Começaram os jingles de Natal, e as iluminações parecem estar de volta a Lisboa, no entanto a primeira prenda foi aberta no passado dia 2 de Dezembro, pelo menos para os alfacinhas dedicados ao mundo do punk hardcore. Do Porto vinham noticias de uma grande noite passada no Hard Club, o que fez salivar a multidão que ansiava estar frente a frente com os Agnostic Front.
Coube aos Backflip a honra de abrir uma noite à muito aguardada pelos presentes na sala. Como prometido pela organização o horário fora cumprido, e pela casa já bem composta podia-se afirmar que o chamamento fora correspondido: o público não ficou para trás no apoio ao que é nosso. Inês Oliveira assumiu o papel de líder, deitou por baixo clichés e assumiu uma presença em palco de relevo. É claro e evidente que o curriculum está a demonstrar frutos, e abrir para bandas como No Turning Back e Dog Eat Dog não são de todo eventos pontuais, são provas de um trabalho que faz desta uma banda a ter em conta de futuro.
«Corações ao Alto» resume bem um concerto que deu uma promoção bastante positiva para a banda, onde «Acrossed Cross Fire», sem João Cabeças dos Lisboetas Shape, também fez vibrar o público que parecia aumentar a pouco e pouco.
Para a memória fica a presença de Fuck em palco, o carismático vocalista dos Grankapo, que se juntou aos Backflip em «Jollyride», tema que têm vindo a fazer furor na promoção do álbum homónimo.
Grankapo, são uma instituição do Hardcore nacional, e é algo incontornável em qualquer report que se faça sobre um concerto da banda. A experiência fala mais alto. São eficazes no alinhamento apresentado, o que delicia sempre os fãs da banda. «My Son» e «We Will Never Die» serão sempre temas fortes, mas temas como «Fuck You» representam o nível devastador que conseguem alcançar nos seus concertos. Não é um mero acaso que têm a honra que fazer parte desta mini-tour europeia com os headliners da noite.
Os Agnostic Front são um nome incontornável na história do punk-hardcore e um dos pilares basilares da cena nova-iorquina. São lendas imprescindíveis na formação individual deste público, que re-afirmo, ser bastante próprio.
A seu favor têm a capacidade de criar temas propícios a sing-alongs constantes, que somando a pormenores retirados do punk rock, conseguem injectar níveis de adrenalina contagiantes. No entanto, a sua aposta criativa a certo ponto demonstra uma espécie de crossover embebido em riffs que fizeram do thrash uma espécie de culto nos finais da década de 80. Alia-se a velocidade ao peso.
Apesar de serem presença regular em grandes festivais dedicados a sonoridades alternativas, onde o peso esmaga a moda (nós por cá não temos muito disso...), é visível que o seu habitat natural é mesmo este tipo de sala (República da Musíca) onde claramente jogam em casa, independentemente da cidade ou do país. O próprio imaginário do conjunto em palco remete-os para espaços como o eterno CBGB, Meca para todos aqueles que respiram e transpiram Punk / Hardcore.
Ainda o soundcheck decorria e já se sentia no ar aquela energia que antecede os grandes concertos. Os olhares, mais ou menos subtis, inevitavelmente tinham o seu foco no mítico guitarrista Vinnie Stigma que também se prende, por razões óbvias a outro colosso do hardcore de NY, os Madball.
A introdução épica deu lugar a uma entrada pujante munida de «The Eliminator», onde o vocalista Roger Miret consegue, num ápice, acabar com a calmaria dando lugar à tormenta.
Escusado será dizer que do primeiro ao ultimo minuto o mosh e o stage-diving foram uma constante, aumentando de ritmo a cada pedido de circle-pit proposto pela banda. Mais uma vez estes serviram de barómetro para os níveis de entusiasmo e satisfação da multidão presente. Garanto que estavam bem altos.
«Dead to Me» e «My Life My Way», dos dois últimos álbuns foram debitadas a bom timing, numa setlist que prometia clássicos. A nova era tecnológica permite que o conhecimento de temas, menos óbvios porventura, não baixe o nível do tal barómetro. Até podem não ser clássicos incontestáveis, nem nunca o vir a ser, mas foram aplaudidos de igual forma sem soar a saudosismos forçados.
Previsivelmente seria um dos picos da noite, mas não deixa de ser arrepiante o coro montado em «For My Family», que apesar de também ser retirado de Warriors, é já incontornável.
Seguiram-se temas mais antigos como «Friend or Foe» assim como «Victim in Pain» tiradas do baú de memórias reavivando a memória para as verdadeiras raízes dos Agnostic Front que desde os anos 80 são o que são.
«Crucified» retomou a união do público mais old-school com a nova geração em mais um sing along memorável. Sem dúvida outro dos picos, de uma noite já memorável até este ponto.
Seguiu-se o momento, arrisco, que mais expectativa criava : " to the East coast... to the West coast..."
De palco invadido e com a segurança, dentro e fora de palco, posta em causa em prol da loucura generalizada, «Gotta Go» prova ser um hino multi-geracional! O caos é recebido de sorriso nos lábios em todos os presentes que aguardavam este momento de forma a descarregar a lírica orelhuda.
Os termómetros presentes pela cidade contrastavam com o micro-clima criado naquela sala. Ali suava-se num verão tropical onde os niveis de humidade era proporcionais ao belíssimo concerto em palco.
É claro que deveria fazer referencia às guitarras desafinadas e em pequenos pormenores técnicos que muitos treinadores de bancada gostam de fazer referencia em textos deste género, mas no fundo no fundo, e perdoem-me o estrangeirismo: who cares?! Quando o entusiasmo supera isso tudo o ouvido molda-se!
«A Mi Manera» respondeu ao pedido, algo estranho, para a banda falar em espanhol. Ainda não percebi bem objectivo, e a banda pareceu-me estar no mesmo barco. De qualquer forma, um tema que busca mais de um metalcore que vamos estando habituados no circuito nacional e que parece continuar a cair bem ao vivo.
Mike Gallo, com t-shirt dos Grankapo, parece irradiar simpatia e de forma bem disposta anuncia o «termino» do concerto com «Addicted», deixando bem claro que o encore estava para vir e que pelos sorrisos em palco, os portugueses receberam-nos da melhor forma possível e a gratidão era mais do que visível.
O pequeno intervalo deu tempo para repor energias. Havia um clássico para relembrar. Segundo os próprios Agnostic Front, um tema da maior banda de Punk de sempre. «Blitzkrieg Bop» acaba da melhor forma uma noite onde o "Hey Ho! Let's Go!" soube a cereja no topo do bolo. Nem no último concerto do Marky Ramone, num daqueles festivais onde há mais t-shirts de Ramones no palco principal do que frente ao palco de um verdadeiro Ramone, se sentiu a satisfação de tamanho pedaço de história resumido num refrão.
Mais uma vez a Hell Xis conseguiu proporcionar um bom espectáculo assim como promover a música feita no nosso país abrindo fronteiras, por vezes complicadas à internacionalização destas bandas. Grankapo seguiram viagem com os Agnostic Front e isso orgulha-nos bastante.
Uma noite que certamente ficará na memória, mesmo na recta final do ano, como um dos melhores concertos de 2013.
Texto, fotos e vídeos: Tiago Queirós
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Vídeos (lista com 11, dos canais YouTube SFTD e OnMyWay2Route666):