aderência do público aos eventos, e se isso se aplica de forma clara nos com bandas internacionais, os outros não sofrem com isso, vencendo pela criação de hábitos de consumo. Veja-se o exemplo de sucesso desta edição recordista do Moita Metal Fest. O pior já passou aparentemente.
A grande surpresa deste cartaz foi sem dúvida a inclusão dos The Adicts. Finalmente um promotor conseguiu marcar uma data para a estreia dos ingleses no nosso país. Passadas décadas dos seus tempos áureos, o mediatismo que possivelmente nunca existiu em Portugal deu lugar ao culto merecido.
Com a vasta plateia pregada frente ao palco, Keith "Monkey" Warren e a sua fiel companhia deram início ao concerto abrindo da melhor forma com uma sequência de claro agrado dos fãs: "Lets Go", "Smart Alex", "Tango" e "Easy Way Out" deram início ao que foi um autêntico carnaval fora de horas. Fazendo uso de toda uma parafernália de adereços, desde serpentinas a peluches, a banda proporcionou um concerto pouco convencional que primou pelo ambiente festivo. O carácter jocoso de toda a performance, em contraste com o feeling mais aguerrido na plateia, faz-nos pensar que certamente seria assim que Joker se comportaria se fosse um ícone do underground como os The Adicts o são. Desfilaram-se clássicos que nos fizeram suspirar durante anos, "Chinese Takeaway", "Bad Boy" e a obrigatória "Joker ir the Back", com direito ao baralho todo. "Life Goes On" foi dedicada a Wattie que ao retornar à República da Música o comprovou da melhor forma.
O baterista deu a voz em "Swat Her" e na recta final já não restavam dúvidas: "My Baby Got Hit By a Steamroller" e "Horrorshow" sublinharam uma apoteose que garante este concerto como tendo sido dos melhores do género em Portugal em muito tempo. O encore, mais do que praxe, foi pedido e merecido por todas as partes. A viciante "Who Spilt My Beer?" anexado ao seu grito de guerra "Viva La Revolucion" soube à melhor das sobremesas.
Em tom de despedida épica não poderia faltar o hino, muito associado às lides de Liverpool, "We Will Never Walk Alone". Sem dúvida, um dos momentos do ano.
O baterista deu a voz em "Swat Her" e na recta final já não restavam dúvidas: "My Baby Got Hit By a Steamroller" e "Horrorshow" sublinharam uma apoteose que garante este concerto como tendo sido dos melhores do género em Portugal em muito tempo. O encore, mais do que praxe, foi pedido e merecido por todas as partes. A viciante "Who Spilt My Beer?" anexado ao seu grito de guerra "Viva La Revolucion" soube à melhor das sobremesas.
Em tom de despedida épica não poderia faltar o hino, muito associado às lides de Liverpool, "We Will Never Walk Alone". Sem dúvida, um dos momentos do ano.
A boa disposição não fora alterada mesmo com algumas cenas menos felizes frente ao palco que infelizmente perduraram mais do que deviam. Os The Exploited são sem dúvida um nome a não perder para os que possam ir ao Resurrection Fest, mas a ideia que fica é que aqui mesmo, em Portugal, os irmãos Buchan e os seus companheiros estão em casa.
Por cá temos a fama de recebermos bem quem nos visita, mas a este nível só mesmo quem merece. E eles merecem.
Texto / vídeos (e ainda fotos) : Tiago Queirós
Agradecimentos: Hell Xis
Todos os vídeos aqui:
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