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12/03/2019

[Report] INHUMAN "XX anos de Foreshadow" com HEAVENWOOD em Lisboa (RCA Club)


9 de Março de 2019. Noite de revivalismo e nostalgia: dois dos mais consagrados nomes da cena gótica do metal nacional reunidos em Lisboa para celebrarem os vinte anos do álbum "Foreshadow", segundo álbum dos algarvios Inhuman, um trabalho intemporal que envelhece repleto de força e criatividade, mantendo-se como um dos trabalhos com lugar no panteão da cena nacional. 
Para apadrinhar a festa, os míticos Heavenwood desceram da invicta até a capital aproveitando para apresentar o seu novo lineup. Foi com pontualidade que os algarvios Inhuman voltaram a pisar os palcos lisboetas, fazendo ecoar a emotividade do seu metal gótico ainda perante uma sala algo despida. A intro, como o menear dos sinos de uma igreja, chama o público para o interior e a sala vai se compondo com a chegada de mais acólitos.
 
A abrasividade emotiva dos riffs entusiasmaram os presentes, que como era previsível foram recebendo o álbum que se celebrava, Foreshadow, com entusiasmo e nostalgia. As mãos que aplaudiam a banda após o término de cada música, em muitos dos casos são as mesmas, agora mais enrugadas, que os aplaudiam em 1998 quando Foreshadow ainda criança se tornava um marco na cena nacional. 
Há uma geração que precisa de o descobrir e talvez isso explique não terem alcançado a merecida lotação esgotada no RCA Club.

Foreshadow foi servido à plateia através de temas como ‘The Scars At Your Heart’, ou um muito reativo ‘Mansized Heaven’. ‘Divinity’,’A Blessing in Disguise’, fizeram com que uma névoa de emotividade se apoderasse da casa e se encontrasse dominante em ‘Crystal’ e ‘Stigma’.


Não se reduziram ao Foreshadow, havia ainda tempo para se ouvir ‘My Blackest Daylight’ do álbum Strange Desire, a constatação da presença de fãs de longa data podia ser verificada pelas vozes que dos vários cantos da sala se faziam ouvir pedindo temas do passado, mas a banda tinha uma surpresa reservada, ‘Por Entre As Sombras’, um tema novo que apresentaram, cantado na língua de Camões, que com um peso contagiante alcançou uma boa recepção.

A terminar, regresso às origens com ‘Eternal Martyr’ da demo Pure Redemption, acompanhada com aplausos pela plateia. Apesar de ser evidente o momento de menor atividade e a natural falta de ritmo/entrosamento em palco, foi uma salutar actuação que esperamos ver retornar a Lisboa brevemente e é com ansiosa curiosidade que aguardamos por novos trabalhos agora que ‘Por Entre As Sombras’ nos aguçou o apetite.


Perto da meia-noite era a vez de um nome incontornável do metal gótico português descer da invicta e se apresentar em palco com um line up renovado, Bruno Silva (de regresso) e Daniel Cardoso assumem agora o baixo e a bateria, numa presença em palco menos cénica do que num passado próximo mas com a máquina bem oleada como se veria a verificar.

 
De um modo talvez um pouco inesperado, presentearam os presentes com uma muito aclamada viagem ao ano de 1998, ao álbum Swallow, contemporâneo de Foreshadow dos Inhuman, abrindo a setlist com os 4 primeiros temas do mesmo. Executados na perfeição, fazendo logo de ínicio os corpos serpentearem no embalo daqueles riffs bem conhecidos e da harmoniosa combinação das vozes, erguendo-se um coro de aplausos destinados a galvanizar também da banda em palco.

Se ‘Heartquake’ deu o mote, ‘Soulsister’ confirmou que não iriam existir corpos imunes ao feitiço da música, ‘Rain of July’ colocou a plateia a cantar em plenos pulmões, ‘Suicidal Letters’ encerrava Swallow perante as hostes salivantes. De Redemption o obrigatório ‘13th Moon’, antes de ‘The Empress’ do último The Tarot of the Bohemians - Pt.I conquistar todos os presentes.

Na reta final era tempo de levantar o véu ao próximo trabalho, a carta escolhida para um espreitadela à segunda parte do The Tarot of the Bohemians foi ‘The Lightning-struck Tower’ , merecendo honras de uma floresta de braços no ar e um perfeito headbanging sincronizado, celebrando o virtuosismo que escorria das guitarras.

Uma curta saída e retornam para findar com a mais longa viagem do concerto, ao álbum Diva com ‘Frithiof's Saga’, saindo de seguida de palco desta feita para não mais regressarem, isto apesar dos fãs que não arredaram pé, exigindo o retorno dos mesmos a palco. Uma enorme atuação que pecava por muito curta, não chegando para matar a sede dos fãs que se deslocaram ao RCA Club.

Vinte anos de história revisitados com nostalgia e satisfação e um promissor deslumbre do futuro, até novo encontro. Ficam as memórias, quem sabe se daqui a vinte anos não estaremos novamente numa noite de inverno junto daquelas portas ou de outras a acrescentar memorias e a reviver estas, a fazer parte da história que se escreve sobre os álbuns lançados, a música tocada e o público que ouve. Os resistentes que fazem o metal em Portugal.

 
Texto: Henrique Duarte
Fotos: Nuno Santos (todas as fotos AQUI)
Agradecimentos: Notredame Productions