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07/11/2019

[Report] Lisboa em chamas: Moonspell, Rotting Christ e Silver Dust no Capitólio


O último trabalho dos Moonspell, “1755”, já anda em tour há 2 anos mas a sede dos fãs não parece ainda saciada. Naquela que será a última tour do mesmo, 50 alcateias europeias terão a oportunidade de vibrarem sobre este feitiço lunar tão lusitano.

A décima terceira data da presente tour teve a sua passagem no passado dia 5 de novembro por Lisboa, reunindo uma numerosa alcateia na sala Capitólio, para mais uma sessão de culto. Haveriam de ser, primeiro os helvéticos Silver Dust, e depois os helénicos Rotting Christ a dar inicio às celebrações da noite.

A renovada sala sala do Capitólio abriu portas às 19 horas em ponto e logo algumas dezenas de pessoas aproximaram-se do palco para receber os Silver Dust que dentro de pouco tempo subiriam a palco com toda a teatralidade usual nas suas actuações.


Ainda com a casa algo despida de gente, mas com um público muito receptivo que os recebeu com aplausos e que se mostrou sempre colaborante com a banda, mesmo quando esta ensaiou um momento à Slipknot pedindo para se sentarem e saltarem.

Com o mais recente trabalho "House 21" ainda relativamente fresco, deram especial destaque ao mesmo na set list, destacando se o single 'Forever' que captou as melhores reações da actuação que ainda contou com um belo momento "guitar hero" de Lord Campbell.

A sua música incorpora muitas influências, soando a muita coisa e talvez esse seja o seu maior defeito, música feita por músicos competentes, sem falhas assinaláveis mas sem momentos de particular destaque que incorporem memórias mais permanentes nos seus ouvintes. A teatralidade tem em palco um peso semelhante ao das suas composições acrescentando alguma dimensão ao espetáculo e que possivelmente contribuiu para que tenham feito mais alguns fãs naquela noite.


Já com a casa bem composta, era possível sentir uma crescente de ansiedade entre o tempo que separou o sound checking e o início de actuação dos veteranos gregos do black metal Rotting Christ


Iniciaram o culto com salmos negros de '666' que nos levaram por um momento de introspeção para de seguida elevarem o movimento dos corpos com 'dub-sag-ta-ke' e 'Fire, God and Fear'. De um modo até algo surpreende este tema foi juntamente com 'Dies Irae' as únicas apresentações de "Heretics", mais recente trabalho que viu a luz do dia no início deste ano.


Com nova formação, havia também expectativa para ver como os irmãos Tolis se encontravam entrosados com a nova formação. Apesar de existirem óbvios aspectos a serem limados o resultado geral é satisfatório e o grupo arrancou para mais uma grande actuação em solo nacional. Provocaram algum mosh, ensaiaram uma wall of death em ‘Societas Satanas’, fizeram os corações baterem na cadência da bateria em ‘Apage Satana’ e sucessivamente arrancaram aplausos e expressões de satisfação.

“Kata Ton Daimona Eaytoy “ foi o álbum que mereceu mais destaque mas como usual foi com ‘Non Serviam’ que terminaram saindo sobre aplausos e gritos pelos Rotting Christ.

Com a pontualidade que perdurou toda a noite, Fernando Ribeiro surge em palco de lanterna na mão para em nome do medo iniciar uma viagem até ao ano de 1755, na mesma cidade que os recebia e que tão bem conhece este trabalho e que apesar da representação cénica desta tour já ser conhecida da maioria da plateia, a mesma não deixa de causar impacto.


Profundos conhecedores de 1755 (cada sílaba é cantada a uma voz pela plateia), a sala ecoa com as vozes da alcateia seguindo a liderança do lobo alfa que de cima de palco entrega-se com a mesma intensidade que recebe dos seus fãs.

Se Fernando lidera, Ricardo Amorim encanta com a guitarra, haverá algo mais deliciosamente hipnótico que o som que emana da sua guitarra? Don Aires, Mike Gaspar e Pedro Paixão juntam a sua energia e competência e o feitiço completa-se e enclausura-nos debaixo do mesmo brilho lunar, atingi-se uma comunhão de quem se conhece há muito, público e banda.


E ainda estávamos no início, apenas ‘Em Nome Do Medo’, ‘1755’, ‘In Tremor Dei’ e ‘Desastre’ haviam sido tocados numa primeira viagem a 1755. 

Até ao final haveria mais uma overdose de ‘Opium’, surgiria um ‘Abysmo’ para nos recordar que já lá vão 20 anos de “Sin \ Pecado”. Seria uma ‘Night Eternal’ que percorria vários êxitos da sua vasta discografia e deixaria outros de fora porque mesmo a noite eterna tem de acabar, não sem antes voltar a destacar o último disco, com ‘Evento’, e já no encore com ‘Todos os Santos’ com direito a um belo momento cantado à capela no final e que comprovou a entrega dos presentes, presenteados com uma música extra que não constava na set list: ‘Ataegina’ colocou a sala aos saltos e instaurou um bailarico para os celebrar.


Para o final o hino aos Moonspell, o hino não oficial a Portugal já se tinha cantado antes com a ‘Alma Mater’. ‘Full Moon Madness’ encerrava a noite com chave de ouro e confirmava a grande forma da banda e a lealdade dos seus fãs que encheram o capitólio a uma terça-feira. 

A tour segue até meio de Dezembro, desbravando caminho por toda a Europa. Os Moonspell depois retornarão ao estúdio para que no próximo ano possamos naquela ou noutra sala da capital estar a degustar novos sabores deste feitiço lunar.


Texto: Henrique Duarte
Fotos: Joana Marçal Carriço (todas as fotos brevemente na nossa página)
Agradecimentos: Prime Artists