Se pensam que, por termos ido assistir a um concerto de love metal, vamos apresentar um artigo lamechas, enganam-se: esta é uma reportagem sobre a noite de sábado, 17 de junho, quando o Hard Club esgotou para receber os HIM, acompanhados por Kandia, num dia em que as temperaturas subiram anormalmente, criando uma atmosfera quase irrespirável, quando todos, portugueses e finlandeses, aguentámos (e adorámos) três horas impróprias para fraquinhos, até porque esses, como vimos mais tarde, tiveram que sair. O love metal não é mesmo para todos.
Os Kandia começaram à hora marcada, quando ainda escoavam as filas de gente que serpenteavam à entrada do Hard Club. Fizeram meia hora de concerto, com seis temas, bem acompanhados por um público conhecedor, que cantou algumas músicas. A vocalista Nya Cruz fez questão de frisar que era uma honra fazer a primeira parte do concerto dos HIM, banda que muito representava para ela, desde cedo.
Os temas foram todos bem recebidos pelo público, mas destacamos alguns momentos mais marcantes, tais como as interpretações de Into your hands e de Scars, muito aplaudidas; a intensidade transmitida pelo refrão de Deviant e a inquietação presente no tema Blow, definido pela banda como um hino anti-bullying, e que agitou a sala.
Tivemos ainda direito ao tema novo Alone e a outro, Clarity, que será lançado em breve.
(não nos tendo sido facultada a hipótese de fotografar a banda, deixamos aqui um fan vídeo)
A banda da Maia foi uma excelente escolha para este início de noite, a ostentar simplicidade na forma como se apresentam e como comunicam com o público, chegando até ele sem dificuldade, através de temas com mensagem encorajadora e, sobretudo, bonitos.
O público que já enchia o Hard Club ainda teve que esperar uma boa meia hora antes que a Farewell Tour dos HIM iniciasse oficialmente a sua passagem pelo Porto. Com um calor quase insuportável (embora estivesse ligado o ar condicionado), tivemos tempo de observar as faixas etárias ali presentes e vimos, principalmente, fãs jovens, mas também uma boa parte de trintões e quarentões. Pacientes, ouviram reggae quase sem protestar (apenas alguns assobios), enquanto se reuniam todas as condições para o início do concerto.
Foi, portanto, já com a sala super lotada de público, calor e ansiedade, que os HIM subiram ao palco. Fizeram-no sem artifícios, sem pompa e circunstância, com uma simples cortina de veludo vermelho por trás. Também Ville Valo se apresentou simples, na sua frágil figura, de colete e boina, a combinar com uma expressão tranquila, como se apenas fosse conversar connosco.
Começou assim o desfile de vinte temas (mais dois encores), bem conhecidos de todos, escolhidos entre os grandes êxitos dos já 26 anos de carreira da banda, desde o seu álbum de estreia de 1997, Greatest Love Songs, vol.666. Por diversas vezes ouvimos mais o público que o vocalista, o que não é de estranhar.
Começámos por ouvir, em coro, o refrão de Buried Alive By Love (2003) e concluímos logo que ia ser assim durante as duas horas seguintes.
Para além do acompanhamento da voz do público, as palmas também foram fáceis ao longo de todo o concerto, como em Your Sweet Six Six Six(1997), para referir apenas um exemplo.
O arranque um pouco mais pesado de The Kiss of Dawn (2007) também fez diferença no público mas foi em Rip Out the Wings of a Butterfly(2005) que sentimos a euforia de todos os presentes, que acompanharam a música na totalidade e fizeram com que o vocalista agradecesse, no fim, esta interação magnífica.
Em Gone with the sin (1999), foi dado destaque à guitarra deMikko "Linde" Lindström, muito aplaudida pelo público e, logo a seguir, Bleed Well (2007) marcou mais um momento de euforia.
Tal como seria de esperar, a cover do tema de Chris Isak, Wicked Game (1997) foi recebida com gritos e aplausos, logo aos primeiros acordes e, por altura de Killing Loneliness (2005), já víamos pessoas a caírem à nossa frente, levadas por seguranças.
Muita gente, muito calor humano e demasiada temperatura em graus Celsius criaram condições difíceis até para os elementos da banda, que transpiravam copiosamente. Ainda assim, os momentos marcantes sucediam-se: a interpretação de Join me in death (1999) foi cantada em coro, com os telemóveis em riste, a fazer arrepiar os mais sensíveis, durante aquele que se considera o single mais vendido na história da Finlândia.
Ville Valo manteve a sua postura tranquila ao longo de todo o concerto, comunicou o suficiente com o público, até com algum humor, mas sem se perder demasiado nesta interação. Sorriu diversas vezes, como que surpreendido pela forma como a banda estava a ser recebida. Em Funeral of Hearts (2003), a última antes dos encores, comprovou como, efetivamente, o Hard Club estava esgotado de verdadeiros fãs.
A verdade é que o público mantinha-se insatisfeito após os vinte temas apresentados e pediu mais. Teve que se esforçar ainda uns bons minutos até a banda voltar a ocupar o seu lugar no palco e brindar-nos com mais três temas, entre os quais When Love and Death Embrace (1997), muito aplaudido. Para o segundo encore, já não esperou tanto. A banda regressou rapidamente ao palco e interpretou a cover de Billy Idol, Rebel Yell, cumprindo assim a setlist igual à apresentada em Madrid.
Terminou, portanto, em grande festa este regresso dos HIM a Portugal, numa altura em que a banda se despede dos palcos, após 26 anos de carreira.
Quanto a nós, tiramos o chapéu a um público magnífico, que aguentou admiravelmente o calor, os compassos de espera, e esteve duas horas sempre com a mesma energia do primeiro minuto, aproveitando ao máximo a passagem da banda pelo Porto.
Portanto, este não é um texto lamechas, é sim, uma reportagem sobre gente resistente, que sabe do que gosta e gosta para sempre e, na verdade, o love metal é também isso mesmo.
Texto: Sónia Sanches
Fotos: Mia Lavernne (todas as fotos aqui)
Agradecimentos: Prime Artists