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23/10/2018

[Report] Festival Bardoada e Ajcoi 2018 (segundo dia)

No segundo dia pudemos contar com mais um dia de Sol, muito calor, boa música e o acolhedor ambiente a que o Festival Bardoada & Ajcoi já nos habituou. Um dia com um pouco mais de gente também.


Cigarette Vagina, Challenge, Diabolical Mental State, Pântano, Hochiminh, Kandia, Grankapo, Serrabulho, Reality Slap, Simbiose, Bizarra Locomotiva 


Iniciam Cigarette Vagina, uma banda “filha da terra”. Como reflexo do dia anterior também neste dia o evento iniciou pontualmente à hora marcada. A banda que esteve até recentemente em hiato teve que limitar a sua performance devido a um problema com a voz de Ramiro Domingues pelo que o concerto foi dado apenas na vertente instrumental. Não obstante foi uma excelente prestação traduzida numa surpreendente e poderosa viagem sonora. 


Challenge encontra-se lamentavelmente a dar os últimos concertos por motivos de extinção da banda. A banda de Caldas da Rainha de hardcore presenteou-nos com uma excelente prestação com um Edgar Barros comunicativo, revivendo os anos de estrada e agradecendo as fantásticas experiências vivenciadas. Em jeito de improviso Rui Correia (aka Fuck de Grankapo) foi chamado para partilhar o palco numa cover de 7 Seconds, “Young Til I Die”.  Houve ainda oportunidade para dedicar um tema aos seus “companheiros de armas” Steal Your Crown, Reality Slap e Grankapo e o “agradecimento ao Emanuel Silva e à HELL XIS pelos três anos”.


Diabolical Mental State, que entraram em cartaz em substituição de Steal Your Crown devido a questões de saúde com o vocalista Diogo, voltaram às “lides” depois do que pareceu um longo hiato, já com novos temas a circular. Do novo álbum “Diabolical World” que está na “forja” pudemos ouvir “The Town”, “Children Of The Tides”, “Jungle” e “Home Invasion”, tema que foi dedicado à banda substituída. 
Pudemos ainda matar saudades dos temas mais antigos como “Long Way Down”, “Village”, “Warfare” e a especial para os fãs “Diabolical Crew”. A banda após o período de adaptação com a substituição de membros encontra-se com uma atuação consistente e musculada. Aguardamos ansiosamente pelo resto do trabalho!


Pântano foi também uma substituição de última hora, neste caso de Dalai Lume que se encontram em fase de restruturação. Apesar de ser uma banda recente a competência dos seus membros já é vastamente conhecida através de W.A.K.O., Subversive e Low Torque. A sua sonoridade conta com fortes influências do rock/sludge/stoner/grunge dos anos 80/90 e é cantado na nossa língua mãe. 
A banda subiu ao palco com grande motivação e garra, dispostos a mostrar todo o seu talento. Temas como “Inferno”, Semi-Alma”, ou “Cabrão Nefasto” mostraram a sua excelente qualidade, com um resiliente Nuno Rodrigues a motivar o público durante toda a atuação. No final todos estávamos rendidos!


De Beja viria de seguida Hochiminh que tem vindo a angariar cada vez mais fãs pela sua sonoridade única e poderosa. A banda que acabou de lançar novo EP “Ashes” (“mas que ainda não chegou”) manteve a qualidade e a boa-disposição a que já nos habituaram e foi-lhes impossível resistir. “Madness” abriu o circle pit que se seguiu com “Ashes”, “Alive”, “Liar”, a cover de Depeche Mode, “Enjoy The Silence”, “I Am” e “Way Of Retain”. 
Uma degustação musical de excelente nível que nos deixou com o “gostinho” de “quero mais”. Voltem sempre, compadres!


Kandia era sem dúvida uma das bandas que já todos sentíamos saudades de ver e ouvir: aquela sonoridade peculiar e cativante que nos encanta. Fortes e coesos como nunca, foi com um misto de entusiasmo e emoção que voltamos a ouvir a voz de Nya Cruz a entoar pelo recinto do Festival Bardoada & Ajcoi após quatro anos. “Alone” e “Grow up” foram sem dúvida os temas da noite e foi com pesar que vimos o seu setlist a ser abreviado devido a um atraso inicial causado por questões técnicas na ligação dos instrumentos. Tudo o que é bom…


Grankapo mesmo “desfalcados” de Miguel não permitiram que o nível do espectáculo ao qual já nos acostumaram diminuísse. O primeiro tema “Man Killing Man” deu logo origem a um movimento das “massas” que se manteve até ao fim. 
Apesar de alguns problemas com o som da guitarra, o clima foi de festa, ao qual Rui Correia não se cansou de referir. “Won’t Fall Down”, “We’ll Never Die” dedicado a Igor Azougado, ao festival e à HELL XIS, “Burn”, “Life Goes On” e “Grankapo” a finalizar provaram mais uma vez que esta banda continua a ser uma fonte inesgotável de energia e que o hardcore está bom e recomenda-se!


Mantendo o mote de festa, mas levando-o ao nível “surreal” seguiu-se Serrabulho. Carlos Guerra é talvez o frontman que menos tempo passa em palco e mais no pit, seja em mosh, crowdsurfing ou deslocando o publico em longos comboios humanos e neste festival não foi exceção.  “Pentilhoni Nu Culhoni”, “B.O.O.B.S” onde tivemos Sérgio Afonso ( Bleeding Display) “Public Hair In The Glasses”, “Quero Cagar E Não Posso” e “Caguei Na Betoneira” foram os temas que acompanharam o “bailarico” e fizeram desta uma noite memorável.


Reality Slap entraram cheios de pujança mostrando de que fibra eram feitos. Celebrando este ano os dez anos em que tocaram pela primeira vez, a banda foi alternando a sua atuação entre Necks & Ropes, My Brother Evil e Limitless onde tivemos oportunidade de ouvir “Madness”, “Re-Animator”, “Limitless”, “Liberate”, “Escapist” entre outros e terminado a atuação com “The End”. Uma performance sólida e coesa com o público a responder a altura. Mais um grande momento de harcore nacional!


A atuação de Simbiose será lembrada para sempre pela última atuação do “mestre” Sérgio Curto (aka Bifes). 
Seria impossível continuar a relatar este excelente festival sem lhe dedicar algum tempo e palavras, prestando assim a nossa homenagem e dirigindo o nosso pesar para a família, amigos e os que de alguma forma sentirão a sua falta. Afinal todos estamos unidos pela música e pelo espirito underground e foi um dos “nossos” que partiu.

O concerto foi marcado pela impetuosidade e rebelião em palco e na mensagem que passam, com um Jonhie determinado e incansável na comunicação e motivação do público que já começava a acusar o cansaço do segundo dia, mas que foi respondendo positivamente aos seus apelos. “Acabou A Crise, Começou A Miséria”, “Zoo Não Lógico” “Pointless Tests” e “Terrorismo De Estado” foram alguns dos temas debitados por esta banda que é já um nome irrefutável do punk/crust/grindcore português com um historial de 27 anos.
A organização do Festival Bardoada & Ajcoi posteriormente comunicou que seria sempre feita uma homenagem a partir da próxima edição ao Bifes. RESPECT!!



Não é à toa que Bizarra Locomotiva é escolhida tantas vezes para fechar um evento, pois tem a capacidade de ressuscitar e fazer encontrar uma réstia de energia em nós com a sua atuação exímia e implacável. 
Mesmo quando já acreditamos que não vamos conseguir é impossível ficar indiferente à explosão de energia que saí do palco “contaminando-nos” a todos. E assim a história se repetiu. Rui Sidónio entre o público e o público com Rui Sidónio em palco. Temas como “Cavalo Alado”, “Os Grifos De Deus” “Anjo Exilado” e  “Escaravelho” são cantados numa só voz numa sinergia única e inabalável entre todos. Não poderia ter terminado de melhor forma!


Mais uma vez o Festival Bardoada & Ajcoi não desiludiu. Dois dias de puro convívio e alegria com um cartaz excepcional. A atuação das bandas foi do mais alto nível e o cumprimento de horários algo a louvar num evento de dois dias e vinte e duas bandas onde muita coisa pode correr mal. Sem dúvida que o evento tem aprendido com as oportunidades de melhoria de anos anteriores aumentando o seu nível edição após edição. Independentemente das razões pela adesão ter ficado abaixo das expectativas, quem foi saiu de lá com a certeza de que para o ano voltaria!
E nós também!!


Texto: Margarida Salgado 
Fotos: Nuno Santos (todas no nosso FB, em actualização AQUI 1º DIA / 2º DIA)