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17/12/2018

[Report] Daniel Cavanagh (Anathema) em Lisboa

No palco do RCA Club apenas se visualizava uma guitarra e um tripé. Poderíamos pensar que se iria tratar de um concerto algo despido ou vazio musicalmente, mas enganámos-nos redondamente.

Pouco passava das 21h30 da passada sexta feira, 14 de Dezembro, quando Daniel Cavanagh, um dos mentores e fundadores dos Anathema subiu ao palco, para desassombradamente despir muitas das músicas que escreveu ao longo dos anos, e com um à-vontade natural de quem já faz este tipo de concertos há alguns anos, cativando de imediato a plateia, já bem composta por essa altura, com a sua simplicidade e excelente humor. 

Relembramos ainda com saudade a vez que passou pelo Musicbox em Lisboa, com o seu irmão e colega de banda Vincent Cavanagh, pelo que a expectativa de ver recriado o mesmo tipo de ambiente era grande, se bem que mais moderadas devido a apenas contarmos com um único intérprete em palco.

Mas este não é um artista qualquer. Mestre de cerimónias e grande entertainer, Daniel quebrou imediatamente o gelo (que nem chegou a haver, devido à pré-disposição da plateia para participar activamente neste comemoração musical) arrancando a actuação com uma das canções do último álbum da banda de Liverpool, "Springfield", ganhando logo os coros, imediatamente a seguir, na belíssima "Untouchable, Part 2".

Desassombrado, encarou o concerto como uma reunião de amigos, em que qualquer lapso ou correção feita eram denunciados pelo próprio e alvos de uma risada geral.

Aliás o bom humor foi uma constante ao longo da prestação, na qual a luta passava por ir programando in loco as várias camadas de guitarra na sua caixinha mágica (ou looper pedal, para os músicos), e por atingir as várias notas vocais que as músicas de Anathema exigem, sendo que por algumas vezes referiu que não era Vincent (o vocalista principal da banda, a par de Lee Douglas), puxando mais algumas gargalhadas. 

Após desfilar mais alguns clássicos da banda, cantados sempre em uníssono pela plateia como "Fragile Dreams" ou "Are You There", surpreendeu-nos com uma intimista e bem sacada cover de "Running Up That Hill", original de Kate Bush e também de "Another Brick In The Wall" (escusado dizer de quem), onde mais uma vez gerou umas risadas no início quando parou e retomou de início dizendo que estava uma bela "shit".
Várias vezes também se referiu a Daniel Cardoso, o membro português da banda, que acabou por não participar no concerto, mas que foi tema para mais algumas histórias de fundo contadas ao público.

A hora de puxar dos lenços de papel chegou logo a seguir quando interpretou "One Last Goodbye", cantada em sussurro fúnebre por (quase?) todos. De seguida tocou finalmente uma música do seu trabalho a solo "The Exorcist", claramente menos reconhecida pela plateia, que se limitou a absorver, sem a participação ocorrida em quase todas as outras músicas.
Para um fim, e depois de uma enérgica cover de "Paranoid Android" dos Radiohead, onde a guitarra acústica serviu de eléctrica (!), retomou temas de Anathema e, em mais um momento de humor a gozar consigo próprio, criticou usar muitas vezes as mesmas palavras nas letras, quando começou a cantar "and I feel..." no início da "Untouchable, Part 1", que desculpou com a autenticidade dos sentimentos que queria transmitir. Vai tentar ter uma lista de palavras a não usar novamente no futuro, referiu.

A noite mágica que nos proporcionou, e que deixou todos com um sorriso de satisfação na cara, acabou talvez demasiado depressa (duvido que alguém quisesse que acabasse) com mais uma cover de Pink Floyd, "High Hopes"

De lá saímos com a satisfação de uma noite de plenitude musical, boa disposição e com a certeza de ter sido mais uma daqueles momentos exclusivos a guardar por muitos e bons anos na memória. Esperamos no entanto avidamente pelo regresso da banda completa, o quanto antes!


Texto e fotos: Nuno Santos (todas as fotos AQUI)
Agradecimentos: Prime Artists

Vídeo do FB de Sabena Costa:

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