Fundado em 2010, o conjunto portuense Blame Zeus viu o seu primeiro trabalho “Identity” conhecer a luz do dia em 2014 e eclodir logo com impacto na cena nacional, somando elogios e certezas de serem um dos mais sólidos e capazes projetos nacionais.
As grandes prestações ao vivo do grupo liderado por Sandra Oliveira, cimentaram essa posição, confirmada com mais um grande trabalho em 2017 “Theory of Perception”. Passados nove anos da sua fundação, mais maduros, lançaram no passado dia 8 de novembro o álbum “Seethe” (pelos italianos Rockshots Records), que vieram no último sábado apresentar à capital, na sala do RCA Club.
Para baptizar este lançamento vieram os padrinhos Cinemuerte e os The Fuzz Dogz, conjuntos lisboetas também com trabalhos recentes para dar a conhecer ao público.
As honras de abrir as actuações da noite couberam ao duo de stoner blues rock, The Fuzz Dogz.
Músicos experimentados, Marco Resende e Pedro Gonçalves talvez não imaginassem que o destino os unisse para tocarem nos Stone Cold Lips e daí surgisse uma relação criativa cujo o fruto se chamaria “basement blues – pt.1”, álbum que levavam naquela noite a palco, num encontro entre os blues e o stoner rock prometendo conduzir a plateia numa viagem das terra húmidas do Mississippi às paisagens áridas que rodeiam Palm Desert City.
A dar ainda os primeiros passos neste projeto o duo encontra-se bem oleado, cozinhando os blues com algumas especiarias, onde a voz de Marco Resende encaixa com perfeição, moldada com naturalidade ao género, reforçada nos tempos certos pela mão de Pedro Gonçalves que de trás da bateria se faz também ouvir.
A casa muito despida que encontraram quando surgiram em palco, não os intimidara e com entrega foram dando uma pujante amostra da sua música, sempre correspondida com aplausos pelos presentes, particularmente em ‘Down The River’.
Fica a boa atuação e a certeza que mereciam um público mais madrugador.
Seguiam-se os Cinemuerte. Formados em 2002, têm sido uma banda de relevo na cena pelo menos desde o seu primeiro trabalho de originais “Born from Ashes” em 2006, ao qual se seguiram mais 3 trabalhos, o último dos quais, “Refúgio”, já no presente ano.
Só os mais distraídos não se lembraram dos singles ‘Stuck in a Moment’ ou ‘Air’ e da sua infusão de rock com música eletrónica, flutuando entre sonoridades quase pop e a ténue fronteira entre o rock e o metal, um equilíbrio atingido na voz de Sophia.
Iniciaram com a casa ligeiramente mais composta e com algumas dificuldades na voz que obrigou logo após o primeiro tema ‘One and Only’ a trocas no microfone, ainda assim pareceu que durante toda a atuação estivemos privados da melhor condições na voz de Sophia.
A set list principiou por dois temas do passado, o já referido e ‘underwater’, para se focar totalmente no mais recente trabalho. Destaque para ‘Me, Myself and I’ com os músicos a encarnaram a emotividade da música e produzindo algum efeito de contagio na plateia. Cerca 45 minutos de atuação que deixou de fora temas clássicos mas deu uma sólida amostra do seu som atual.
A noite era da banda que vinha da invicta e trazia na bagagem um álbum que tem acumulado elogios na crítica dentro e fora de portas. Foi por “Seethe” que os Blame Zeus começaram, entrando com peso e surpreendendo quem já os viu no passado e não contava com a presença de um novo elemento em palco, Beatriz Reis juntou-se nos backing vocals, nesta noite especial.
‘How To Successfully Implode’ implodiu na sala e provocou logo muitos headbangings, terminando com uma forte chuva de aplausos, confirmando a boa recepção a este último trabalho.
Mantendo o mesmo tom e a mesma ordem do álbum seguiram-se ‘Déjà Vu’ e ‘Down To Our Bones’ numa altura em que já era impossível fugir ao encanto da voz de Sandra Oliveira. Os seus vocais dominantes, criavam ambientes íntimos, emocionalmente profundos onde cabem todos os presentes, arrebatados também pelos riffs das guitarras, estruturados sobre o baixo e a cadencia da bateria, num caldeirão de emoções.
‘The Mouth’ surgiu como uma breve pausa ao álbum “Seethe”, antes de Sandra com as mãos tingidas de vermelho retornar de novo ao mais recente trabalho com a malha ‘Bloodstained Hands’.
‘The Obsession Lullaby ‘ apresenta-nos um solo apaixonante num momento que a voz cede espaço à guitarra e relembrar-nos como é elevada a qualidade dos músicos e das notas que brotam dos seus instrumentos, só mesmo uma voz especial pode ser tão hipnótica que por momentos parece calar os instrumentos e os remeter a segundo plano.
O trio que se seguiu ‘The Apprentice’, ‘No’ e ‘Speechless’ trouxeram o natural convite para as vozes da plateia se juntarem à de Sandra, correspondido como se esperava, 3 dos temas que mais se destacaram em cada um dos álbuns já editados dos Blame Zeus, estavam bem presentes entre os fãs.
Retornaram a “Seethe” que de “eargasm” em “eargasm” foi desfilando até ser tocado na integra, com tremendo profissionalismo e competência para satisfação do público. Até a queda de um prato da bateria em ‘White’ passou despercebida e foi rapidamente resolvido.
Findo o último trabalho, a banda ameaçou terminar por ali, mas os aplausos e gritos por Blame Zeus retornaram o grupo ao palco e no encore trouxeram as malhas ‘Falling of The Gods’ e ‘All Inside Your Head’,vividas com especial intensidade naquela que parecia uma última demonstração de força do seu encanto sobre a plateia.
Os muitos aplausos e a boa disposição vivida entre os fãs e o conjunto nortenho acabaram por fazer eclodir mais um tema, terminando assim a noite de celebração com o tema ‘Miles’.
Apesar de se movimentarem ainda num nicho do underground nacional e talvez ainda com pouca visibilidade dentro deste, mereciam ainda muito mais público naquela noite, os Blame Zeus demonstram um profissionalismo e uma capacidade criativa que os coloca muito longe de uma qualquer banda de garagem e que esperemos os conduza a um futuro risonho.
“Seethe” é um trabalho que fornece músicas para quem prefere o peso e para quem prefere a acalmia, perfeito para quem flutua entre os dois universos, uma sucessão de temas sólidos, bem produzidos, enriquecidos de pormenores técnicos e alicerçados na grande voz de Sandra Oliveira. Arrebatador, vivida em palco pleno de sentimento, um trabalho que sobrevive às expectativas como se viu naquela sala.
Texto: Henrique Duarte
Fotos: Ricardo Branco (todas as fotos AQUI)
HARD CLUB PORTO 09/NOV
Já tínhamos tido o privilégio de assistir em primeira mão à apresentação ao vivo de "Seethe", que ocorreu exactamente uma semana antes do concerto de Lisboa, numa extremamente bem composta Sala 2 do Hard Club, numa noite que contou com as prestações dos convidados Sugiru e Secret Chord.
Deixamos aqui as fotos (por Cristina Costa) e alguns vídeos dessa formidável noite:
Vídeo: BLAME ZEUS - White
Vídeo: BLAME ZEUS - Into The Womb
Vídeo: BLAME ZEUS - The Warden
Vídeo: SECRTE CHORD - Set The Fire Starter Ablaze
PRÓXIMAS DATAS
A apresentação de "Seethe" segue até ao Algarve, para um concerto na ARCM de Faro, dia 30 de Novembro com os Inner Blast e Glasya.
Sabe tudo no evento AQUI
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Em Dezembro os Blame Zeus seguem até Espanha, na boa companhia dos The Fuzz Dogz, para uma dupla data em Salamanca e Madrid:
20/ DEZ
Villares De La Reina, Castela e Leão, Espanha
21/ DEZ
Coslada, Comunidade autónoma de Madrid, Espanha