A terceira edição do Laurus Nobilis Music Famalicão sofreu algumas alterações mas “o dia de metal” deixar de ser à sexta não foi uma delas. E com a inclusão de um segundo palco, o número de bandas “pesadas” duplicou.
A primeira banda no Palco Revelações foi Stucker. Eram cerca de cinco da tarde, o público não era propriamente vasto, mas quando tocas numa banda thrash, num festival de metal, as probabilidades de um bom feedback são altas, independentemente do número baixo de pessoas a dá-lo. E os Stucker evoluíram razoavelmente desde a última vez que os vi, estão mais empenhados. E musicalmente soam mais fortes. Estão actualmente em estúdio, a gravar um EP que me foi dito ser “um regresso às raízes”.
Depois de dois álbuns, o death dos Skinning é bastante aclamado - por isso o feedback foi mais intenso, ainda que o público não fosse muito mais numeroso que antes. Mas um miúdo com os seus sete, oito anos estava todo entusiasmado a fazer headbanging, e pelo que percebi não era parente de nenhum dos membros - só isso valeu tanto quanto um mosh pit brutal.
E de Espanha veio o dark metal dos In.Verno - que é o mesmo que dizer melodias pesadas temperadas com sintetizadores, com uma bela voz feminina intercalada com guturais masculinos. Esta data fazia ainda parte da Insanity Tour, em promoção do seu segundo álbum “The Reasonable Choice Of Insanity”, e foi uma agradável maneira de encerrar a primeira parte do dia.
A acção passou então para o palco principal, com os Final Mercy literalmente a tomá-lo de assalto. Tinham passado cerca de sete anos desde a última vez que os vira e provavelmente o mesmo número de mudanças de alinhamento desde a primeira vez, há uma década atrás. E enquanto que algumas bandas podem parecer instáveis com tantos ajustes, isto foi provavelmente a melhor coisa que podia ter acontecido aos Final Mercy. A destreza técnica do guitarrista Ricardo Ribeiro e do baixista Arcélio amadureceu a música, e a atitude do vocalista Dan encheu de vitalidade as actuações ao vivo. Uns dias antes do festival lançaram o vídeo para o tema-título do mais recente álbum, “Revival”, que recomendo vivamente.
Apesar de anunciado na página do festival que os Urban War fechariam o cartaz do Palco Revelações, o plano original sempre fora actuarem no principal. Bem, a energia do vocalista Márcio Pinto precisa de facto de um espaço grande para ser descarregada na totalidade... e lá estava ele, aos saltos por todo o lado, entre fumo e strobes, a promover “Flesh Upon The Feelings”. Groove metal de qualidade, bem merecido do “palco grande”.
Atrevo-me a dizer que os Heavenwood eram aguardados com o mesmo entusiasmo dos cabeças de cartaz - e esse entusiasmo foi recompensado. Nos seus 25 anos de existência, pouco ou nada pode ser apontado à composição dos Heavenwood; já as actuações ao vivo sempre foram a sua fraqueza... até há um par de anos atrás. Não sei se foi algo com o álbum conceitual “The Tarot Of The Bohemians”, se a mudança de alinhamento ou o simples processo de crescimento... mas que importa? O importante é que agora o “em directo” está ao mesmo nível do que sai do estúdio.
A última vez que os Amorphis tocaram em terras lusas foi no 20º aniversário do “Tales From A Thousand Lakes”, cerca de um mês antes da edição de “Under The Red Cloud”, por isso embora este tenha saído há já dois anos, o Laurus foi o primeiro concerto em solo nacional onde foram ouvidos o tema-título, “Sacrifice” e “Death Of A King”.
Dirigindo-se ao público como “meus amigos”, Tomi Joutsen pediu ajuda em “House Of Sleep” e perguntou o que achavam de ouvir “Into Hiding”, agora que o baixista original Olli-Pekka Laine estava de volta. E sem surpresas - mas com grande emoção - o concerto terminou com “Black Winter Day”.
Death-grind não é para os ouvidos de qualquer um, por isso fechar com Holocausto Canibal foi a decisão certa - quem não aguenta um som tão extremo pôde ir embora (e muitos foram...), e quem aprecia o género teve a oportunidade de ver uma grande banda num palco principal. Como disse o vocalista Ricardo, não parece mas já andam aqui há vinte anos. Regravaram e editaram em vinil a primeira demo e o primeiro álbum sob o sugestivo título “Catalépsia Necrótica: Gonorreia Visceral Reanimada”, o que mostra um desejo de continuar com o mesmo nível brutal de som e letra; mas ao vivo atenuaram um pouco o “teatro” - isto é, menos sangue e entranhas - focando-se mais na música do que na imagem. Quer se goste ou não, há que reconhecer o seu talento.
E assim foi o dia de metal do Laurus 2017. É merecida uma ovação a todos os envolvidos neste projecto, não só pela organização do evento mas também pela promoção e apoio prestados ao metal nacional, ainda tão subestimado por cá.
Texto e fotos: Renata Lino, à qual não podemos de deixar de agradecer a amabilidade em partilhar connosco o report do dia de metal, originalmente publicado em Inglês pela Valkyrian Music, a quem
também muito agradecemos, tal como à organização do evento.
também muito agradecemos, tal como à organização do evento.