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09/07/2019

[Report] A noite mágica dos TOOL em Lisboa

Foto: Jorge Pereira | Imagem do Som
Treze anos... foi o tempo que passou desde a última vez que os TOOL deram um concerto (pelo menos na Europa). Treze! Longos! Anos! Durante treze anos o mundo sofreu várias mudanças. Trump aconteceu, Brexit aconteceu, o buraco na camada de ozono está a diminuir e Portugal até ganhou um Campeonato da Europa de Futebol. 
Bem, posto isto, será justo dizer que nem tudo foi mau na ausência do TOOL. Nesta noite, mesmo que por apenas duas horas, tudo o que se passava no exterior do Altice Arena era irrelevante, e a única coisa que importava eram os quatro génios que tocavam algumas das melhores músicas já criadas. O universo uniu todos os elementos para colocar tudo do jeito que deveria ser.

Após a intro de ‘Third Eye’ "Hey, hey, hey, hey" irrompe num palco escuro. O riff intermitente de Adam Jones num tom de guitarra que é pulsante e angular ao mesmo tempo. Num ápice, Justin Chancellor no baixo e Danny Carey na bateria preenchem o som com seus intrincados ritmos e Ænema começa com uma força brutal. É estonteante a forma de abrir o gig à medida que da escuridão irrompe numa enxurrada de cores caleidoscópicas, com tons índigo e púrpura dançando ao redor da enorme e há muito esgotada arena. O acompanhamento visual que adorna as telas colossais que criam o cenário é psicadélico e arrebatador, imagens vívidas e horripilantes que se movem intencionalmente ao ritmo da música... Fascinante!
Foto: Jorge Pereira | Imagem do Som
TOOL em si são artistas atípicos. Não investem em redor do palco como típicos deuses do rock, nem se envolvem muito com o público. Em vez disso, mantêm-se atrás de nuvens de fumo e das telas translúcidas que caem na frente do palco, como no começo de ‘The Pot’ permanecendo obscurecidos em silhuetas na maioria do set. Maynard em particular, fica ao lado da bateria na escuridão, escondido dos holofotes, algo que é justo dizer que nenhum outro frontman faria.
Não há “pavão” na presença discreta de TOOL em palco, eles são o lirismo melancólico da música da fala.

Foto: Jorge Pereira | Imagem do Som
À medida que o set avança pelos clássicos, chegamos ao que todos esperávamos desde 2006: os novos temas ‘Descending’ e ‘Invincible’, ambos soam como uma continuação de TOOL no som aventureiro alcançado em 10.000 Days, à medida que se elevam ao longo de vários minutos num crescendo feliz e catártico. A cadência das músicas é introspetiva enquanto a voz suave de Keenan sussurra harmoniosas melodias. Carey prova porque é indiscutivelmente dos melhores bateristas do planeta. O talento de Carey nestas duas músicas é inigualável no rol de composições de TOOL, com exceção de ‘Ticks and Leeches’ de Lateralus. Treze temas longos, que parecem curtos, pois voaram antes que tivéssemos a oportunidade de beber tudo.

Foto: Jorge Pereira | Imagem do Som
Quando o final do set se aproxima, um jogo de lasers dispara para o alto das vigas do pavilhão projetando um suave céu noturno sobre o público voraz. Com ‘Stinkfist’ vemos um magnífico espetáculo a terminar exactamente como havia começado; espetacular. A explosão de cores foi o equilíbrio delicado de imagens vívidas usadas para criar um panorama tão dinâmico e ágil, enquanto obviamente a musicalidade incomparável trouxe tudo à vida. Independentemente da natureza da música aparentemente impenetrável, o público permaneceu hipnotizado pela grandiosidade de TOOL, e cada sentimento iluminado por uma possante carga emocional, mesmo que apenas por um momento.

Foto: Jorge Pereira | Imagem do Som
Foi tão bom ver Maynard James Keenan, Adam Jones, Danny Carey e Justin Chancellor sendo apenas pacientes com a progressão das músicas, o que manteve o público aproximadamente duas horas sem arredar pé do seu lugar.

Texto: Mário Vasconcelos
Agradecimento especial ao Jorge Pereira e Imagem do Som pela cedência das fotos. Podem encontrá-las na galeria original AQUI