No sábado, 29 de novembro, o Cine Incrível, em Almada, recebeu os Veinless, para um concerto com intenção e significado especiais. A banda atravessa uma fase importante do seu percurso, encontrando-se, atualmente, a gravar o seu novo trabalho e foi, portanto, esta sala, onde se sentem em casa, o palco escolhido para um concerto que teve, como objetivo principal, a recolha de imagens para o videoclip do tema 'Outra Vez'.
O anúncio da utilização de imagens para o videoclip foi feito antes do concerto pela direcção do Cine Incrível. De imediato, todos os presentes sentiram-se envolvidos e motivados para colaborarem e fizeram-no, de facto, ao longo do concerto e, em especial, sempre que lhes foi solicitado pelo realizador.
Intercalando temas do álbum anterior com outros, na sua maioria já existentes, mas que só agora serão editados, a banda conseguiu surpreender ao apresentar alguns elementos novos nas suas composições mais recentes, revelando a procura constante da originalidade e sem perder os traços que os caracterizam, quer ao nível técnico, quer ao nível lírico.
Foi ainda o primeiro álbum a marcar o início da atuação, com os temas Share the Guilt (TV Wars) e Drunken Nightmare a arrancar os primeiros aplausos e headbangings da noite. A banda apresentou-se forte, a transpirar confiança e a experiência de mais de dez anos de trabalho.
Em seguida, Liberty, o primeiro tema do novo álbum a ser apresentado, agarrou o público de imediato, apresentando uma sonoridade mais groove e um registo de voz limpo, no qual o vocalista António Boieiro, que nos habituou à rouquidão, também se movimenta muito bem.
E seguiram-se mais dois temas a figurar no próximo álbum: Outra Vez e Basta, Besta, ambos em português, como é claro, uma novidade que nos surpreendeu e agradou. Destacamos o primeiro, não só por ser o tema que acompanha o videoclip com as imagens do concerto, mas também pelas suas variações rítmicas, iniciando-se cadenciadamente e ganhando velocidade até o som transmitir toda a intensidade da letra e a palavra quase se transformar em grito. A banda, tecnicamente irrepreensível, conseguiu este efeito de forma brilhante, mostrando-se coesa e com uma entrega total em palco. A temática explorada não deu alternativa e exigiu este nível de entrega, pois assuntos como o vício, a fraqueza e a queda humanos não são fáceis de transportar para o palco. E se dúvidas houvesse, a banda conseguiu fazê-lo novamente, ao repetir Outra Vez, no final do concerto.
Duas covers foram os temas seguintes: Saudade, dos Heróis do Mar, e Phobia, dos Kreator, esta última a fazer realçar toda a aceleração típica do thrash metal que também serve de influência à banda.
Fomos, em seguida, transportados para a Land of Dust, outro tema para o próximo álbum, e no qual voltámos a verificar variações interessantes. Desta vez, deparámo-nos com uma composição diferente: riffs longos e bastante melódicos, com fases limpas e outras carregadas de distorção, dando força e corpo à música. O resultado é uma melodia que fica no ouvido e que se adequa perfeitamente à temática forte da letra, com alguns versos em português.
Após mais três temas do álbum anterior (Enchanted Kisses, A Beggars Tale e Losing Faith), seguiram-se Johnny the Real e Wake Up, do novo trabalho. Em ambos, a banda impôs um ritmo frenético, que a influência thrash metal não deixa abrandar por muito tempo, e que a voz rouca de António Boieiro acompanhou e complementou, através da letra enegrecida de protesto e crítica social, a que já nos habituou.
O concerto terminou, com a repetição do tema Outra Vez e com a recolha de mais algumas imagens, a pedido do realizador do videoclip.
Foi com grande satisfação que pudemos participar neste momento feliz da carreira dos Veinless e assistir às execuções excelentes dos guitarristas Roger e Kronos, e à perfeição do baterista Thrash e do baixista Eddie, este último com uma postura magnífica e simpática em palco.
Confirmámos que continuam a caracterizar-se pelas temáticas incómodas, brilhantemente exploradas por António Boieiro e acompanhadas por uma sonoridade cuja intensidade não dá tréguas, ocupa o pensamento e obriga à reflexão. Não se trata de uma tragédia grega mas o efeito catártico está presente na sua mensagem: tomando consciência das fragilidades sociais e de cada ser humano em particular, é possível reagir e diminuir o sofrimento.
Salientamos, por fim, o ambiente agradável da Cine Incrível, enriquecido de cumplicidade e amizade entre esta banda e o público presente.
Esperamos ansiosamente pelo novo álbum, cujo nome não foi ainda revelado, e que, acreditamos, trará mais algumas boas surpresas. Até breve \m/.
Texto : Sónia Sanches
Fotos: António Gaspar (vejam abaixo todas as fotos)