Sensivelmente meia hora após a abertura das portas do Paradise Garage (20h), inicia-se o concerto dos Lion
Shepherd, também oriundos da cidade de Varsóvia como os próprios Riverside.
Lion Shepherd
Concederam-nos
um espectáculo intimista ainda com a sala bastante aquém da devida
audiência, contudo testemunhamos a óptima fusão entre rock psicadélico com
interlúdios orientais, sempre numa evolução progressiva.
Foi talvez uma das
revelações da noite. De imediato associamos os Lion Shepherd a bandas como os Orphaned Land, mas apesar da formula ser algo semelhante o sentimento esse,
era mais intimo e melancólico, podendo mesmo arriscar e dizer que estávamos a
ver os Pink Floyd versão oriental, principalmente devido à diversidade de
momentos electro-acústicos com melodias e cadências alternando entre o oriental
e ocidental, ritmos Persas/Turcos,
Rock/Metal Progressivo e Raga Indiano. Uma experimentação utilizando
guitarra acústica, eléctrica, Syrian oud lute entre outros instrumentos do mundo.
O seu álbum “HIRAETH” vale bem a pena ser ouvido.
The Sixxis
Uns bons minutos depois das 21h subiram ao palco os The Sixxis, banda americana vinda
de Atlanta, e que, com uma energia contagiante, cativaram desde o
primeiro instante uma plateia já mais composta, que se rendeu à sua vasta técnica,
poder, entusiasmo e peso. Apresentaram-nos uma sonoridade Neo-Prog, Rock e
Metal, que nos remeteram para as mais variadas influências como: Rush, Muse, Soundgarden, Opeth, Dream Theater e Alice in Chains. O colectivo chegou inclusivé no passado a
fazer a abertura para o powertrio Winery Dogs, e bandas como Ministry, Wishbone
Ash e os Spocks Beard. Foram inclusivé escolhidos pessoalmente pelo Mike Portnoy (Dream Theater, Avenged Sevenfold,
Winery Dogs) para preencher uma vaga no cruzeiro do “Progressive Nation 2014”.
No fim era visível a satisfação do publico devido à força desta banda.
Riverside
Foi portanto, perto das 22h após uma espera,
generalizadamente, ansiosa que os polacos Riverside tomaram o palco como seu,
recebendo os mais calorosos e saudosos aplausos dos fans que os aguardavam
impacientemente, especialmente após um concerto cancelado há cerca de dois
anos, em 2013, devido a uma avaria no seu “Tour Bus”.
Com uma intro suave e ambiental, idêntica a músicas de
Lunatic Soul (projecto solo de Mariusz Duda), retirada do segundo CD do seu
novíssimo sexto álbum “Fear, Love and The Time Machine”, foi ao som de “Return”
que os músicos tomaram o seu lugar e se preparavam para demonstrar todo o seu
talento e profundidade mais que arrepiante.
Seguiu-se “Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?)” também
do novo álbum (primeiro CD), depois com
um certo groove “ Feel like Falling”
do anterior “Shrine Of New Generation Slaves”, continuando no mesmo fluxo de ideias “Hyperactive” do “Anno
Domini High Definition”, tema sobre a vida agitada de um qualquer cidadão
adulto neste mundo moderno, como diz a letra: "Here, you have to run as
fast as you can to stay in the same place."
Era o momento certo de acalmar os ânimos e embalar as almas
ao som da belíssima “Conceiving You” com
direito a uma introdução especial, versão em piano, de “I Turned You Down", ambas do
aclamado segundo álbum “Second Life Syndrome”, que mereceu um canto em
uníssono. Como o próprio vocalista Mariusz Duda disse: “É óptimo quando toda a
gente sabe as minhas letras e acompanha”. Aproveitando a pausa veio “02 Panic
Room” do terceiro álbum “Rapid Eye Movement” de 2007 e “The Depth of
Self-Delusion” do “Shrine Of New Generation Slaves” que evidenciou a
peculiaridade do som do baixo, com todos os efeitos agregados a si, que acaba
por ser um dos pontos que diferencia os Riverside de uma qualquer outra
apresentação musical, onde o instrumento acaba por ser ofuscado com todas as
camadas de guitarra e efeitos.
Era altura de tocar mais uma música do novo álbum, apesar
de ser uma viagem no tempo, estávamos de regresso ao presente com “Saturate Me”
e o vocalista escolhe o medo como temática. Nesse contexto tivemos a “We Got Used to Us” e
“Discard Your Fear”, com uma mensagem bem positiva sobre como encarar o
desconhecido. Foi por volta desta altura que tivemos direito a um engraçado
“Joke-time” em que o guitarrista Piotr Grudziński era visualmente o presente da
banda e o teclista Michał Łapaj o passado (está praticamente igual desde o
inicio da banda há 14 anos atrás, risos).
É após “Escalator
Shrine” que a banda sai e regressa momentos depois para o Encore em que anunciam um regresso ao seu passado, com uma versão
alterada de “The Same River” do primeiro álbum “Out Of Myself” cuja Intro de teclado é uma forma bastante
original de iniciar uma música (parte do joke-time ainda). Este momento épico de rock/metal
progressivo com imensas transições e dinâmicas, foi realmente o ponto alto da noite,
quase equiparado a uma viagem espiritual pelo tempo, passado, presente e futuro
colidindo numa explosão imersiva e densa num cosmos longínquo da memoria.
Delirante e febril é ser-se brando no que diz respeito a esta obra-prima que
atingiu o seu climax depois da sua
grande metade instrumental, quando a voz e baixo tomam posse e tornam todo
aquele sentimento em algo específico e dessa forma verbalizando o sentimento com
as palavras: “As you know I've always loved you and I know I will always
love...”, podendo parecer cliché contudo singelo e genuíno, “I am your fear,
hope,I am your grief, joy, I am your deed, word, I am your hate, love”.
A última
música foi a novíssima “Found (The Unexpected Flaw of Searching), que
transmitiu uma mensagem de esperança e pureza, ao som da balada o público
ergueu os telemóveis com as lanternas accionadas, substituindo os tradicionais
isqueiros que algumas pessoas ainda tinham, a pedido de Mariusz, foi já com os
aplausos sentidos de uma Paradise Garage comovido que se ouviu o tema
“Machines” de origem idêntica ao tema intro do concerto.
Texto: Tiago Silva
Fotos: Joana Mendonça (todas as fotos aqui)