8 de Agosto: Kreator, Epica, Soilwork, Sylosis, Kandia, Gates of Hell
Uma bela tarde de Sexta-feira aguardava a peregrinação metaleira à simpática cidade de Vagos.
Desde 2009 que o evento já é encarado como tradição, quer para os festivaleiros como para os habitantes locais, cada vez mais hospitaleiros. Pregam-se estacas e define-se nova morada de residência para os próximos dias. De preferência com sombra e alheia ao "ambipur" próprio das zonas sanitárias. Daqui para a frente a única dúvida que pairava no ar seria a complicada decisão entre a fiel amiga cerveja, que saltitava entre "fino" e "imperial" na capital do metal nacional, e o histórico Hidromel.
Com tudo preparado, dá-lhe gás com Gates of Hell! Com o recinto já bem composto começava a confirmar-se as previsões dos mais positivistas que apontavam esta edição como a de maior procura desde a primeira em 2009.
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Estava aberta a sessão.
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Os Kandia até poderiam ser uma novidade para muitos dos presentes mas não o eram de todo para a SFTD Radio.
Já por várias vezes falámos sobre esta banda que de certa forma criou polémica ao entrar neste cartaz. De facto não será a banda mais convencional de se inserir neste festival, o que só aumentava a pressão, especialmente sobre a vocalista Nya, pelo que os seus resultados seriam de especial interesse para todos.
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Do que se destaca, e já uma constante, recordamos a presença fiel da sua Luminous Legion que acompanha a banda como uma autêntica claque ultra que não teme vestir a sua camisola. Jogavam fora mas não faltaram. Para a história, deste que apesar de tudo, é um dos maiores passos na carreira da banda, fica a escalada entre ser vítima de uma pressão incrível por parte de um público que se demonstrou antagônico antes mesmo de dar a cara, conseguir ganhar o seu espaço em palco e finalmente conseguir demonstrar o que conseguem fazer de melhor. Não há nada mais metal que isto.
A primeira banda internacional, pode muito bem ser apontada como o primeiro grande momento do dia: Sylosis.
Os ingleses com já três álbuns e que, a par e passo, vão ganhando espaço na indústria, estavam em dívida para com o público português desde a passagem dos Fear Factory e Devin Townsend Project quer no Porto como em Lisboa, quando cancelaram a sua presença. Em vez de sedentos credores encontraram uma plateia derretida, não só pelo suor, mas pelo som projectado das colunas e amplificadores. Em certos momentos seria possível dar algumas festas na barriga de muitos dos cabeludos (e não só) que compõem a tal peregrinação.
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Seguiram-se os Soilwork que estiveram, como o estrangeirismo inglês diz bem, "far away for far too long". Uma década nos dias que correm é desligar por completo o cabo da ficha dos portugueses.
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O primeiro sunset desta edição foi marcado pelo seu Death Metal cada vez mais melódico, com uma evidente aposta no trabalho de produção cheio de elementos que preenchem todos os espaços em branco. Um peso demasiado dependente de aspectos técnicos, mas do norte da Europa não esperamos nós outra coisa. Não deixa de ser evidente uma certa influência americana em toda a dinâmica quer criativa como em palco diferenciando a banda de muitos dos seus conterrâneos tornando-a até mais acessível.
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Não eram uma novidade no curriculum do festival (estiveram presentes na primeira edição), e pelo número de passagens pelo nosso país nos últimos anos, podemos afirmar que os Epica têm um carinho especial pelos portugueses. E pelas portuguesas, sem discriminação face a eventuais ciúmes que possam ter pairado no ar.
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As vozes de insatisfação fazem se ouvir mais facilmente que as restantes, como em tudo, o que por vezes espelha a imagem errada do que realmente se passou. Não foi de facto um dos momentos chave do festival mas sejamos sinceros, Epica antes de Kreator dificilmente o seria por muito benevolente que fossem os peregrinos de Vagos. Os tão afamados guturais iam dando uma certa dinâmica a um concerto bem competente com direito a encore, com um belo solo de bateria em "Cry for the Moon" terminando com "Unchain Utopia" e "Consign to Oblivion".
Ficou prometida mais uma passagem pelo nosso país, entretanto marcada para 29 de Novembro no Paradise Garage em Lisboa.
Os alemães Kreator são uma instituição bem conhecida, e ao contrário de outras de sectores financeiros e industriais, bem acarinhada pelos portugueses que nunca fecharam os olhos ao contributo da banda na história do metal. A SFTD Radio ainda recentemente se tinha cruzado com a banda no Resurrection Fest, como assim o fora com os Angelus Apátrida e com os franceses Gojira.
Já nessa altura aplaudimos o nível de intensidade que continuam a saber conseguir aplicar nos seus espetáculos que de facto dificultam a explicação aos mais novos do porquê de bandas como esta estarem referenciadas no mesmo contexto de uns Metallica (antigos) ou de uns Megadeth sob a etiqueta de thrash metal. Isto é thrash metal. Old-school, clássico, como quiserem adjectivar... É pura destruição pincelada a power chords e a solos com tanto de rápidos como de furiosos.
30 anos de carreira são justificados com desfilar de clássicos e sustentados com álbuns mais recentes que tem sabido aplicar a fórmula Kreator, que tinha tudo para estar desgastada mas que continua a receber feedback positivo. Toda aquela interactividade com o público ainda soa tudo muito 80's e algo distante do que se faz a nível contemporâneo, mas tudo isso faz parte da experiência.
O concerto não fugiu ao que encontramos no mais recente álbum ao vivo "Dying Alive" que junta temas de "Phantom Antichrist" com alguns dos favoritos dos fãs. "Mars Mantra" é o soar do alarme. Não houve anti-aérias que evitassem o bombardeamento. O tema homónimo do ultimo trabalho de estúdio já está na ponta da língua, "From Flood Into Fire" de seguida...
O trabalho dos seguranças frente ao palco aumentou exponencialmente num ápice. O crowd surf foi uma realidade constante e o mosh pit tomou proporções dignas de um campo de batalha. Um espetáculo paralelo ao do palco. E um belo espetáculo diga-se. "Endless Pain" e "Pleasure to Kill" foram peças de artilharia pesada usadas bem cedo para não restarem dúvidas quanto às intenções de conquista determinista alemã. A estratégia foi sempre bem clara: encantar com o discurso de Petrozza nos momentos mais pacíficos e atacar sem tréguas sempre que podiam. "Hordes of Chaos", "People of the Lie" e a mais recente "Death to the World" iam puxando pelo público que nem precisava de confetis e grandes efeitos de fumo, como os que usaram para dar um certo pormenor ao espetáculo.
No entanto são ainda "Enemy of God" e a mítica "Violent Revolution" que arrancam o maior número de "Yeah's" e até mesmo algumas vénias. Por esta altura já os pulsos doíam tal a velocidade estonteante do palhetar. Os virtuosos do Air guitar não se limitam a imitar acordes e as palhetas a 1€ e 50 cent teriam de servir para algo mais que cerveja! "Civilization Collapse" antecedeu o tradicional encore. De bandeira em riste não houve espaço para dúvidas. It's time to raise..." The Flag of Hate"!! Abre-se a clareira, efectua-se um dos maiores Wall of Death do festival e espera-se não acabar a noite de lanterna na mão à procura de dentes. Um tema chave de toda uma carreira que distingue os Kreator dos restantes exemplos conterrâneos, "Tormentor" fechou a noite garantindo ainda alguns litros de suor, algum sangue, muito pó no ar e perspectivas de aumento de vendas tanto nas barracas de cerveja como de Hidromel.
Texto: Tiago Queirós
Fotos: Nuno Santos
Fiquem atentos à nossa página para as reports dos dias seguintes.
Entretanto vejam as fotos deste dia: