Quis o destino que o LineUp Bar em Alcântara assistisse de perto a este quarteto de trovadores que transpiraram rythm and blues por todo o lado… O Ritz Clube mais uma vez «fechou para obras» subitamente, e esta foi a solução de última hora. Um espaço bem mais reduzido mas por sua vez mais familiar, decorado a preceito: estávamos numa casa de rock.
A Restless tour, com apenas três datas, passou pela capital na passada quinta-feira, dia 2, numa noite que muitos se recordarão pelo feito benfiquista, de chegar à sua nona final europeia de futebol. Desconheço as cores clubísticas dos mestres de cerimónia, mas a verdade é que de forma algo previsível, se deu uma abébia ao público encarnado de chegar um pouco mais tarde (para passar pelo Marquês possivelmente).
À porta já se juntavam algumas pessoas quando a carrinha da tour chegava. Não havia espaço para dúvida face aos autocolantes bem visíveis . A Restless tour estava pronta para arrancar em Lisboa, 200 km e algumas horas depois de ter iniciado na cidade de estudantes e doutores.
Sam Alone |
Fast Eddie Nelson |
The Fellow Man |
The Fellow Man, Bruno Simão, veio carregado de acordes simplistas e foi responsável pelos momentos mais bonitos da noite. Num registo mais calmo e sentido, partilhou-se temas escritos para a sua filha («Baby Girl»), Carolina, em que a entrega e o brilho no olhar apenas poderá ser compreendido a 100% por quem saiba o que é poder afirmar com toda a certeza « (...) you are the sweetest thing in my life(…)». Pessoalmente, posso afirmar que fiquei com vontade de pegar na guitarra e debitar acordes para o meu príncipe… ( a paternidade tem desta coisas!)
Do mesmo EP «Of All the People», partilharam-se desgostos e corações partidos em «Own Way» com direito a alguns isqueiros… e que saudades dos isqueiros! Os telemóveis simplesmente não são a mesma coisa.
«Deliver Me» apela à união e é sem dúvida um single radiofónico e orelhudo. Um tema que descreve muito do que é o The Fellowman ( « (…) wish my best to the fellow man (..)») !
ainda houve tempo para dedicar um tema à rapariga mais bonita presente na sala ( nas palavras do próprio) - «Home to Me» fez certamente corar alguém. Aos restantes encheu o coração.
Dispensando apresentações, Poli com a sua working class rifle, não se distinguiu como um frontman assumido, como nos Devil in Me, e foi senhor de uma humildade suficiente para não ser o centro das atenções. O palco foi destes quatro senhores, e ninguém roubou protagonismo a ninguém – isto é um colectivo; isto é trabalhar em equipa.
No entanto, foi visível que o projecto Sam Alone é já bem conhecido na audiência e temas como «Youth in the Dark» e «Warm» foram cantados em coro, comprovando que o último álbum não agrada apenas a crítica.
Num registo que vai buscar muito de Johnny Cash e de Bruce Springsteen, sozinho em palco, partilhou momentos pessoais ( como a sua fuga adolescente em «January») e algum do discurso irreverente ao qual já nos habituou ao longo dos anos. O single mais recente «Little World» tem The Boss escrito por todo o lado. Repare-se que é um aspecto muito positivo! Um tema cheio de garra e mais ambicioso e menos minimalista que os restantes mas sempre com uma simplicidade.
Roy Duke |
Um dos momentos da noite vai para a inclusão algo inesperada de Andrew dos Comeback Kid, que iriam tocar na Républica da Música no fim-de-semana.
Sam Alone inevitavelmente fez ganhar a noite a muita gente pelo sentimento da familiaridade com os temas, mas o multifacetado vocalista não se encostou, deu um show de guitarra, harmónica e fez-me crer no termo Banjo-hero!
Quatro profissionais, amigos, cúmplices. A tocarem as músicas uns dos outros, partilharem palco, estrada e experiências. Quando as coisas assim são, é inevitável transparecer isso para o público. Naquele salão assistiu-se a um Poker de Ases.
Fotos : Kitty Kat Kustom Art (a quem muito agradecemos a cedência das imagens)
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