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10/04/2017

[Report] Moita Metal Fest 2017, parte II (sábado) com vídeos

Por muito dura que tenha sido a noite anterior, não passou de um bom aquecimento para a já habitual maratona de Sábado.

Ao segundo dia do Moita Metal Fest tivemos nada menos do que treze bandas a subir ao palco. Do Thrash ao Heavy, do Hardcore ao Gótico...podem ter faltado pernas mas certamente não faltou fartura.

REPORT 1º DIA | 2º DIA 


Por volta das 15h, num belíssimo dia de Primavera, os mais pontuais (e possivelmente menos ressacados) apresentavam-se pelo recinto ainda num número naturalmente aquém do que testemunharíamos ao longo do dia.

Mantendo a tradição, a organização voltou a apostar em nomes que ainda buscam o seu espaço no meio para aquecer as hostes. Este ano coube aos Enblood e aos The Zanzibar Aliens tal honra.

Os primeiros, vindos de Almada, são uma jovem banda de Death Metal que está a romper no nosso meio já com passagens pelo Hell in Sintra e pelo Kamikaze Fest. A brutalidade da sua música fora uma chapada nos corpos dormentes que ainda tentavam assimilar o regresso à tenda que tantas energias consumiu na noite anterior. Uma entrada, como esta, a pés juntos logo no apito inicial deveria dar direito a cartão. Primazia da guitarra e gutural estilo Mikael Akerfeldt. Os Enblood devem ficar debaixo do vosso radar.

Já os segundos ofertaram um leque de musicas drasticamente mais contidas nos BPM's, algo que parece ter surtido um pouco mais de simpatia perante um público que, apesar de acostumado ao peso e velocidade, pretendia um certo aquecimento prévio.

Dificilmente associaremos os The Zanibar Aliens ao "nosso" underground hard'n'heavy nos próximos anos. As evidências são claras, quer ao nível da música que praticam como na forma como vão surgindo num leque de eventos mais mainstream e distantes dos géneros que mais aplaudimos. Vodafone Mexefest e eventos em órbita do Paredes de Coura e Optimus Alive sublinham bem esse facto.

A praticarem um som revivalista, que de facto até editoras como a Nuclear Assault apostam, acabaram por ser uma carta fora de baralho mas nem por isso mal recebidos, antes pelo contrário.
Sentido o pulso e trocando opiniões a ideia que fica foi de pleno agrado. Musicas catchy e bem instrumentalizadas refrescaram a alma daqueles que fugiram do sol e não se dissuadiram com a presença de um nome menos familiar.
Longe de soarem ao tipo de nostalgia stoner/hard/psicadelico que muito metaleiro abraça em exemplos como Kadavar, Gravedigger ou Blues Pills, os The Zanibar Aliens são mais banda de imaginário Rock do público de uns Capitão Fausto. Não sendo uma crítica pejorativa, aplaudimos a ousadia rara de ver uma banda como esta a sair da sua área de conforto.

Um nome já mais afirmado no metal nacional era o dos Burn Damage, que, mais uma vez, não falharam em proporcionar uma boa dose do seu death "groovesco" que funciona muito bem ao vivo.
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Inês "Gossow" Freitas foi inevitavelmente o centro das atenções, não só por ser a única menina de todo o cartaz, mas também por envergonhar muito homem de barba rija na arte de vocalizar as vozes mais cavernosas.

Temas como "Acid Rain" e a mais recente "Fire Walk With Me" agarraram uma multidão bem maior do que nas bandas anteriores.

Com uma formação estabilizada e com o LP Age of Vultures a banda demonstrou que não está para brincadeiras... agora só se lhes pede que ultrapassem a rigidez de quem está demasiado focado, e bem, em executar os temas. Os Burn Damage têm material para poderem ambicionar ser uns WAKO no panorama nacional mas não se podem esquecer que este é um exemplo de que bons álbuns são apenas metade da equação e que é importante ter em mente que o som que praticam, para ser maximizado, depende também de uma maior dinâmica nas performances ao vivo.

Nós já lhes testemunhámos concertos mais "soltos" e confiantes, com total domínio do palco. Fomos mal habituados e agora queremos mais disso em todo o festival ou recinto por onde nos voltarmos a cruzar porque esta é, nada menos, que uma banda a seguir nos próximos anos.

Fast Eddie Nelson primou pela diferença, fazendo valer o tal ecletismo que tanto aplaudimos no MMF.
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O seu rock sulista, curiosamente vindo do Barreiro, trouxe um pouco mais Tabasco à mistura de sabores musicais que saboreamos ao longo do fim de semana.
Porventura a cover de "Motörhead" sobressai nas memórias futuras dos metaleiros que não esconderam o agrado de um set personalizado para a ocasião.


Mestre na arte das seis cordas e com muita influência visível no blues rock norte-americano, o músico demonstrou também o seu poderio vocal.


Já faz algum tempo desde que vos reportámos a Restless Tour na sua passagem por Lisboa. Nessa noite testemunhamos algo que descrevemos como sessão de contornos gospel americanos com níveis quase religiosos. Jogava em casa com uma simbiose clara com Sam Alone & Gravediggers, The Fellowman e Roy Duke (Texabilly Rockers) numa ementa do mais luxuoso southern praticado em Portugal.

 O Moita pouco ou nada se assemelha a tal ambiente. Nelson Oliveira não se ressentiu e nós tiramos o chapéu por isso mesmo.
Terá sido efeito do Rui Guerra nas teclas? Se existem roqueiros que tenham apaixonado a Moita e o coração dos metaleiros, esses terão sido os The Quartet of Woah...

Peso bruto e visceral. Da margem norte do Tejo os Analepsy voltaram dois anos depois para nos voltarem a oferecer isso mesmo. Aquilo que fazem tão bem e que os aponta como sucessores de gerações como a dos Grog e dos Holocausto Canibal.
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Com Atrocities From Beyond, o mais recente registo de estúdio que está a deliciar a crítica do metal mais extremo, o quinteto comprovou que a complexidade das suas composições não fica a desejar perante o que se pratica além fronteiras.

Com uma setlist coesa, que naturalmente privilegiou o álbum já citado, a banda não fora diplomática perante puritanos e não poupou na artilharia pesada com temas como "Apocalyptic Premonition", "The Vermin Devour", "Eons in Vacuum" assim como "Colossal Human Consumption" e "Viral Desease", entre outras, do EP Dehumanization By Supremacy.
Sérgio Afonso dos Bleeding Display subiu também ao palco para substituir os guturais de Diogo Santana em "Worm Putrefaction" num dos grandes momentos do dia adicionando combustível a uma mistura só por si bastante explosiva.
O seu Brutal Death Metal pode não ter caído no goto de todos mas não fora indiferente a ninguém. É essa a grande vitória que uma banda do género pode ambicionar e a essa fora concretizada com saldo bastante positivo. A frontline que o confirme.

Seguiram-se os Attick Demons e a transição de público fora clara e sem surpresa. Os amantes da música pesada mais tradicional há muito que estão familiarizados com a banda, que carinhosamente apelidam de Iron Maiden portugueses, e o seu apoio fez-se sentir.
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O vocalista Artur Almeida fora, mais uma vez, fantástico a replicar as características que nos apaixonam em Bruce Dickinson, do timbre de voz às movimentações em palco.
Junte-se aquele clássico ataque twin guitar e o tom épico instala-se.

Para quem não tenha arredado o pé da tenda, picando o ponto em todas as bandas, é inevitável sentir a mudança drástica de tom. Seja como for, passados os primeiros minutos de adaptação era fácil cair na teia daquela sonoridade da New Wave of British Metal (que de "new" não tem nada).

O último registo data 2016, Let's Raise Hell, e naturalmente todas as oportunidades são boas para mostrar novo material, como fora o caso.
Como é curioso que deste tipo de sonoridade o Metal tenha evoluído e diversificado-se para sub-géneros tão distantes como o da banda anterior ou para as que haveríamos de ter pela frente...
Attick Demons foram uma agradável sessão de revivalismo. Nunca é demais lembrar a história desta que é a nossa cultura musical pois é única, incomparável e fascinante.

Amigos da casa e potenciais herdeiros de um trono ainda ocupado pelos anfitriões Switchtense, os Primal Attack apresentaram cedo a candidatura de Heartless Opressor para álbum do ano. A moldura humana cresceu consideravelmente, comprovando a ideia de que este era dos concertos mais esperados, não só no final de tarde como na soma de ambos os dias.
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A turma de Pica, uma figura já conhecida desde os tempos dos Seven Stitches, subiu ao palco e mostrou ao público que o novo material é muito mais do que uma sequela de Humans: mais amplo, trabalhado e melhor produzido.

Musicas como "The Prodigal Son" mantêm bem a identidade groove metal com pequenos pormenor que nos recordam os lendários Pantera.
Foram poucos temas retirados do álbum de estreia sendo o single "Despise You All" o que surtiu maiores efeitos. Ainda nos lembramos de ver este álbum apresentado na República da Música e é bom poder confirmar os prognósticos que apontávamos para esta que é das bandas thrash/groove com claro aumento na popularidade sem baixarem a fasquia. Pelo contrário.
"Este é o Festival que reúne mais amigos", disse o carismático vocalista, constatando uma verdade clara e evidente. Sem duvida que a frase fora mais do que um soundbite, fora a punchline deste MMF2017.

Teriam feito todo o sentido logo após Attick Demons visto partilharem o mesmo imaginário sonoro mas esta salada de frutas metaleira não cedeu a clichês:
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Os Midnight Priest retomaram a dose de Heavy Metal num concerto semelhante ao que testemunhámos no Vagos Metal Fest. Desta vez sem ter o sol de chapa e num horário mais tardio, a banda acabou por ver o seu tempo de palco a competir directamente com aquele que muitos consideravam o jogo do título.

De qualquer forma, ainda foram bastantes os presentes que não embarcaram em euforias futebolísticas e permaneceram perante os músicos que nos brindaram os já clássicos "Rainha da Magia Negra", "Ferro em Brasa" e "Boleia com o Diabo" tendo direito a um público a ecoar as letras. O jovem vocalista agradeceu a nossa presença e nós agradecemos o seu pitch vocal soberbo.
Perfeito, com todas as suas imperfeições, em catapultar-nos para um imaginário de possível aventura motard. "Into the Nightmare", "Thunderbay" e "Hellbreaker" demonstraram que a versão 2.0 da banda continua a manter a sua essência nuns Judas Priest.

Os grandes penalizados pela partida no Estádio da Luz foram os Revolution Within, velhos amigos da casa, que mesmo assim não baixaram os braços e voltaram a promover as suas famosas caldeiradas no mosh pit.
Raça, uma figura à semelhança de Hugo (Switchtense), não poupou nas palavras de ordem.
É certo que já lhes vimos melhores momentos, mesmo neste festival, mas dizer que o único Wall of Death organizado do Fest fora neste concerto em particular já deve dar uma ideia... o seu groove estilo Hatesphere continua a fazer mossa e ao terceiro álbum já ninguém duvida que são um dos nomes a ter sempre presente na memória nesta vaga de thrash moderno.

Foram explosivos e obrigaram-nos a suar. Pode não ter durado 90 minutos mas ao menos neste estádio alguém levou os 3 pontos.

O momento mais sombrio ficou a cargo dos Corpus Christii que não só trouxeram um dos álbuns mais esperados no Black Metal português como proporcionaram um dos concertos mais poderosos na sua estreia no MMF.

O jogo de luz, os blast beats, a voz crua... o Metal mais blasfemo e sombrio trouxe escuridão a uma tenda que trocou o mosh pit por uma aparente seita entregue ao headbanging hipnótico, irracionalmente praticado sob o tom maquiavélico de Nocturnos Horrendus.

Delusion promete ir ainda mais fundo que o seu antecessor Palemoon e reclamou a sua presença nas nossas colecções de CDs.
Preto no branco, mais do que o seu corpse paint, ficou claro que esta instituição do espectro mais escuro da música pesada está de volta e em força!

Um dos nomes mais esperados, mesmo que distante do que consideramos Metal, era o dos No Turning Back, banda de hardcore holandesa que há muito que conquistou o carinho dos portugueses com as suas regulares passagens pelo nosso país.
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Foi visível a presença de público que teria este colectivo como alvo preferencial. Os sing alongs foram vários: de "True Colours" a "Take Your Guilt" mas mesmo as mais recentes "Together" e "Stand My Ground" não baixaram o ritmo elevadíssimo que lhes valeu o reconhecimento como um dos melhores concertos do dia, mesmo sendo uma carta fora do baralho.

Ricardo "Congas", vocalista dos For The Glory e uma conhecida cara do underground nacional, demonstrou a proximidade que mantém com os holandeses subindo ao palco de uma forma incrivelmente explosiva.
O número de stage dives aumentou bastante, se bem que ainda longe da anarquia exagerada do que esperariam os headliners ; tentou-se um circle pit olímpico que, mesmo não concretizando o seu objectivo, bateu o recorde de maior diâmetro; dançou-se no bailarico do two step e vibrou-se com uma setlist que representou bem o que é o punk hardcore europeu.
Numa próxima paragem por Portugal haverão mais uns tantos fãs conquistados na Moita.
20 anos de carreira de uma banda jovem aliam a sabedoria da experiência com uma energia contagiante numa equação perfeita.

O último registo nacional a subir ao palco fora o dos Heavenwood. A banda, que dispensa apresentações, trouxe ao festival uma dose coesa entre temas chave da sua longa carreira como algumas mais recente retiradas de "The Tarot of The Bohemians" lançado no passado ano de 2016, como fora o caso de "The Juggler" e "The Empress".
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Não fora esquecido o histórico Diva, um dos grandes marcos do metal nacional, que não só estreou a discografia da banda como os catapultou para o hall of fame da música pesada no nosso país.

"Frithiof's Saga" espelhou bem a dimensão sonora de um álbum que deveria ser lembrado a par do serviço de prata de uns Moonspell. O gótico já fora o género mais honrado do metal nacional e não o fora somente pela internacionalização massiva da banda de Fernando Ribeiro.

Nunca é demais recordar que foram os Heavenwood os lusitanos pioneiros a pisarem o solo sagrado de Wacken em 1998 que, nesse mesmo ano, lançavam Swallow, do qual pudemos escutar "Rain of July" e que espelha bem a ideia de uns Paradise Lost portugueses.

O tom romântico e sombrio chocou em certa medida com a atitude in your face das bandas anteriores, cada uma com as suas características musicais distintas.
De qualquer forma, este tipo de metal mais emotivo não pecou na forma poderosa como fora distribuído pela multidão. Apenas mudou de forma. Mais elegante e trabalhada nos detalhes do que a maioria dos pares que fomos vendo ao longo do dia.

Os pensadores e filósofos da Grécia antiga debatiam-se em tentar definir o que é "belo". Criam que não dependeria de gosto pessoal, e nós metaleiros sabemos que nem tudo o que ouvimos encaixa neste vago conceito... chegaram então à conclusão que ronda em torno da ordem, simetria e proporção.
A música dos Heavenwood, até pode não ser do predilecto do leitor, mas é um belo exemplo de beleza metálica. É bom ver os Heavenwood de volta à ribalta.

Ao fim de quase dez horas depois de darmos entrada no recinto, subiram ao palco os Sodom.
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O headliner da noite era sem sombra de dúvidas a banda mais aguardada no Moita Metal Fest'17. A sua menor regularidade comparativa a qualquer outro dos nomes pertencentes aos Big 4 do thrash metal alemão muito contribuiu para tal.

Passara mais ou menos uma década, desde a última passagem pelo nosso país, e as saudades eram particularmente visíveis tanto no público dado ao thrash como ao que tem alguma dificuldade em digerir os novos capítulos da história da música pesada, canalizando energias na vangloria dos pioneiros.

Se Onslaught tinham devastado o antigo recinto, como possívelmente nem Entombed AD nem Tankard, dos gigantes teutónicos não se esperaria nada menos e de facto praticaram a máxima "no school like the old school".

Sempre de pata a fundo no acelerador, Tom Angelripper e companhia não pouparam os presentes durante mais de hora e meia de pura destruição veiculada por uma bateria frenética, uma guitarra que vale por duas e por um baixo que nas mãos do citado líder revelou-se artilharia pesada.

Sem haver um claro protagonismo em volta de Decision Day, álbum lançado em Agosto e bem recebido pela crítica, percorreram toda uma discografia, indo de encontro ao que todos esperavam: clássicos. Eles surgiram, uns atrás dos outros.

"In Retribution", um legítimo opener, seguido de "In War and Pieces" até podia indicar o contrário mas facilmente se percebeu que não...
Do velhinho EP Expurse of Sodomy, "Sodom and Lust" recordou-nos de que se 1986 fora o ano dourado do Thrash, 1987 fora um ano basilar na história dos sub-géneros mais extremos do metal aos quais são irrefutáveis as influências destes headliners.

A fórmula mais sombria e agressiva que adicionaram ao que se praticava do outro lado do oceano, juntamente com Kreator e Destruction, desenvolveu um cunho próprio e uma local scene reconhecível mundialmente.
Provenientes de sementes como Motörhead, Venom e Celtic Frost, floresceram e contribuíram para o desenvolvimento de muito Death e Black Metal que em finais dos anos 80/inícios dos 90 apanharam tudo e todos desprevenidos. Aliás, seguindo a cronologia podemos dizer que as coisas realmente escalaram muito rápido...

E se essa escalada fora positiva, a que assistimos já não fora tanto: a quantidade absurda de invasores de palco, dados a excessos escusados e que pouco abonam aos amantes do stage-dive, poderia ter resultado num concerto bem diferente do que acabamos por ter. Louvai-nos a paciência dos músicos.

Regras de senso comum não foram respeitadas, desde esbarrarem contra instrumentos, empurrarem violentamente outros fãs para fora do palco e até se ousou tirar selfies... tudo assistido por uma maioria perplexa que não se revia naquele espectáculo desnecessário. E nós, que bem gostamos de frisar os benefícios do espectáculo visual que o publico proporciona nos concertos, não fomos diferentes.

A vergonha alheia lá se ia dissipando ao som de "The Saw is the Law" com "Surfin' Bird" (que hoje em dia se reconhece não por The Thrashmen ou Ramones mas por Peter Griffin da série animada Family Guy), a mítica "Napalm in the Morning", o hino "Agent Orange", a electrizante "Stigmatize", a arrebatadora "Caligula", apenas para enumerar algumas que compuseram a melhor parcela do concerto.

Relembrou-se o (verdadeiro) rei do Rock'n'Roll, o monarca divino Lemmy Kilmister, ao som de Iron Fist. Em tom de curiosidade, fora este o tema da falsa partida na última passagem dos Motörhead por Portugal (mais uma no curriculum do Rock in Rio).

"Remember the Fallen" e "Ausgebombt" na despedida obrigou-nos a rodar Agent Orange nos dias seguintes...
Bernemann, não sendo membro fundador, é mesmo um elemento extremamente importante na forma como justifica toda a secção rítmica com apenas seis cordas e um par de cinco dedos com toque de Midas. Sem desdenhar na figura incontornável do baixista/vocalista, este fora o terço que melhor se sobressaiu na noite de Sábado.

A intensidade no mosh pit, o headbanging na periferia, o vazio nas áreas circundantes à tenda... este fora o concerto mais esperado e o vencedor desta edição de 2017. Não só por levarem os instrumentos inteiros de volta à estrada mas por poderem dizer sem pudor que os portugueses se entregaram de forma total, buscando energias onde já não existiam. Mesmo os momentos mais desnecessários não se conseguiram sobrepor ao grande momento de puro thrash, quer em palco como na plateia.

Certamente que não encontraram tamanha descarga na última passagem pois não teriam demorado tanto tempo a voltar se assim fosse.



O balanço final é claramente positivo e não poderíamos deixar de felicitar a organização pelo evidente esforço em elevar o Moita Metal Fest a um patamar indiscutível superior.



- Houve uma clara melhoria nas infraestruturas: tenda com a dimensão necessária (nem claustrofóbica nem susceptível de vazios desnecessários) onde para além do palco estavam várias bancas de merchandise e bares; o pórtico de entrada como zona de refeições e convívio era de facto algo que faltava e que traz grandes benefícios para quem queira desfrutar do festival na sua totalidade.

- O aumento do número de colaboradores quer no nível de atendimento como na segurança (muito subtil como se quer e de uma simpatia que merece ser referida) preveniu potenciais constrangimentos penosos. Nesse aspecto apenas em momentos pontuais se denotou uma sobrecarga na troca de senhas, algo facilmente combatido com a adição de mais um posto com a mesma finalidade.

- O número de casas de banho terá mesmo que ser revisto e esse será mesmo o único ponto realmente negativo e que certamente terá surgido como resultado de algum erro de logística.

- De valorizar mais uma vez os preços praticados, quer nas bebidas como nas refeições que apresentaram uma variedade nunca dantes vista nestas 13 edições. Tivemos saudades das famosas entremeadas com molho de coentros mas não ficamos mal servidos, do Porco no Espeto ao Choco Frito com direito a churros para a sobremesa.

- A evolução dos cartazes claramente serve de indicativo para frisar a forma como o Moita Metal Fest está a querer ir mais longe do que se assumir como simplesmente um festival de metal relevante na exposição do metal nacional. Quer se tornar, com toda a legitimidade, um dos maiores do género com nomes que justifiquem tamanha proposta. Sustentabilidade tem sido a palavra de ordem e os resultados são visíveis. O MMF é único pela tradição comunitária que lhes está inerente. Todos os que têm seguindo este crescimento vêem algo embrionário a ganhar forma e não há nada que nos orgulhe mais.

Para o ano há mais e a SFTD Radio lá estará!

REPORT 1º DIA | 2º DIA 



Texto: Tiago Queirós 
Fotos/Vídeos: Nuno Santos

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