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10/10/2022

[Report] Behemoth e Arch Enemy "European Siege Tour" | Coliseu dos Recreios Lisboa | 07.10.2022

Na passada noite de sexta, Lisboa abraçou mais um impressionante evento de metal extremo, a European Siege Tour. Estava uma atmosfera agradável naquela zona da baixa lisboeta com as portas do Coliseu dos Recreios a abrirem-se a uma hora (invulgarmente) precoce das 17:30h. para assistirmos às quatro bandas de metal que preenchiam o cartaz, lideradas pelos Behemoth e os Arch Enemy, e que prometia ser um grande espetáculo.

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Os Unto Others são os primeiros a subir ao palco, com um som carregado de entalhes envolventes, muitas dinâmicas interessantes e um fluxo musical muito fresco. O último número 'When Will God's Work Be Done' abre com umas guitarras cintilantes, um aroma gótico com traços de Sisters of Mercy, uma pitada de Mission, aqui e ali, com um som diminuto inicialmente e que crescia fortemente ao longo da música, mas sem perder a sua identidade. Tiveram, claro, uma calorosa e merecida receção por parte do público.




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Os lendários Carcass foram os seguintes a pisar o palco do Coliseu dos Recreios, agora já com uma plateia repleta de fãs ávidos por os ouvir. 'Buried Dreams' é a grande malha de abertura, com Jeff Walkers na voz, os habilidosos e intensos enchimentos de bateria de Daniel Wilding complementavam os ritmos sincopados do death metal. Os riffs e troca de solos nas guitarras do Bill Steer e James Blackford, davam uma tonalidade musical extra ao seu som e uma intensidade sempre constante durante o set.

Os primeiros crowd surfers são vistos a voar e a ultrapassar as barreiras, enquanto uma franja mais atenta dedicava-se a apreciar o que se passava em cima do palco. Quando todos se combinam (público e banda), criavam uma parede de som épica que ressoava em torno do recinto... que poder de som! Saíram sobre uma enorme ovação, entre aplausos e pedidos para mais umas malhas!
 

"Isto" estava mesmo bom!

A mudança habitual do palco dava tempo para visitarmos o stand do merchandise, uma ida aos lavabos ou ainda uma viagem até ao bar para refrescar as gargantas, com uma qualquer bebida... muito metálica!

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Uma tela branca subida ao longo do palco é o cenário inicial com Behemoth a tocar por trás, e quando as luzes se apagam e o ‘Post-God Nirvana' toca em alto e bom som, o rosto de Nergal está gigantesco e bem perto de nós durante esta peça de 3 minutos. O seu olhar distorcido é perverso à medida que agoniza o seu destino. Os púlpitos estão de pé, vazios, à espera da chegada de Nergal, Orion e Seth.


'Ora Pro Nubis Lucifer’ rompe do PA num som potente e a cortina cai, Nergal está em frente a saudar a sua congregação, a luz por trás é espantosa, em tons fortes de laranja e vermelho, Orion e Seth juntam-se a ele na frente aparentemente para sairem das chamas.

Os Behemoth são implacáveis com a pura ferocidade do seu som e imagem. Nergal dá a palestra com a sua voz gutural. É simplesmente espantoso, a meio da primeira música e está a desconstruir todas as conceções prévias do que é o Black Metal. E se pensas que o Black Metal Satânico é Ghost (risos) ou King Diamond, precisas ver e ouvir um espectáculo de Behemoth!

A figura teatralizada do personagem demoníaco num culto satânico, está bem representada. É quase hipnotizante!


"I am nothing, I am no one" é gritado no meio de cânticos que dão uma vibração sagrada e medieval.
É a introdução de 'Deathless Sun', do seu último lançamento "Opvs Contra Natvram". Os tambores trovejantes são incessantes e com uma amplificação pulverizante que se espalha pela sala. Orion tem uma imagem fria e ameaçadora, pois olha sem qualquer emoção ao redor da plateia.
Os canhões de fumo disparam quando Seth, Nergal e Orion arrancam um som sísmico mesmo antes dos cânticos e a oração feita por Nergal começarem.


As palavras são entregues com veneno, esmagadoras, negras e chocantes. Escrito por alguém que passou por tempos sombrios e encarou a morte na cara. A batalha de Nergal contra a Leucemia em 2010 é bem conhecida. Um olhar rápido sobre a multidão é revelador de que esta é uma congregação presa a cada rugido saído da garganta de Nergal.

‘Ov Fire and the Void’ do álbum de 2009 "Evangelion", ‘Thy Becoming Eternal’ do seu mais recente trabalho "Opvs Contra Naturam" e do álbum "Demigod” de 2004 'Conquer all', são os temas que se seguem. As luzes e o fumo continuam a dar a sensação de estarmos num lugar muito sombrio.
Geralmente fazem-se usar de muita pirotecnia nos seus espetáculos, mas infelizmente tivemos de nos contentar apenas com os canhões de fumo (igualmente eficazes), enquanto a iluminação laranja e vermelha fazia horas extraordinárias.


Em ‘Daimonos’, os harmónicos beliscados e guitarras ardentes dão-lhe um uivo demoníaco, é simplesmente fantástico. Este é o meu primeiro concerto de Behemoth e tenho de dizer que os anjos do inferno são hipnóticos. Eu estava rendido!
 
Entramos em ‘Bartzabel’, um dos temas preferidos dos fãs do álbum "I Loved You at Your Darkest" lançado em 2018. Os cânticos satânicos eram respondidos por Nergal na sua palestra, com mais um elaborado traje de sumo sacerdote. E logo de seguida a 'Off To War', 'No Sympathy for Fools' é apenas imenso e explode nas nossas cabeças deixando-nos atordoados enquanto a banda impulsiona o ritmo a uma velocidade vertiginosa à volta do palco.

 
"Blow Your Trumpets Gabriel", outro clássico do álbum "The Satanist", acrescenta à atmosfera intensa, com uma daquelas sequências onde o som continua sempre a crescer.



O 'Versvs Christvs' tem uma introdução verbal que arrepia o próprio ar. O batimento quase Doom Metal adapta-se à sensação de presságio criada pelas guitarras e o baixo de Orion. E Para encerrar a missa, 'Chant for Eschaton', do álbum "Satanica" de 2000, o palco fica vermelho e enquanto a música roda e a voz de Nergal parece perfeitamente sintonizada com as complexas corridas percussivas do som, no pit os crowd surfers deslizam nas ondas da multidão (espetáculo digno de se ver). E foi assim a performance apocalíptica de uma banda notável e completamente envolvente.


Novamente uma cortina levantada "PURE FUCKING METAL" é o que se lê, por trás está a trupe sueca dos Arch Enemy liderada pela deslumbrante Alissa White-Gluz enquanto se preparam para nos uma noite cheia de Melodic Death Metal.

Com um novo álbum lançado em Agosto deste ano "Deceivers", não foi uma surpresa que quando a cortina caiu, os Arch Enemy surgissem no meio do fumo e uma magnífica luz de palco para 'Deceiver Deceiver'. Alissa estava portentosa na voz enquanto os outros membro em formação balançavam sincronizados. Umas breves investidas à frente do palco voltando ao centro do palco para o colorido headbanging do cabelo azul de Alissa.

'War Eternal' do álbum homónimo de 2014 foi o segundo tema. As guitarras de Loomis e Amott são implacáveis. Alissa está excecional, enérgica e cativante, e claro, o público não fica indiferente à sua entrega, e muito menos como ela consegue ligar-se a a este.



O trabalho de Erlandsson na bateria é incansável à medida que entramos em 'Ravenous', do álbum "Wages of Sin" de 2001. As guitarras de Loomis e Amott causam estragos, o baixista Sharlee D'Angelo está em constante movimento no palco, e a sua enorme estrutura ao lado da Alissa, é como a sorte grande e a aproximação.

Mais dois temas se seguem do novo álbum 'In the Eye of The Storm' com riffs pesados e uma pedalada cadente, tem uma vibração Viking. Devo dizer que esta malha ao vivo chamou-me a atenção. "House of Mirrors", outra com uma introdução mais suave nas guitarras, que é rapidamente esmagada com o crescer da bateria e o grito penetrante de Alissa. BRUTAL!


O tema “My Apocalipse" recebe enormes aplausos da multidão, originalmente cantado por Angela Gossow e que alguns diriam que foi a melhor voz à frente dos Arch Enemy, foi brilhantemente interpretada por Alissa White-Gluz e foi muito bom ver faixas mais antigas serem tocadas na era Gluz, e a moça deu muito bem conta do recado. De regresso ao mais recente álbum 'The Watcher' é a próxima a rodar, uma forte e bem esgalhada malha que nos faz reter a respiração.

A próxima, é a poderosa 'The Eagle Flies Alone'. A introdução melódica gera suspense e Alissa contorce-se enquanto canta, entregando-se ao público que a segue a cada movimento.

Segue-se o 'Handshake with Hell', também do novo álbum. A voz de Alissa tem dupla personalidade, o growling a que estávamos habituados a ouvir e agora com uma voz bem clean e feminina. Surprise motherfuckers!


Logo de seguida 'Sunset Over the Empire' com a sua introdução de baixo, transforma-se num banquete de glória. Guitarras a relincharem, enquanto Alissa solta palavras moribundas.

Alissa, à frente do palco pergunta-nos se queremos uma malha mais rápida, e assim que o SIM foi dado, levamos com 'As The Pages Burn' a uma velocidade vertiginosa, parece uma canção de seis minutos espremida em quatro, surpreende-me que haja tempo para respirar enquanto esta trovoada é lançada.

E lá vêm os surfistas vem por cima da multidão durante este número, Alissa, agachada, aponta-os como forma de agradecimento ao serem escoltados para fora do fosso.

‘Snowbound' do “Wages of Sin” prossegue a investida. Este épico de 200, é novamente, de uma época anterior. Loomis toca melódicas notas antes de Amott se juntar a ele com um solo subtil, os dois tocam em plena harmonia e desfrutam do momento. O público gosta e aplaude enquanto os guitarristas seguram os seus instrumentos acima das suas cabeças como agradecimento.


‘Nemesis' do álbim de 2005 “Doomsday Machine" novamente com o relinchar de guitarra Bad Horsy do virtuoso guitarrista Steve Vai. As pausas melódicas dão a Alissa uma oportunidade de respirar antes que todo o inferno comece de novo, até que a música termine.

E os Arch Enemy terminam a sua prestação com uma viagem a 1996, com o tema 'Fields Of Desolation' do "Black Earth", e esta versão de Alissa é muito fiel ao original.

Foi assim o European Siege Tour, quatro bandas a proporcionarem-nos uma noite fantástica e que nos abriu o apetite para o que estava para vir... 😉

Texto : Mário Ruy Vasconcelos
Fotos : Joana Marçal Carriço 
Agradecimentos: Prime Artists

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