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19/11/2015

[Report] Fear Factory+Dead Label+Once Human @ Paradise Garage

Em 1995 surgia um álbum que confirmaria os Fear Factory como uma das bandas mais originais e inovadoras dos anos 90. Vinte anos depois, Lisboa e o Paradise Garage seriam escolhidos para celebrar as duas décadas de existência de “Demanufacture” e os vinte cinco anos de carreira da banda, no que prometia ser uma noite aconchegante numa sala previsivelmente lotada.
Para a festa do passado domingo, 15 de Novembro, estavam convidados os Once Human e os Dead Label.

Seria pelos irlandeses Dead Label que as hostilidades se iniciariam.
A banda subiu ao palco ao som de música irlandesa, mas rapidamente caiu a máscara tradicionalista quando os primeiros acordes surgiram na sala e o seu metalcore invadiu os ouvidos dos presentes.

A casa ainda estava pouco composta, mas os seus riffs e bateria demolidora rapidamente puxaram o público para próximo do palco e o recinto foi enchendo. O trio irlandês apresenta um som sólido e de qualidade, a guitarra solta bons solos, o vocalista e baixista Dan O’Grady alterna um gutural rasgado com o cavernoso com qualidade e a bateria é dominada com mestria pela baterista Claire Percival reclamando para si grande foco da actuação. A timidez e desconfiança inicial foi-se diluindo, também pelo estilo interativo de Dan O’Grady que puxou pelo público e este correspondeu. Ainda com uma discografia curta (contam apenas com um álbum editado, esperando que o novo álbum veja a luz do dia ainda este ano), a setlist serviu sobretudo para levantar um pouco o véu do futuro trabalho. Saíram de palco ao fim de escassos 30 minutos de actuação, mas para quem não os conhecia foram com certeza uma agradável surpresa e uma positiva confirmação para os restantes.



Cerca das 21h20 seria a vez dos Once Human, naquela que seria uma oportunidade para ver pisar o palco o guitarrista Logan Mader, que após integrar bandas como Machine Head e Soulfly, largou os palcos e entregou-se à produção, até este novo projecto o colocar novamente frente a frente com o público.

Juntando a experiência de Logan com a juventude dos restantes membros, o grupo produz um melodic death metal no qual é possível identificar influências de Arch enemy, inclusivé a sua vocalista Lauren Hart (em alguns aspectos vocais, bem como em alguns gestos em palco) faz lembrar a mítica Angela Gossow, sem que no entanto consiga se aproximar da qualidade e carisma da mesma.
Foram recebidos por uma casa bem composta e muito headbanging, Lauren Hart sempre muito energética e sorridente em palco conduzia a banda através de uma setlist dedicada a apresentar o único trabalho, lançado este ano, “This Life I Remenber”, mas que curiosamente teria como momento mais alto a única excepção ao referido álbum, um cover de Machine Head, ‘Davidian’, recebida efusivamente pelo público, soltando um violento mosh pit na sala. A atuação non-stop extendeu-se por cerca de 45 minutos que fizeram subir a temperatura e deixaram a plateia no ponto para os Fear Factory.




A ansiedade que se vinha adensando com o evoluir da noite conduziu à erupção de êxtase da parte do público quando os primeiros riffs de ‘Demanufacture’ se fizeram ouvir.
Os 3 anos que separavam esta actuação da última atuação em solo nacional eram evidentemente tempo demais.
Os Fear Factory foram recebidos por um público realmente seu, uma casa cheia que logo desde inicio nunca deixou o vocalista Burton C. Bell a cantar sozinho. Entre os presentes alguns ainda estariam a apreender a juntar as vogais com as consoantes quando o álbum “Demanufacture” eclodiu, mas naquele momento as palavras surgiam por entre os lábios como se fossem um conhecimento inato a uma geração que também cresceu com aqueles riffs, aquele dualismo vocal e aquela bateria cadenciada com a precisão de uma máquina, um som brutal na sua influência de death metal, frio na sua mecanizada vertente industrial, numa palavra único. O álbum desfilou no seu alinhamento original provocando headbanging, crowd surfing, e muito mosh, numa manifestação de satisfação e saudosismo particularmente evidente nos temas ‘Replica’ e ‘New Breed’. 
Sem tempo para pausas, havia muito para tocar (a setlist incluía 17 temas), “Demanufacture” foi percorrido de uma ponta à outra num ritmo alucinante que não deu tempo para respirar à banda ou ao público. Só depois haveria um momento de pausa a separar aquilo que fora a primeira parte do concerto, o álbum aniversariante, e a segunda, que serviria para tocar alguns temas obrigatórios e apresentar o último álbum “Genexus” lançado já este ano. Sendo assim do álbum “Obsolete” (1998) ouviram-se ‘Shock’ e ‘Edgecrusher’ antes de a banda apresentar o novo álbum através das malhas ‘Soul Hacker’, ‘Dielectric’ e ‘Regenerate’, mostrando que ao fim de 25 anos o espírito é o mesmo, a fórmula é a mesma e ainda bem porque é exactamente isso que os seus fãs pretendem, como se pode ver pelas reacções aos temas. 
Burton C. Bell agradeceu aos fãs presentes e a banda despediu-se regressando às origens e tocando ‘Martyr’ do álbum “Soul of a New Machine” (1992) recebido com uma explosão de energia de uma plateia que apesar de 1h30 de headbanging não dava mostras de cansaço. A festa revelou-se digna da celebração dos 20 anos de “Demanufacture”, esperamos que a celebração dos 40 anos também passe por Lisboa e possamos estar presentes.

Texto: Henrique Duarte
Fotos: Joana Marçal Carriço (brevemente todas as fotos aqui)






Vídeos (abaixo) : Canal Youtube Paula Granada




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