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09/07/2015

[Report] Secret Lie @ Cineteatro João Mota, Sesimbra

Após uma passagem pelo Reino Unido, a tour 2015 dos Secret Lie fez paragem no Cineteatro Municipal João Mota (Sesimbra), na passada quinta-feira, 2 de julho, e não quisemos perder a oportunidade de abrir um pouco a caixa de Pandora e ouvir ao vivo alguns temas deste novo álbum, editado em abril pela Espanta-Espíritos. A banda protagonizou, assim, a primeira das Quintas sem Headphones, iniciativa da Câmara Municipal de Sesimbra, a decorrer durante este mês.
Depois do sucesso obtido com Behind the Truth (2012), os Secret Lie, com 3 anos de existência, apresentam já o seu segundo trabalho, uma compilação de 11 temas, dos quais apenas um não é original (l’Estate, Vivaldi) e que pretende confirmar as qualidades da banda, consolidar o lugar que têm vindo a conquistar no cenário da música nacional, e acelerar a internacionalização que já decorre a passos largos.

Pandora parece surgir não só como um trabalho de afirmação, mas também como o resultado do entendimento, cada vez mais perfeito, das potencialidades de todos os elementos da banda, sendo que cada um deles brilha no instrumento que toca. 
Também Sara Madeira brilha na sua especialidade, detentora de uma voz que, quanto a nós, surge agora num ambiente um pouco mais rockeiro, sem perder, no entanto, a delicadeza que a caracteriza. Se, no álbum anterior, foi I Can Be Free o tema que mais se destacou, deste segundo álbum, podemos dizer que vários foram os temas que nos ficaram no ouvido.
Sete artistas em palco que são, por si só, casa cheia por onde quer que passem, mesmo que a assistência não seja numerosa, como observámos no Cineteatro João Mota. Entre miúdos e graúdos, foram poucos mas bons pois, para além de estarem presentes numa noite de quinta-feira, não deixaram que o concerto terminasse à hora prevista e responderam a todas as solicitações da banda para acompanhar as músicas.

Foi o violinista Pedro Teixeira da Silva quem iniciou o concerto que viria a ser um verdadeiro deleite para ouvidos e olhos. A banda apresentou-se muito bem-disposta, revelando grande cumplicidade entre todos os elementos, como pudemos observar nas frequentes movimentações em palco, algumas em modo de brincadeira. Nenhum dos elementos se destaca e nenhum fica a perder, pois em todos os temas apresentados sente-se claramente a importância e o lugar de cada um deles. 

A setlist compôs-se de temas do novo Pandora mas incluiu também, como não podia deixar de ser, alguns temas do trabalho anterior, tais como I can be free (com acompanhamento do púbico) Blackout (na qual também brilha a voz do guitarrista Adelino Duarte), ou Love me until the end of time, entre outras. Tratou-se de um concerto cheio de bons momentos, pelo que se torna difícil escrever sobre todos eles. Selecionámos alguns, que gostaríamos de destacar.

Gostámos particularmente de Trying to reach (Pandora, 2015), que consideramos um tema muito completo, com espaço para todos os instrumentos brilharem, incluindo, está claro, os solos de Tó Pica e o arrepiante violino de Pedro Teixeira da Silva. Sentimos aqui o registo um pouco mais pesado, que muito nos agradou.

O single Black Butterflies não nos tinha impressionado no registo áudio, no entanto, ao vivo, adquire uma carga emotiva superior ao iniciar apenas com a voz de Sara e o bonito trabalho de Nuno Louro nas teclas, aos quais se foram adicionando os restantes instrumentos, até termos uma profusão harmoniosa de sons num conjunto com grande força, ao qual não foi alheio o peso das guitarras.

Somos suspeitos para nos referirmos ao tema That place, que se seguiu, por ser um dos nossos favoritos deste novo álbum. Não desiludiu na apresentação ao vivo e continuamos a considerá-lo uma melodia lindíssima, com uma letra muito bem conseguida.

Mais difícil é descrever o momento que se seguiu. Apenas com o violinista Pedro Teixeira da Silva e o guitarrista Tó Pica sentados à beira do palco, mesmo em frente ao público, irrompeu l’Estate, a versão de As quatro estações, de Vivaldi, capaz de arrepiar a raiz dos cabelos, ou não fosse a conjugação destes dois músicos algo de simplesmente admirável. Infelizmente, para saber mais, só assistindo.

E, após este momento, Sara Madeira regressou ao palco, deslumbrante, com uma longa capa iluminada e vestido mais longo, a substituir o anterior, curto e ao estilo ballerina. Foi assim que interpretou Love me until the end of time, do primeiro álbum, protagonizando um dos melhores momentos da noite.

Destacamos ainda, do álbum Pandora, Another chance, mais um tema apresentado com uma sonoridade um pouco mais pesada e, para terminar, Little taste of fun, no qual Pedro Teixeira da Silva apresentou os elementos da banda que deu, assim, por terminado o concerto.

Inconformado com o fim da atuação, o público pediu mais e a banda regressou ao palco, interpretando duas covers e, novamente, um dos singles do primeiro álbum, I can be free, com o qual se despediu, perante a assistência, em pé, a acompanhar o refrão e, por fim, a aplaudir.

Aberta a caixa de Pandora, os Secret Lie prosseguem a sua tour 2015, levando na bagagem um novo trabalho, feito por bons músicos, com bom gosto, e que trata o rock com excelência.

Texto: Sónia Sanches
Fotos: António Gaspar // Todas as fotos no nosso facebook (aqui)
Agradecimentos: Nuno Miguel Silva (Espanta-Espíritos)

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