Passados 4 anos das passagens pelo Incrível Almadense e pelo Hard Club no Porto, os Symphony X não se esqueceram do nosso país (desta vez com data única) com mais uma magistral prestação no Paradise Garage no passado domingo, 28 de fevereiro.
O nosso Portugal parece tê-los conquistado na sua tardia estreia, à data com Iconoclaust a servir de pretexto, mas esta primeira vez na capital pode muito bem ter resultado numa definitiva consagração perante o público português que encheu a sala e se demonstrou rendido desde o primeiro momento. Underworld, o nono álbum da banda norte-americana, bem afamada pelo seu metal progressivo, parece seguir a linha de pensamento dos últimos trabalhos de estúdio. Este foi apresentado na íntegra pelo que grande parte da análise que podemos fazer da noite acaba por se assemelhar a uma possível crítica quanto ao próprio LP.
Os fãs mais ferrenhos dos primeiros tempos da banda, quando conquistaram a primeira vaga de fãs e alcançaram sua internacionalização, podem até torcer o nariz pelo simples facto de os seus picos enquanto compositores possam estar ainda presentes em álbuns como The Divine Wings of Tragedy, sendo difíceis de agradar face ao que daí em diante possa surgir. Verdade seja dita que à época o pico do metal que praticam parecia ter atingido o seu auge e que aparentemente estaria restrito à repetição de fórmulas ou aprimorar certos detalhes. No caso dos Symphony X essa conclusão foi contrariada com exemplos como The Odyssey e especialmente com a excelência de Paradise Lost e, desde aí, sim, prevaleceu a segurança dos resultados obtidos.
O som mais expansivo é igualmente mais acessível, algo que no seu caso pouco ou nada põe em causa o seu nível enquanto baluarte do som pesado e sinfónico. Os resultados são claros e em Lisboa comprovámos isso: o seu público deixou de estar restrito a um só alvo e abriu as portas a quem possivelmente estaria mais distante deste tipo de música. No Paradise Garage, assistimos a um a moldura humana bem mais vasta e variada do que possivelmente encontraríamos se a banda tivesse passado por cá nos seus primeiros anos de carreira (que parecendo que não, já conta com duas décadas de existência) e isso deve ser um aspecto a valorizar na forma como a conduziram.
Os Symphony X não pretendem tornar a sua música restrita ao elitismo que muito Prog parece adorar - venerando o próprio umbigo - e não tem vergonha em assumir a experiência de puro entretenimento em palco. Mesmo que seja sempre constrangedor ver quarentões a abanar as ancas. O quinteto está abertamente a desfrutar da música que faz e claramente que não são os únicos! Underworld continua enamorado do heavy metal clássico com momentos carismáticos e repletos de "catchiness" que o Power Metal não renega, aprimorado ainda pelo toque sinfónico fazendo jus ao nome de baptismo. As influências neo-clássicas continuam lá, muito valorizadas pelo papel irrepreensível do guitarrista Michael Romeu que por diversas vezes fez relembrar o virtuoso Yngwie Malmsteen.
As complexas escalas e harmónicas orelhudas demonstram bem o tecnicismo a que sempre se associaram. Das teclas de Michael Pinnella constatámos que as camadas e texturas criadas em estúdio elevam o som ao vivo tornando a experiência ainda mais épica. Ao som da introdução "Overture", a banda de New Jersey entrou em palco e atacou de imediato "Nevermore", um dos temas fortes do último álbum. O som conduzido pelos viciantes riffs de guitarra - aliado ao jogo de luzes (pouco aconselhado a epilépticos)- revelou à partida que dificilmente poderiam desiludir. Pelo menos aqueles que, como nós, já estariam à partida familiarizados com o álbum. A setlist manteve formato normal da tour reservando os nove primeiros temas apenas para Underworld na sua ordem com excepção de "Kiss of Fire" e "Without You" que trocaram entre si (seria este o desejo no álbum?).
O tema título "Underworld" e "Kiss of Fire" foram dois dos temas mais pujantes da noite, com muito do feeling "thrash" (retirem os elementos sinfónicos, não escutam ali um Mustaine algures? Não? Se calhar é demais...). Já "Without You" fora a grandiosa Power Ballad da noite com contornos épicos e dantescos, enunciados pelo poderoso vocalista Russel Allen. Da sedutora "Charon" ao binómio teatral em tom de rock opera de "Hell and Back" foram também vários os momentos de descontracção em diálogo com o público: relembrando, por exemplo, o estado da música e valorizando este nosso "micro-clima" metaleiro face aos devaneios da Pop que até a filha do frontman, de 7 anos, é naturalmente vítima.
De arrepiar fora mesmo "Swansong", dedicado a todos aqueles que fomos perdendo pelo caminho, assim como à dor inerente de quem vê partir de forma impotente. Posta de parte todo o acto montado em redor do novo álbum, os Symphony X ainda presentearam os fãs old-school com alguns temas dos seus álbuns mais aplaudidos. "The Death of Balance / Lacrymosa" fora o único retirado de V: The New Mythology Suite e retirou por breves momentos Russel como centro das atenções dando oportunidade àquele luxuoso backline estar sob as luzes da ribalta num momento instrumental que dignificou o tal prefixo Prog que lhes está sempre associado.
De Divine Wings of Tragedy saltaram para a recta final "Out of Ashes" e "Sea of Lies" mas foi já em encore que "Set the World on Fire (The Lie of Lies)" arrancou o maior coro da noite, comprovando que Paradise Lost é um autêntico clássico.
"Legend", até pode ser o último tema presente em Underworld mas não deixou de se afirmar como um dos melhores que dele podemos retirar. Foi a escolha para o momento da despedida e essa fora feita com a total noção de dever cumprido. A vitória fora deles e fora nossa. Aos que ficaram a olhar para a setlist e decidiram ficar em casa o público deixou uma mensagem : "That's Bullshit!"
Longe do ponto de equilíbrio incomparável de uns Orphaned Land, os tunisinos caem em alguma demasia nos clichés e nessa perspectiva acabam involuntariamente por perpetuar os preconceitos do que se espera de uma banda de metal desta região. No entanto, o potencial está lá e a simpatia em palco muito ajudou a conquistar os portugueses.
Para memórias futuras muito contribuiu o impacto visual de Kahina que com a sua dança do ventre deu cor ao concerto.
A abrir a noite, de forma pontual, os Melted Space tiveram o privilégio de terem um vasto público pela frente, algo que nem sempre constatamos nestes eventos. Esta paisagem frente ao palco muito contribuiu para os níveis de receptividade dos metaleiros. Esta constatação, que nada se prende com a prestação em si, serve à compreensão da descontração visível na plateia e isso acaba por baixar a fasquia e o critério rígido que muitas bandas são sujeitas aquando de concertos mais "frios", vítimas de salas menos compostas que criam um certo distanciamento do feeling que se pretende transmitir do palco.
Por muito que se queira ignorar este facto, o contexto dita muito do que o público retira do espetáculo.
Neste caso em concreto, os Melted Space foram beneficiados por essa realidade. A procura em criar contrastes vocais pareceu algo excessiva e na prática não pareceu trazer nem grande originalidade nem favoreceu os temas de forma a justificar tal opção. Não sendo uma prestação imaculada ou que nos deixasse estupefactos também não desagradou o público, aparentemente.