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07/06/2017

[Report] SLAYER e RASGO na noite em que o Coliseu de Lisboa (quase) vinha abaixo

(c) Alexandre Paixão para musicfest.pt
 Lisboa foi atacada e demolida pelo peso esmagador dos Slayer. Sem muitas palavras, os históricos norte-americanos provaram o porquê de serem uma das bandas mais unânimes do universo da música pesada.

Foi no mítico Coliseu dos Recreios que os thrashers de Los Angeles finalmente regressaram ao nosso país com estatuto de headliner. O público português compareceu em massa e encheu o recinto que deve ter estado bem próximo de esgotar a lotação.


Mesmo antes da abertura, das Portas de Santo Antão aos Restauradores, era visível o clima de festa com centenas de pessoas, vestidas a rigor para a ocasião, espalhadas pelos diversos estabelecimentos da baixa Pombalina. Entre ginjas e imperiais, escutavam-se os diversos sotaques deste nosso país comprovando uma romaria que veio tanto de Norte como do Sul.
(c) Alexandre Paixão para musicfest.pt
A inevitável componente securitária, fruto da conjuntura que vivemos, causou alguns constrangimentos no fluxo de entrada e impediu que os Rasgo tivessem uma plateia composta por todos aqueles que desejavam assistir ao seu concerto.
No entanto, as reações foram positivas neste capítulo de afirmação de um projecto que dá os seus primeiros passos.

A banda que incorpora elementos com experiência, adquirida em projectos como Tara Perdida, Shadowsphere, Ignite the Black Sun, Sacred Sin e Trinta e Um, subiu ao palco pontualmente e em meia hora deixou que o seu metal cantado em português servisse como cartão de visita de um álbum ainda por ser lançado.
"Ecos da Selva Urbana" e "Homens ao Mar (Puxa)", entre outros, cativaram com o seu próprio tom thrash.
(c) Alexandre Paixão para musicfest.pt

Foram desafiados para aquecer as hostes de um colosso e não desiludiram.

(c) Alexandre Paixão para musicfest.pt
Passaram quase duas décadas desde que os Slayer ficaram associados ao ponto final de uma das salas de espetáculos mais importantes do país (Dramático de Cascais), juntamente com Sepultura e System of a Down.
Desde então, quem não parou de seguir a banda, cujo o pico discográfico fixa-se de 83 a 90, guardará memórias de chuva (Ozzfest), de pó (SBSR) e de um piso bem escorregadio (Pavilhão Atlântico).
Nunca foi tão "fácil" assistir a Slayer em condições como desta vez e (bolas!) já merecíamos!


Já passava da hora marcada quando a entrada da banda veio refrescar (ou pelos menos desviar atenções) a plateia que estava literalmente a escaldar.
Seja como for, o verdadeiro calor humano fez-se sentir aos primeiros acordes de "Repentless". O single de maior agrado do 11º álbum de originais (vamos então deixar Undisputed Attitude de fora da contagem) foi recebido com os primeiros coros da noite. E mosh! Muito mosh!
Segui-se a velhinha "Antichrist" simbolicamente demonstrando uma amplitude temporal de 32 anos (!!).

Show No Mercy foi relembrado diversas vezes com passagens quer por "Fight 'Till Death" como "Die by the Sword" mas nenhuma alcançou o efeito de uma "Black Magic" que, mesmo fora da sua previsível posição na setlist, continua a revelar-se um dos riffs mais importantes da carreira da banda.
No entretanto "Disciple" arrancou ecos de um "God Hate Us All", "Postmortem" demonstrou-se o primeiro pico da noite e "Hate Worldwide" serviu de genérico de uma "World Painted Blood" que poderia ter alcançado melhores resultados.

Já "War Ensemble" caiu ainda melhor que as ginjas dando crédito mais que suficiente para a sequência "When the Stillness Comes" e "You Against You" de Repentless que, por muito boas que sejam, não são os clássicos.


Gary Holt demonstrou-se um guitarrista fenomenal, como já o reconhecíamos nos tempos dos Exodus e de facto este primeiro trabalho discográfico com Slayer revela-se dos melhores em largos anos. Certamente o melhor de Paul Bostaph, que por sinal demonstrou-se irrepreensível com as baquetas e avassalador no uso do pedal duplo, a preencher a vaga de Dave Lombardo  (que virá com os Suicidal Tendencies a Corroios já no próximo dia 26 de Junho).
Todavia, não deixa de ser estranho não ver em palco dois dos pilares que sustentam todo o mito em redor de uma das bandas mais importantes e influentes do metal mundial. Principalmente Jeff Hanneman que, ainda vivo, já não tinha vindo em 2011 quando partilharam tour com Megadeth.
Algo simplesmente nostálgico porque no fim da noite muitos ousaram coroar esta formação como vencedora do título de melhor concerto de Slayer em Portugal...

Naturalmente, sem grande esforço, Kerry King fora foco de grande parte das atenções (ele que mais do que ninguém retribuiu o carinho no momento de saída) numa noite em que Tom Araya demonstrou-se muito menos comunicativo do que o costume.
O mesmo, repleto de classe, justificou-se perante a plateia com alguns problemas vocais que para sorte nossa não se fizeram sentir por aí além.
"Mandatory Suicide", "Dead Skin Mask" (vídeo abaixo), "Seasons in the Abyss" e "Hell Awaits" (vídeo abaixo) fizeram disparar níveis de adrenalina, arranharam vozes e partiram pescoços. Uma lição de história como só um legítimo Big 4 a pode dar.

Para o encore ficaram, sem surpresas e sem piedade, as obrigatórias "South of Heaven", "Raining Blood" (vídeos abaixo) e "Angel of Death".
Três músicas de dois dos melhores álbuns thrash metal de todos os tempos. Merecedores do saudosismo que provém de todas as tonalidades do negrume metaleiro. Sinónimos de caos e de paisagens apocalípticas. Um moshpit que cuja intensidade se revelou uma questão de sobrevivência. Quem o testou certamente se sentiu mais vivo do que nunca. Saltar de pára-quedas é para meninos quando se trata de Slayer e desta sequência em particular.

Peso e velocidade. Características de sempre e que mais uma vez definem bem a passagem desta banda que não precisa de mais de hora e meia para nos garantir umas belas dores de pescoço nos dias que se lhe seguem.
O Coliseu de Lisboa testemunhou aquele que fora o momento em que o peso do metal tomou a maior magnitude do ano. É esse o peso dos Slayer e o resto é conversa.

Texto: Tiago Queirós
Fotos: Alexandre Paixão para musicfest.pt  e Hugo Rebelo Fine Art Photography (aos quais agradecemos encarecidamente)

Todas as fotos aqui:
RASGO (musicfest.pt) |  SLAYER (musicfest.pt) | SLAYER (Hugo Rebelo)

Deixamos abaixo alguns dos melhores vídeos que encontrámos dessa noite (canal youtube Jorge Botas):






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