Depois do dia Zero no RCA Club na noite anterior, o já festival de culto da capital Under The Doom, conhecia na sua quinta edição a sala do Lisboa ao Vivo, para o dia Um, antes de retornar novamente ao RCA Club, para a ultima noite.
Estava previsto um grande final de tarde\noite, com um leque de bandas a passarem o palco que criavam imensa expectativa: o retorno dos InHuman no último concerto de comemoração dos 20 anos da edição de “Strange Desire”, as estreias em Portugal dos Cellar Darling, The Foreshadowing e Green Carnation, para alem da atuação de duas vozes femininas históricas do metal, Liv Kristine a solo, após cerca de um ano longe dos palcos, com a promessa de revisitar os tempos de Theatre of Tragedy, e Cristina Scabbia com os Lacuna Coil.
Os únicos representantes portugueses deste dia de festival fechavam a tour de promoção dos 20 anos do seu primeiro álbum “Strange Desire”, um clássico incontornável da vertente gótica do metal nacional. Trouxeram para junto do palco as ainda poucas dezenas de espectadores, cabendo-lhes a missão de quebrar o gelo, objetivo que a pouco e pouco foram alcançando.
Quando tocaram ‘Fallen Majesty’ já o público acompanhava a banda com aplausos, reagindo positivamente a todas as ações em palco. De tal modo que foi com generalizada satisfação que a banda terminou a sua atuação com ‘ A Feeling For Beauty’ findado um salutar regresso aos palcos do quinteto.
Muita tinta correu sobre as saídas de membros dos Eluveitie, particularmente a de Anna Murphy, sempre muito acarinhada pelos fãs. Uma das consequências dessa separação foi a união de 3 ex-membros, Anna Murphy, Ivo Henzi e Merlin Sutter, para criarem o projeto de Folk Rock Cellar Darling, que rapidamente conseguiu um contrato com a Nuclear Blast Records, lançando de imediato “This Is The Sound”, álbum que vinham apresentar ao Under the Doom, na sua primeira passagem por Portugal.
A expectativa entre os fãs de Eluveitie e os que já conquistaram traduziu-se no coro de gritos que os recebeu e nos corpos que se moviam viajando entre os Riffs da guitarra e os solos de sanfona, acompanhados com frequências pelos aplausos. Mesmo não beneficiando do melhor som na fase inicial, a voz de Anna destaca-se de imediato, pela sua beleza e por um modo muito próprio de cantar, dominando a atuação, apesar de se notar que ainda não esta completamente confortável na posição de frontwoman do conjunto.
A actuação teve como pontos altos os singles ‘Avalanche’, ‘Black Moon’ e ‘Challenge’, bem como ‘Six Days’, com Anna a deixar as cordas para mostrar mestria no instrumento de sopro. Saíram de palco, terminando a atuação sobe o embalo dos aplausos.
Foi com uma casa já bem composta e com cada vez mais fãs a entrar que os “The Foreshadowing” fizeram a sua segunda atuação em solo nacional, depois de na noite anterior terem tocado no dia zero do festival.
Os Doomers italianos fizeram ecoar Riffs densos e pesados nos corpos dos vários fãs que se encontravam na plateia, seguindo-se a voz de Marco Benevento que com uma emotividade dilacerante penetra na sala convidando o público a sofrer aqueles sentimentos impressos naquelas palavras. A intensidade com que produzem a sua música reflete-se na maneira como que em palco expressivamente reagem a ela e que contagia a plateia num momento de comunhão introspectiva.
A sua musica perfeitamente enquadrada nas raízes do festival teve possivelmente o seu momento de apogeu no tema ‘The Dawning’ do álbum “Oionos”, deixando os versos “And I've seen with my eyes the sorrow of who wore a crown of thorns” gravados na memoria individual bastante depois do final da atuação, merecedora dos aplausos de quem não quer esperar mais de uma década para os ver de novo em Portugal.
Outra estreia da noite em solo nacional, os noruegueses Green Carnation traziam até palco o seu rock progressivo\ avant-garde metal e uma mescla de influências que vão do gótico ao Doom, fundidas pela soturna genialidade de Tchort.
(c) Joana Cardoso / Arte Sonora |
Tocaram os primeiros acordes cerca das 22 horas perante uma casa muito bem composta e muito pouco transitável nas imediações do palco. E logo demonstraram ao que vinham, melodia que irrompe em peso, um desafio de beleza e inquietude angustiante, construído camada a camada pelas vozes e pela complexidade das pautas que os instrumentos fazem ouvir. o longo Sound Checking não evitou que as primeiras musicas fossem marcadas por varias correções e alguma dificuldade em encontrar o equilíbrio entre as vozes, situação que ao terceiro tema ‘Myron & Cole’ parecia resolvido, tendo a melodia emotiva das vozes, contrastando com o peso pontual dos instrumentos arrebatando todos para o universo criativo da banda.
Temas como ‘The Boy in the Attic’, ‘A Place for Me’, ‘Pile of Doubt’, bem como o tema com que terminaram a atuação ‘When I Was You’ conduziram a plateia por uma viagem por paisagens melancólicas impregnadas de vida e morte, tristeza introspectiva que impactou todos com emotividade arrebatadora. Destaque ainda para um tema novo ‘Sentinels of Chaos’ recebido com total aceitação da plateia.
Falar de Metal Gótico é também falar de Liv Kristine e dos Theatre Of Tragedy.
A musa norueguesa é uma das vozes femininas incontornáveis do metal e do género. Afastada dos palcos há cerca de um ano, e dedicada, agora que deixou os Leaves' Eyes, exclusivamente à sua carreira a solo, prometia ainda assim revisitar temas dos Theatre Of Tragedy criando uma redobrada nostalgia na sua atuação.
(c) Joana Cardoso / Arte Sonora |
Logo na intro foram muitos as vozes que se fizeram ouvir por parte dos fãs mais ansiosos para a receberem, que vibraram mais intensamente com o alcance da sua voz logo no tema de abertura ‘Vervain’. Logo de seguida uma cortina de nostalgia desceu na sala quando a sua voz angelical nos conduziu até aos tempos de Aégis no tema ‘Venus’.
Da sua set list cinco temas eram covers, três deles dos Theatre Of Tragedy, para alem do já referido, para gáudio da plateia, ouviram-se também ‘Image’, provocando um pequeno bailarico, e ‘Siren’. Temas que apesar de despidos do apoio da voz de Raymond Istvàn Rohonyi, foram possivelmente o ponto mais alto da atuação. As outras covers foram ‘Rooting for you’ de London Grammar e um emotivo ‘Changes’ dos Black Sabbath, com o qual terminou o concerto.
Do seu trabalho a solo a viagem foi feita através de ‘Silence’, ‘Panic’, ‘My Wilderness’ e ‘Love Decay’ para além do tema de abertura.
Do seu trabalho a solo a viagem foi feita através de ‘Silence’, ‘Panic’, ‘My Wilderness’ e ‘Love Decay’ para além do tema de abertura.
Com uma carreira tão vasta é impossível satisfazer totalmente todos os presentes, ficando sempre de fora temas icónicos e que à sua maneira serão sempre mais especiais para cada um, particularmente tendo em conta que entre as várias gerações presentes, cada uma cresceu com a sua música em fases diferentes da sua vida. De certeza que foi uma curta mas nostálgica viagem e uma positiva prova de vitalidade muito aguardada.
Outro nome incontornável do Metal Gótico, os Lacuna Coil subiam a palco para fechar a noite, com um concerto inserido na última tour de promoção do álbum “Delirium”. Envolvidos numa certa componente cénica subiram a palco começando a atuação pelo trabalho mais recente.
Recebidos de imediato com enorme entusiasmo, facilmente se estabeleceu uma relação de proximidade entre a banda e aqueles que se encontravam na sala. À energia eletrizante que emanava de palco respondeu a plateia com os headbangings mais fortes da noite. Em modo festival riscaram da set list da tour três temas, existindo ainda assim tempo para viajarem pela sua discografia, apresentando “Delirium” sem esquecer os clássicos.
‘Blood, Tears, Dust’ foi talvez o tema do último trabalho que mereceu melhores reações, o trabalho das vozes de Andrea Ferro e Cristina Scabbia encontram aqui um ponto de perfeita harmonia, complementando-se de um modo que não deixa ninguém indiferente e demonstra a grande forma dos dois vocalistas.
‘Trip The Darkness’ demonstrou a capacidade da banda para resgatar todas as energias da plateia que apesar de já à muitas horas se encontrar dentro daquele espaço não deu provas de cansaço. Energia redobrada quando a nostalgia invadiu a sala com ‘Swamped’ e ‘our Truth’ e as vozes se ergueram a cantar afinadas apesar da multidão que se lançava aos saltos.
‘Trip The Darkness’ demonstrou a capacidade da banda para resgatar todas as energias da plateia que apesar de já à muitas horas se encontrar dentro daquele espaço não deu provas de cansaço. Energia redobrada quando a nostalgia invadiu a sala com ‘Swamped’ e ‘our Truth’ e as vozes se ergueram a cantar afinadas apesar da multidão que se lançava aos saltos.
Pelo meio o clássico cover de Depeche Mode ‘Enjoy the Silence’ entoado a uma só voz pelas almas que preenchiam o Lisboa ao Vivo.
Antes da pausa para o encore momento para Cristina falar dos vinte anos de carreira, recordando as tour com os Moonspell e levantando um pouco o véu sobre como pretendem celebrar essa data com um concerto em Londres e um livro a que vão chamar Nothing Stands in Our Way, tema que interpretaram de seguida.
Para o encore fizeram nevar com o tema natalício ‘Naughty Christmas’, terminando a atuação com ‘Heaven's a Lie’ e ‘The House of Shame’, saindo de palco, premiados com a maior ovação da noite.
Dia muito positivo, recheado por excelentes concertos e um público perfeitamente à altura dos mesmos. O festival continuava no dia seguinte no RCA Club.
Texto: Henrique Duarte
Agradecimento especial pela cedência das fotos a Joana Cardoso / Arte Sonora. Podem encontrar todas as galerias aqui
Vídeos (ver mais abaixo) : Canais Youtube xxxgorexxx e Susana Gonçalves
Texto: Henrique Duarte
Agradecimento especial pela cedência das fotos a Joana Cardoso / Arte Sonora. Podem encontrar todas as galerias aqui
Vídeos (ver mais abaixo) : Canais Youtube xxxgorexxx e Susana Gonçalves