A noite de Halloween apresentou-se tão rica em eventos que tivemos dificuldade em decidir para qual deles dirigir a vassoura e voar até lá. Fomos parar à SFOA – Sociedade Filarmónica Operária Amorense, no Seixal, onde os
Painted Black, os
Hourswill e os
The Chapter, com a promoção da Pastilha Félix Productions, agarraram a responsabilidade de oferecer umas horas de bom metal a quem optou por escolhê-los nesta data tão movimentada.
O público era reduzido e demorou a compor-se, levando a um atraso considerável na hora de início dos concertos. Valeu o facto de a SFOA ser um local simpático, com boas condições para quem espera, especialmente quando a fome e a sede apertam.
Com uma hora e meia de atraso, a agradável sala de concertos da SFOA recebeu os
The Chapter para iniciar a noite de todos os demónios, bem escolhida para dar-nos a conhecer esta banda do Seixal que, afinal, já põe as guitarras melódicas a trabalhar desde 2005, tendo lançado o EP
Into the Abyss, em 2006.
A
setlist que apresentaram incluiu temas mais recentes e uma
cover do arrepiante
Falling World, dos finlandeses
Swallow the Sun, que em breve nos visitarão. Ficou-nos no ouvido a carga melódica das guitarras e a voz de Pedro Rodrigues, que completa eficazmente o quadro death metal melódico que já pintam há alguns anos. Gostámos da atuação, que foi crescendo em intensidade, ultrapassado o desconforto que um público diminuto sempre semeia em quem se encontra em cima de um palco.
Os
Hourswill apresentaram-se com a confiança de quem possui algo de original para oferecer, produto de largos anos de trabalho, frequentemente dificultado pelas alterações no
line up da banda, mas que, ainda assim, conduziu ao lançamento do álbum
Inevitable, em 2014, com boa aceitação por parte de alguma imprensa especializada, nacional e não só. Ouvimos, portanto, temas deste primeiro registo, intercalados com momentos de boa interação com o pouco público presente. Estivemos perante uma atuação que provoca alguma estranheza inicial, mas que se aprende a apreciar, uma vez entranhados os elementos progressivos que lhe dão corpo e lhe conferem originalidade. Talvez devido a alguns problemas no som, não vibrámos com a voz mas a banda vale pelo seu todo e pelo ambiente que consegue criar em palco.
E, finalmente, os Painted Black tomaram conta da sala da SFOA, relembrando-nos por que foram considerados, várias vezes, uma das melhores bandas de metal portuguesas, ainda antes do lançamento do seu único álbum, Cold Comfort, em 2010. Apenas cinco temas, de uma intensidade de cortar a respiração, conseguiram desligar a mente do público que ansiava por voltar a ouvi-los ao vivo, produzindo excelentes momentos de bom metal, com a pulsação própria do doom. E não vieram sozinhos: Micaela Cardoso acompanhou-os na interpretação do primeiro tema, Via Dolorosa, tal como o fizera para a gravação do álbum.
Após o tema The End of Tides, também do álbum Cold Comfort, fomos brindados com uma cover do tema Noose, dos Sleeping Pulse, banda britânica da qual também faz parte o guitarrista Luís Fazendeiro. Apesar dos avisos do vocalista Daniel Lucas de que a sua voz poderia desiludir os que conhecem a de Mick Moss, a verdade é que a sua voz não ficou a perder e esta interpretação foi mais uma das que compôs uma atuação que considerámos, no global, digna de registo na nossa memória.
Tivemos ainda direito à apresentação de um tema novo,
Dead Time, a ser incluído no próximo álbum, previsto para 2016, tal como informou
Daniel Lucas. Esperamos que assim seja, pois ainda nos soa no ouvido o final sublime deste tema, que nos mantém presos às cordas da guitarra de
Luís Fazendeiro, enquanto se calam os restantes instrumentos. Já estão, portanto, devidamente criadas as expectativas em relação a este novo trabalho.
Seguiu-se, por fim,
Inevitability, que também esperávamos ansiosamente e que encerrou, com chave de ouro, um concerto que se prolongou bem para lá da 1 h da madrugada mas que justificou todo o tempo de espera.
Terminou assim o evento da nossa noite de Halloween, nada assustadora, num ambiente quase intimista, de partilha de bons momentos de metal.